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Um ano e meio bastou para que a marca de Joana Duarte conquistasse um lugar cativo no calendário da ModaLisboa e, de certa forma, num grupo de jovens criadores que pode facilmente ser rotulado como nova e relevante geração. "Liberdade é nome de mulher" foi a colecção apresentada no Capitólio, esta sexta-feira, ao início da noite. Com ela, a designer natural de Santarém fez desfilar as vivências de 15 pessoas, homens e (sobretudo) mulheres que desafiaram o ser, o estar e o vestir no feminino ainda durante a ditadura.
"Começou por ser algo muito focado no 25 de Abril e nas militantes da altura, mas apercebi-me de que existiam bolhas diferentes e de que o regime foi vivido de formas muito diferentes. Isso levou-me a reflectir muito mais sobre o papel da mulher nessa altura e, em particular, nas mulheres ligadas às artes que, nessa altura, criaram alguma disrupção", explica a criadora à Time Out. Testemunhos transpostos para fatos de duas peças, bocas de sino, franjas e bordados.
![Béhen, ModaLisboa](https://media.timeout.com/images/105822501/image.jpg)
A colecção fez-se no terreno, ouvindo e conversando com figuras de proa da cultura e das artes em Portugal. Simone de Oliveira, Maria João Seixas, Helena Vieira, Margarida Tengarrinha e Ana Vidigal, entre muitas outras, partilharam as suas histórias sobre hábitos e sobre os próprios guarda-roupas numa década quente como foi a de 70. "Cada coordenado do desfile representa um conceito. A colecção não é um conjunto de representações dos looks da altura, são uma construção minha com base nos gostos e na história de cada pessoa", continua Joana.
Uma Ana Vidigal de calças de ganga ou uma Simone de Oliveira de blazer foram silhuetas incontornáveis, logo referências directas no desfile desta sexta-feira. A base é a que a Béhen tem vindo a trabalhar desde o primeiro dia: colchas antigas, no Verão de 2022 com especial foco nas de algodão, bordado Madeira e uma nova incursão pelo bordado de Viana do Castelo, esse sim feito de raiz sobre as peças. Fatos de duas peças, casacos ao estilo afegão e ombros evidenciados resultaram numa glamorização da silhueta.
![Moodboard da colecção "Liberdade é nome de mulher"](https://media.timeout.com/images/105822478/image.jpg)
Mas nem só de vozes femininas é feito este coro. Joana reuniu ainda testemunhos de Filipe La Féria, de Carlos Avilez e de António da Cunha Telles, "homens que directa ou indirectamente contribuíram para a libertação feminina". A Casa do Artista foi uma espécie de braço direito na hora de estabelecer contacto com as 15 personalidades que inspiraram a colecção do próximo Verão, embora nem todas tenham visto as luzes da ribalta. "Uma tia minha afastada tinha o sonho de ser cantora mas a família não deixou. Escolhi-a por representar tantas raparigas da altura que não seguiram uma carreira por falta de meios, porque a família não as apoiou ou por simplesmente terem sido humilhadas ao tentarem."
Depois de ter contado histórias de amores e desamores através da roupa, pela primeira vez, Joana Duarte coloca nomes e rostos numa colecção. "É o que faz sentido: falar com as pessoas e conhecer as suas histórias. Esta colecção marca um novo capítulo na minha forma de trabalhar e de procurar um conceito, além de recordar uma época que devia ser relembrada com mais frequência, em que as artes tiveram um grande impacto na mudança de mentalidades".
![Béhen, ModaLisboa](https://media.timeout.com/images/105822502/image.jpg)
Um capítulo que tem trazido à marca mais visibilidade internacional, consequência do trabalho conjunto com uma agência em Los Angeles. Um passo que já deu frutos — desde o último Verão, as peças Béhen já foram usadas por M.I.A., Rosalía e pela norte-americana H.E.R.. A somar ao portfólio de celebridades, há um novo atelier em Lisboa, junto à Calçada do Combro, possível graças ao prémio de empreendedorismo feminino concedido pela embaixada dos Estados Unidos da América. Um espaço pequeno, mas que coloca a designer no coração de Lisboa, mais próxima das histórias que lhe servem de matéria-prima.
Ao final da tarde e antes de Béhen, foi Carolina Machado a inaugurar a passerelle do Capitólio. Não faltou habitual base de alfaiataria, nem as silhuetas cintadas que caracterizam o estilo da jovem designer da plataforma Lab. O preto, o branco, o laranja e o fúcsia foram a paleta escolhida. O segundo dia da ModaLisboa contou ainda com os desfiles de Kolovrat e Luís Buchinho.
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