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Livro, New Queer Photography, Fotografia, Benjamin Wolbergs
©Pauliana Valente Pimentel

New Queer Photography: o mundo queer em imagens

O livro ‘New Queer Photography’, lançado este mês, reúne imagens de 50 fotógrafos de todo o mundo – incluindo uma fotógrafa portuguesa.

Escrito por
Clara Silva
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Foi depois de uma campanha no Kickstarter que o alemão Benjamin Wolbergs, editor e director de arte a trabalhar para editoras como a Taschen, a Prestel ou a Kettler, reuniu condições para a publicação de New Queer Photography, lançado oficialmente este mês, com mais de 300 imagens de 50 fotógrafos de todo o mundo, especializados em temas LGBT. Ao todo, foram angariados mais de 21 mil euros que permitiram que o livro de 300 páginas visse a luz do dia. Um livro importante, focado em temas fotográficos mais “marginais”, explica o autor. “O subtítulo é ‘foco nas margens’ – e essa é uma das lentes comuns para a fotografia queer do livro”, explica.

Para Benjamin foram mais de três anos de pesquisa. “Vi muitos livros e revistas, mas a pesquisa mais intensa foi feita através da internet e das redes sociais. Passei por uma quantidade enorme de arte, fotografia e blogues LGBTQI+”, conta. Escolher os trabalhos fotográficos que iriam integrar o livro não foi fácil. “Foi um processo muito demorado e difícil. Era importante para mim apresentar o maior número de fotógrafos diferentes, temas importantes e imaginários queer, confiando mais na minha intuição do que em abordagens excessivamente dogmáticas.”

Livro, New Queer Photography, Benjamin Wolbergs
©DR


De fotógrafos mais conceituados a outros desconhecidos, o livro, com fotografias artísticas e outras documentais, aborda temas como a cena drag, a transexualidade, a identidade de género e as diferentes percepções de beleza, longe de todos os clichés. Por exemplo, os retratos de Robin Hammond, da Nova Zelândia, com o projecto “Where Love Is Illegal”, em países onde as relações entre pessoas do mesmo sexo são crime. “Um olhar mais próximo revela que aqui há uma certa ambiguidade em jogo: a abordagem do fotógrafo extremamente sensível permite que a coragem e força dos retratados se sobreponha à vitimização.” Já o trabalho “Rainbow Girls”, de Julia Gunther, acompanha o concurso Miss Lesbian na África do Sul, enquanto Dustin Thierry se foca nos ballrooms de Amesterdão, Paris, Milão ou Berlim.

Entre os 50 escolhidos há uma portuguesa: Pauliana Valente Pimentel, nomeada para o Prémio Novo Banco Photo em 2016. “Conheci o seu trabalho no meu processo de pesquisa para o livro e fiquei fascinado pela sua arte, em particular pelo projecto fotográfico Kel Pedra”, conta. O trabalho da fotógrafa foi apresentado em 2016 no Museu Berardo, um retrato íntimo da juventude trans do Mindelo, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, com quem Pauliana passou bastante tempo. “Jovens e trans, os retratados bronzeiam-se na praia, estão sentados ou em pé nos seus espaços domésticos ou posam com vestidos glamorosos no meio de ruínas”, descreve Benjamin.

Pauliana Valente Pimentel diz ter, obviamente, ficado “lisonjeada” com o convite para fazer parte do livro. Quando foi contactada, foi informada de que não havia dinheiro para o projecto e que os fotógrafos não iriam receber. “Nunca escondi que gostava de ser paga, sou apologista de que todos os artistas devem receber porque vivemos disto, mas este tipo de projectos são tão importantes que não me importei”, conta à Time Out. Além disso, é uma maneira de continuar a homenagear os protagonistas do seu trabalho, “Kel Pedra”, no Mindelo. Uma delas, Susy, morreu entretanto com sida. “Isso para mim é o mais importante, que a memória destas pessoas continue.”

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©DR

New Queer Photography. Editora Kettler. 304 pp. Encomendas: 58€.

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