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Morreu Anthony Bourdain, o chef-estrela de No Reservations e Parts Unknown

Escrito por
Catarina Moura
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Anthony Bourdain, de 61 anos, morreu em França enquanto filmava um episódio de Parts Unknown para o canal de televisão norte-americano CNN. Foi esta estação de televisão que avançou a notícia da morte do cozinheiro e protagonista de séries de viagens e gastronomia como No Reservations.

Bourdain foi encontrado na manhã de sexta-feira, 8 de Junho, no quarto de hotel pelo amigo e chef Eric Ripert. O canal norte-americano CNN avança o suicídio como causa de morte.

Anthony Bourdain começou como cozinheiro, mas foi através de programas de televisão documentais que se tornou conhecido do grande público internacional. Em No Reservations viajou pelo mundo para provar as culturas locais guiado por alguém das comunidades que visitava. Esse programa do Travel Channel (internacionalmente transmitido pelo Discovery Channel) trouxe-o a Lisboa em 2012 (temporada 8, episódio 4), onde provou a ginja, foi à Cervejaria Ramiro com José Avillez, Henrique Sá Pessoa e Ljubomir Stanisic, comeu as bifanas do Trevo, conservas no Sol e Pesca com os Dead Combo e foi aos fados com António Lobo Antunes.

Em 2009, já tinha filmado nos Açores (temporada 5, episódio 4), onde gostou de tudo menos do cheiro do cozido das Furnas em São Miguel. Nesse como noutros episódios ficam claras as reacções honestas e despudoradas de Bourdain – um estilo que o caracterizava e que justificava as notas que abriam o programa e que avisavam que poderiam ter linguagem considerada ofensiva.

Em 2013, o juri dos Peabody Awards, prémios dos media norte-americanos, galardoavam Parts Unknown (Viagem ao Desconhecido, na tradução portuguesa) por "alargar os nossos palatos e horizontes em igual medida" e descreviam-no como "irreverente, honesto, curioso e nunca condescendente". "As pessoas abrem-se a ele e com isso frequentemente se revela mais sobre as suas terras natais e comunidades do que uma reportagem tradicional poderia esperar documentar", concluíram os prémios sobre o programa da CNN que tinha estreado há pouco a sua 11ª temporada e que o trouxe ao Porto no ano passado (temporada 9, episódio 9). No episódio dedicado à Invicta repetiu a experiência da matança do porco, depois de ter assistido a este ritual 16 anos antes, visitou as caves de vinho do Porto, comeu cachorrinhos e francesinhas e deixou-se intimidar pelas vendedoras do Mercado do Bulhão.
Anthony Bourdain iniciou uma carreira na televisão com A Cook's Tour (no Food Network) em 2002 e a partir daí revelou-se um apresentador de televisão contador de histórias que, mais do que procurar pratos ou ingredientes, procurava a cultura, o quotidiano e a maneira de viver dos sítios que visitava por todo o mundo. Antes disto já se dedicava à escrita sobre comida e a indústria em que os cozinheiros estão inseridos, como se lê no seu artigo para a New Yorker de 1999, "Don't Eat Before Reading This" [não coma antes de ler isto], e mais tarde no livro Cozinha Confidencial — Aventuras no submundo da restauração (Livros d'Hoje, 2011).
Até chegar à paixão pelas viagens e por gastronomias e culturas distantes da sua, o nova-iorquino e chef-estrela fez o caminho tradicional de um cozinheiro que ascende dentro da cozinha — de copeiro a chef, posição de ocupou em Nova Iorque por mais de dez anos.
"Os profissionais da cozinha pertencem a uma sociedade secreta cujos rituais ancestrais derivam de princípios de estoicismo perante a humilhação, a injúria, o cansaço e a ameaça da doença. Os membros de uma equipa de cozinha coesa e bem oleada são muito como a tripulação de um submarino. Confinados durante a maior parte do tempo em que estão acordados a espaços quentes, sem ar e comandados por líderes despóticos, frequentemente adquirem as características de pobres miúdos integrados nos navios reais dos tempos napoleónicos: superstição, desprezo pelos forasteiros e lealdade a nenhuma bandeira que não a sua", escreveu para a New Yorker. Em declarações públicas, Anthony Bourdain mostrou-se frequentemente contra o espírito nas cozinhas que não promove a integração, é machista e que não respeita os direitos humanos e dos trabalhadores – uma cultura que definiu como "Meathead Culture".

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