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Mariama Barbosa
Mariana Valle Lima

Morreu Mariama Barbosa, uma força contagiante da televisão

A comentadora e apresentadora tinha 47 anos. Em Fevereiro, revelou nas redes sociais que tinha um tumor maligno no estômago.

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
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Tinha uma energia que contagiava e uma vontade de fazer coisas que passava para qualquer um. “Pau, pau, pau” não foi só uma catchphrase que virou moda na hora de avaliar um look, era a definição perfeita de Mariama Barbosa, uma comunicadora nata, cheia de atitude. Nascida na Guiné-Bissau, veio para Portugal ainda em miúda. Hoje era Embaixadora do Turismo e Artesanato da Guiné-Bissau e uma das protagonistas do programa de comentário social Passadeira Vermelha e a cara de Tesouras e Tesouros, ambos na SIC Caras. Morreu na manhã desta sexta-feira e as homenagens nas redes multiplicam-se. E repete-se a ideia de que Mariama Barbosa era amor e alegria. 

Foi no último Outono que nos encontrámos com Mariama, no Jardim das Amoreiras, para uma conversa para a rubrica Lisboa Negra. Na altura, aceitou o desafio sem hesitar, orgulhosa com o seu novo estatuto de embaixadora. Um convite que tinha chegado sem aviso há pouco tempo, mas que lhe encaixava que nem uma luva. “É um trabalho que já faço, falo imenso da Guiné em todo o lado, acho que já é natural”, dizia. Como objectivo tinha “mostrar o que de bonito a Guiné-Bissau tem”. E não se referia apenas à parte turística, mas também à história e cultura do país. “Não tenho muita ganância neste papel. Quero mostrar como somos alegres, simples, lutadores, trabalhadores.”

Na televisão era um rosto negro onde ainda falta diversidade, mas Mariama não queria ser olhada por isso. “É uma questão de personalidade e eu espero não ter sido convidada para preencher uma lacuna, isso é que seria racismo”, destacava. “Acho que as pessoas têm de ser avaliadas pela sua performance, pelo mérito e não pela sua cor. Quero mesmo que todos os negros se sintam capazes.” E não tinha dúvidas de que saímos todos a ganhar da mistura de que é feita a cidade de Lisboa. “É assim que evoluímos”, afirmava. “É natural e importante que se asse o milho, que se coma cachupa, que se tenha o batuque. O mundo só ganha com isso.”

Apesar do olhar confiante e do sorriso positivo, admitia que nem todos os dias eram fáceis, ainda longe de imaginar o que teria de enfrentar com a doença. E relembrava um episódio recente em que uma senhora mais velha foi “super racista”. “Pus-me a pensar: se esta senhora que tem 60/70 anos aborda-me desta maneira tão racista e mesquinha, é isso que vai ensinar ao neto que vem puro. Isto é uma bola de neve.” Nada que a demovesse ou fosse capaz de lhe tirar a esperança. Até porque fazia questão de dizer várias vezes: “Eu sou completamente negra e não me vejo de outra forma. Tenho orgulho nisso”.

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