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Morreu Manuel Reis, o homem que reinventou a noite de Lisboa

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
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Manuel Reis, fundador do Lux Frágil e figura incontornável de Lisboa, morreu neste domingo aos 71 anos. A notícia foi anunciada em comunicado pelo bar/discoteca que este ano comemora os 20 anos.

"O Manuel Reis morreu. Foi hoje, em Lisboa, a cidade que ele escolheu. A cidade que agora se despede de um dos seus maiores inventores", lê-se na nota do Lux. "O Manuel fez maior esta cidade, o nosso mundo e as nossas vidas também."

Mais do que a noite, e mais do que o Bairro Alto, onde abriu o mítico Frágil no início dos anos 1980, Manuel Reis revolucionou Lisboa.

Quando muitos ainda temiam o Bairro Alto, então uma zona marginalizada, Manuel Reis apostava ali. Em Junho de 1982, abria na Rua da Atalaia o Frágil, cujas noites ainda hoje dão que falar. Al Berto, António Variações, Pedro Cabrita Reis, Miguel Esteves Cardoso, João Botelho, Ana Salazar, Sofia Aparício são apenas alguns dos nomes que por ali passaram.

O Frágil era, acima de tudo, um ponto de encontro de artistas, jornalistas, políticos, intelectuais e por isso não se pode falar hoje na década de 1980 sem falar deste bar por onde passaram tantos desejos de modernidade e cosmopolitismo. As noites do Frágil, que ainda agora são recordadas, inspiraram escritores, músicos e artistas.

Em 1997, Manuel Reis decidiu fechar o bar no Bairro Alto para se mudar para a beira Tejo, onde em 1998, em Santa Apolónia, inaugurou o bar/discoteca Lux Frágil, que ainda recentemente – em 2014 – lançou o fragil.luxfragil.com, projecto que queria ser uma espécie de documentário das noites do Frágil. Afinal, por mais que o Lux tenha marcado a noite lisboeta – e continue a marcar – não houve desde o Frágil nenhum outro projecto que tenha vingado da mesma forma. Não faltam fotografias e testemunhos das noites loucas do bar mais procurado da noite lisboeta.

Rive-Rouge: o encontro com a Time Out na Ribeira
O convite para abrir um espaço no Cais do Sodré surgiu em 2011, quando ainda não havia Rua Cor de Rosa e o Cais do Sodré se livrava aos poucos da sua fama de red light district alfacinha. Talvez isso tenha agradado a Manuel Reis, que sempre gostou de desbravar zonas mais periféricas.

O Rive-Rouge, o seu último projecto na noite de Lisboa, foi pensado como parte integrante do projecto Time Out para o Mercado da Ribeira e acabaria por apenas abrir ao público em Novembro de 2016, já o Cais do Sodré era o centro da noite na cidade. Podia ser só mais um bar a funcionar até às quatro. Mas não. Era um bar herdeiro do Lux e isso tornou-o logo o centro das atenções, mesmo numa zona onde nunca faltaria animação. Para dirigir o novo espaço, Reis desafiou Miguel Ângelo Fernandes (responsável pela gestão dos bares do Casino de Lisboa e que tinha sido porteiro no Lux) e o seu amigo Nuno Faria, do 100 Maneiras.

“Manuel Reis é um génio de Lisboa, daqueles que emergem das lamparinas e que nos oferecem três desejos. Quanto mais impossíveis os desejos mais ele teima em realizá-los”, escrevia em Janeiro no Público Miguel Esteves Cardoso a propósito do vigésimo aniversário do Lux. “O Frágil e o Lux Frágil eram impossibilidades, continuam a ser fantasias que, ninguém sabe como, se tornaram realidades. E todas as noites renascem”, acrescentava ainda o cronista.

Já depois da notícia da morte, Margarida Martins, agora presidente da junta de Arroios, mas durante muitos anos conhecida como a “Guida Gorda” porteira do Frágil, partilhou na sua página de Facebook uma foto com Manuel Reis. “Para além de amigo, foi um mestre”, escreve Margarida Martins.

Também João Soares, no Facebook, fala de Manuel Reis como “alguém de um bom gosto, sensibilidade e talento raros a quem a cidade de Lisboa deve uma obra notável”.

O corpo de Manuel Reis estará em câmara ardente esta terça-feira no Teatro Thalia, em hora a comunicar.

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