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Livraria Cult
© Francisco Romão Pereira / Time OutMaria João Nunes e Manuel Jesus à porta da Cult, em Alvalade

Na nova livraria de Alvalade, a cave esconde um “escanção” de BD (e a sua adega de livros)

Querida entre fãs de banda desenhada, a Livraria Cult mudou-se do Areeiro para Alvalade. Fomos conhecer o espaço.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Estamos no sítio certo?, perguntamos ao entrar na nova morada da Cult, que se mudou recentemente da Praça do Areeiro para o número 13B da Rua José d’Esaguy, em Alvalade. O primeiro piso dá ares de papelaria, daquelas modestas (como quem diz, a tender para o minúsculo) que se encontram por toda a cidade, mas afinal estamos mesmo no sítio certo. Ao contrário do que possa parecer, há um outro piso, uma “falsa cave” inundada de luz natural, que se espera encontrar cheia de leitores nos próximos tempos. Inaugurada em Agosto de 2015, a livraria de Maria João Nunes e Manuel Jesus já estava a rebentar pelas costuras no seu poiso original. A mudança era, por isso, inevitável. Quem o diz são os próprios livreiros, que agora não só estão mais perto de casa (vivem no bairro) como têm mais espaço – 140 metros quadrados, para sermos precisos – para oferecer aos clientes as últimas novidades, sobretudo de banda desenhada.

“A banda desenhada nunca teve um momento tão bom. Creio até que é a única área da literatura – digo literatura porque, para mim, a banda desenhada é literatura ilustrada – que está a crescer, e está a crescer porque está a beneficiar de um público que é maduro, que tem poder de compra e que gosta de comprar livros”, diz-nos Manuel Jesus, que também é coleccionador de banda desenhada. “Ontem, por exemplo, tive aqui um cliente que me disse que, só de banda desenhada franco-belga, tem quatro mil títulos. Deve haver muito poucas bibliotecas em Portugal que tenham quatro mil títulos de banda desenhada no seu acervo. Talvez a da Amadora ou a de Beja, que têm âncoras como festivais em que há sempre doações por parte das editoras e dos autores, mas não deve haver muitas. Mas é engraçado, porque quando abrimos a Maria João dizia ‘atenção que não quero transformar isto numa livraria de banda desenhada’.”

Livraria Cult
© Francisco Romão Pereira / Time Out

Numa outra vida, Maria João foi jornalista de saúde, Manuel Jesus engenheiro de telecomunicações. A Cult nasceu de uma vontade de mudar de vida, mas sobretudo de uma paixão genuína pelos livros e pela leitura, que sempre tiveram em comum. “Na altura, eu trabalhava como freelancer e começámos a pensar que, se calhar, estava na hora de termos uma coisa nossa. Entretanto, se gostam de livros, aconselho-vos antes a ir para bibliotecários, que têm menos trabalho e, quando quiserem ler, podem mandar calar os outros”, brinca Maria João, antes de se confessar orgulhosa com a curadoria de banda desenhada feita pelo marido, que há quem chame de “o escanção da BD”, assevera. “Não temos só banda desenhada, mas somos uma livraria de referência no género, trabalhamos com todos os editores nacionais e espanhóis, e estamos agora a falar com um distribuidor de banda desenhada em francês.”

Nos primórdios da Cult, quando ainda estavam na Praça do Areeiro e decidiram investir também na venda de banda desenhada, estavam longe de imaginar que teriam tanto sucesso. Entre os clientes fiéis, que Maria João garante não terem vacilado com a mudança de morada, há até autores de banda desenhada, como Dário Duarte, mais conhecido por Derradé (A Loja e O Fogo Sagrado), que entretanto foi convidado a deixar a sua marca no vidro que separa a “ala da banda desenhada” da restante oferta literária. “Nós herdámos este vidro [com uma porta], que devia ser [a entrada] para uma sala de reuniões, e por isso acabámos por idealizar o que eu chamo do meu muro das lamentações. Muro das lamentações porque venho para aqui lamentar não poder levar tudo para casa”, confessa Manuel, entre risos. “Mas a ideia é transformar os vidros em pranchas, isto é, desafiar os nossos clientes a fazer rabiscos com um marcador de quadro branco, para que possa ser facilmente apagado; e, quando tivermos mais tempo, talvez organizemos uns duelos de desenho.”

Livraria Cult
© Francisco Romão Pereira / Time OutLivraria Cult

Há ainda muito para fazer – caixas para desempacotar, funko pops e livros para organizar nas estantes, uns posters para pendurar –, mas Maria e Manuel tencionam ter tudo em ordem até Setembro, mês em que deverá realizar-se um evento de inauguração. Os detalhes não estão fechados, mas há vontade e a ideia está em cima da mesa. “Agora, estamos focados em fazer as pessoas perceber que aquilo lá em cima não é o que está cá em baixo e que isto não é uma cave bolorenta”, assegura Manuel Jesus. “É que nós tínhamos mesmo um problema de espaço no sítio onde estávamos [passaram de 60 para 140 metros quadrados]. Eu até costumava dizer na brincadeira aos clientes que éramos mais um armazém do que propriamente uma livraria, mas aqui achamos que estamos no sítio certo. Temos largas centenas de títulos e vêm muitos mais ao caminho, incluindo de mangá, que está a fazer sucesso entre a miudagem”, partilha. E, se porventura não encontrar o título que procura, não há espiga. Basta encomendar. “Mandamos vir e, à partida, deve cá estar em até 48 horas.”

Rua José d’Esaguy 13B (Lisboa). Seg-Sex 09.00-20.00, Sáb 09.00-18.30 e Dom 09.00-18.00

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