Parece que quem aqui vive ou trabalha conhece de olhos fechados o caminho para aqui chegar. Pelo menos é o que nos dá a entender Sérgio Damas, um dos três sócios que iniciaram um discreto take over de um restaurante bem conhecido na vizinhança. "Há pessoas que nem se referem ao nosso nome, porque conhecem o restaurante como Laranjal 2. A casa não é nova. O senhor que estava cá já há cerca de 20 anos reformou-se. Passou para outra gerência, que entretanto não conseguiu pegar nisto, então nós ficamos com o espaço", começa por resumir Sérgio, que é também o homem à frente da cozinha.
Estão aqui há mais ou menos dois anos (embora o rebranding seja mais recente), mas o Bacõco continua a ser um trabalho em progresso. Por cima da porta podemos continuar a ler "Comer para Crer", a designação anterior, mas quando o menu chega à mesa, traz somente as sugestões dos últimos inquilinos. O prato do dia é anunciado no Instagram. O resto são receitas simples, de conforto, para responder aos apetites da clientela, mas também para reflectir o currículo do jovem Damas.
Nos últimos anos, passou pelo Mercatto do Penha Longa, pelo Pampa, na Praça das Flores, e ainda pelo restaurante do Chapitô. Para as Laranjeiras não veio sozinho. Trouxe Joana Martins, namorada e ex-colega da Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, e Tiago Costa, que se ocupa das contas.
Mas voltemos aos morfes, onde as entradas fazem as horas, como é aliás habitual num cardápio tradicional. Tudo aqui segue a mais elementar tradição portuguesa. Entre azeitonas temperadas, queijo curado e sopa do dia, recomendam que provemos os croquetes de alheira (2€), que se revelam invulgarmente compridos, nada secos e de sabor intenso. Saem sobretudo ao final do dia, num embalo dos petiscos, outra das secções do menu. Mais clássicos, portanto – com camarão ao alho (12,50€), ovos rotos (7€), pica-pau de vaca (10€) ou moelas à casa (7€).
"Também servimos jantares, mas muitas vezes as pessoas acabam por ir para os petiscos. Mas nós somos muito versáteis, tentamos não impor o menu. Se aparecer aqui alguém para jantar, mesmo à sexta-feira em que é só petiscos, e quiser um bitoque, nós fazemos. Até pratos que não temos no menu. Já cheguei a fazer uma carbonara clássica porque dois clientes perguntaram se havia. É claro que é uma experiência gastronómica, mas aqui o nosso trabalho é alimentar as pessoas", afirma Sérgio.
E é na nobre missão de alimentar a clientela que entram os pratos principais, a começar por uma perna de frango no forno (12,50€), desossada e suculenta, acompanhada por um arroz de cogumelos, que por muito cremoso que seja não é um risotto. Com os despojos de um prato, prepara-se outro. O bitoque de vaca (11€), claramente um ponta de lança da ementa, conquista pelo molho, feito a partir do caldo de ossos da referida ave. O receituário pode ser simples e caseiro, mas o primor da confecção e o combate ao desperdício estão sempre presentes, tal como o chef de serviço. "Somos um restaurante normal, de diárias, como tantos que existem em Lisboa e no resto do país. Um bitoque é uma cena simples, mas não quero que seja um prato deslavado, com um arroz nhe, uma batata frita congelada e um molho da treta. Quero coisas simples, mas que reflectem a qualidade dos produtos", acrescenta.
Sem pretensões de sofisticação ou complexidade, o menu explora outras receitas de conforto. Não falta um bacalhau à Brás (10,50€), uma espetada de novilho (14€), uma açorda de camarão (12,40€) ou um penne com pesto, tomate cherry e bacon (12€), a relembrar os velhos tempos no Mercatto. Igualmente sucinta é a carta de vinhos. Aí, entre outras opções, brilham dois rótulos alentejanos – o Oxalá, nas versões branco, laranja, tinto e rosé (18€-29€), e o Ciclo, nas versões branco, tinto e espumante rosé (29€-30€).
O resto é esplanada, o espaço mais concorrido do Bacõco, pelo menos em dias secos. As sextas-feiras, em especial ao final do dia, são propícias a odisseias musicais, cortesia de um dos funcionários que nutre especial carinho por rock dos anos 2000 e êxitos menos comerciais e que não pensa duas vezes quando chega a hora de aumentar o volume. Também a cozinha se quer aberta e participada. No próximo sábado, dia 25 de Outubro, recebe Anaís Almeida, jovem chef com provas dadas em vários espaços da cidade. Entre as 19.00 e as 23.00 vai estacionar nas Laranjeiras e juntar pratos de partilha e hip-hop. Olhe que as vagas são limitadas.
Rua Manuel da Silva Leal, 1A (Laranjeiras). Seg-Ter 08.00-19.00, Qua-Sáb 08.00-23.00
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Está a par dos melhores novos restaurantes em Lisboa? Não fique para trás. Na Avenida, abriu o JNcQUOI Fish – mais fresco é impossível. Se procura alternativas de mar, mas com vistas de rio, dê um salto ao Almadrava. Não muito longe, o Solo é uma boa alternativa de almoço, para quem gosta de surpresas e de um cheirinho a fine dining. Brunch num palácio? Também há e fica nos Anjos. Já no Gancho, em Alfama, Louise Bourrat dá-nos a sua cozinha do coração.

