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O MAAT – Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia – inaugura nesta quinta-feira, 26 de Junho, duas novas exposições. Em exibição até 27 de Outubro, as obras espalham-se por dois pisos do MAAT Central (antiga central). No rés-do-chão está a exposição “lápis de pintar dias cinzentos”, com curadoria de Margarida Chantre, enquanto “Miriam Cahn – o que nos olha”, com curadoria de João Pinharanda e Sérgio Mah, ocupa o piso superior.
“lápis de pintar dias cinzentos” apresenta 42 obras de 21 artistas portugueses. Os diferentes trabalhos, pertencentes à colecção de arte da Fundação EDP, trabalham temas em comum, como a passagem do tempo, a sensação de casa e a relação do artista com a sua obra. A curadora Margarida Chantre diz identificar, além disso, um denominador em comum ainda maior: a generosidade dos artistas, que dedicam o seu tempo e partilham a sua obra com o mundo. "Todas estas obras são resultado da generosidade e da partilha dos artistas", expressa a curadora, durante a apresentação da exposição à imprensa.

Foi também a generosidade que inspirou a obra que dá nome à exposição. O título cita um trabalho realizado por Carlos Nogueira em 1973, um pequeno cartão no qual lê-se um poema dactilografado: “QUANDO ME DESTE UM LÁPIS DE COR – VERMELHO – QUE ESCREVIA A COR-DE-ROSA. UM LÁPIS DE PINTAR DIAS CINZENTOS”. O poema, por sua vez, guiou uma exposição do artista em 1979, na qual um conjunto de desenhos a cinzento era acompanhado por lápis de cor – etiquetados como “lápis de pintar dias cinzentos” – que foram oferecidos aos visitantes na inauguração. Agora, no MAAT, também estão expostos, numa sala dedicada inteiramente ao artista, mais de 2000 lápis.
Para além de Carlos Nogueira, outros três artistas têm salas individuais: Maria José Oliveira, Luísa Correia Pereira e Tomás Colaço. Nas duas salas restantes, as obras de diferentes artistas conversam entre si. Em destaque está Façade Suprema, de Rodrigo Oliveira, exibida pela primeira vez no museu. A obra é constituída por uma luminária oriunda do primeiro atelier do artista, na qual inseriu pequenos pantones retirados de uma loja de materiais de construção, construindo um objecto que brinca com a bidimensionalidade e a geometria.

“Miriam Cahn – o que nos olha” é a primeira exposição a solo da artista em Portugal. Nascida em Basileia, na Suíça, Miriam Cahn tem uma longa carreira a explorar diferentes formas artísticas, desde a pintura e desenho à escultura e instalação. As obras expostas no MAAT, realizadas entre 1980 e 2025, trabalham tópicos sociais e políticos, e mostram a objecção da artista a todas as formas de opressão e violência.
O corpo – especialmente o feminino – apresenta-se frequentemente na exposição como um campo de disputa e de resistência. A sala de entrada exibe um conjunto de retratos do corpo feminino nu, dessexualizado, que questiona a idealização e a objectificação da mulher no cânone artístico. Aqui, o corpo feminino não se retrai, mas devolve o olhar ao espectador, encarando-o. A última sala da exposição retorna ao tema, retratando mulheres em diferentes pinturas e desenhos. Nas obras de Miriam Cahn, elas não são passivas ou idealizadas, mas viscerais, às vezes violadas ou retratadas ao meio do parto – tema que a artista considera estranhamente ausente na história da arte.
É ainda notória uma preocupação com os efeitos da guerra na humanidade. O corpo, novamente, é usado para representar a destruição do mundo e da natureza pela guerra, que tanto se assemelha à violação. “Todos os eventos traumáticos numa guerra são momentos de destruição do corpo”, revela o curador João Pinharanda, durante a apresentação da exposição à imprensa. As obras, realizadas em diferentes momentos da carreira de Miriam Cahn, reflectem a percepção da artista sobre os efeitos de diferentes guerras, da instabilidade da Guerra Fria aos conflitos contemporâneos.

Em destaque na exposição estão as obras exibidas na sala superior. Uma série de pinturas retrata cenas de violência, pensadas em resposta ao massacre de Bucha, na Ucrânia, e aos demais conflitos que assolam o mundo actualmente. As forças opressoras são, aqui, representadas por grandes corpos que violam as figuras frágeis submetidas à sua tirania. A mais controversa das obras, chamada fuck abstraction!, foi alvo de críticas quando exposta no Palais Tokyo, em Paris, por retratar uma violação a um corpo pequeno, assemelhado ao de uma criança. A artista quis, no entanto, representar “a dimensão de um corpo diminuído submetido à violência e à subjugação de um homem dominador”, diz o curador Sérgio Mah na apresentação da exposição.
Para além de produzir as obras, Miriam Cahn considera a montagem da exposição como um elemento chave do processo criativo, e decide sozinha a distribuição e o posicionamento das peças no espaço. Nas diferentes obras que apresenta no MAAT, a artista dialoga com a complexidade dos conflitos actuais e a incapacidade de ignorar sua existência, independentemente da raiva e angústia que nos causam. Citada em comunicado, a artxista diz que “a raiva é um bom motor para a arte”.
Avenida de Brasília (Belém). Qua-Seg 10.00-19.00. Até 27 Out. 11€, Entrada Livre 1º Dom do mês
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