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Televisão, Séries, Drama, Histórico, It's a Sin (2021)
©DRNathaniel Curtis em It's a Sin

O “momento certo” de ‘It's a Sin’

A nova e aclamada série da HBO trouxe o VIH para o centro das atenções durante outra pandemia. Pedimos guias de leitura a dois activistas portugueses.

Escrito por
Clara Silva
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Uma obra-prima. Cinco estrelas. É assim que The Guardian avalia a série do momento: It’s a Sin. O diário britânico põe as mãos no fogo pelo produto televisivo criado por Russell T. Davies, que chegou a 23 de Janeiro à HBO portuguesa e acompanha um grupo de jovens amigos que divide casa em Londres quando a sida, “o cancro dos gays”, como no início era conhecida, começa a assombrar os anos 1980. No Reino Unido, antes de ser adquirida pelo Channel 4, It’s a Sin foi rejeitada pela BBC e a ITV. Agora bate recordes de streaming desde a estreia, tornando-se a série mais popular daquele canal. Por cá, percebe-se porquê. “Foi lançada no momento certo”, diz a presidente da Associação Abraço, Cristina Sousa.

É a pandemia provocada pelo novo coronavírus que a torna oportuna. Os paralelismos que se podem estabelecer entre uma crise de saúde pública e outra, nota Cristina Sousa. It’s a Sin está a servir “não só para reflectir sobre VIH, que já é uma doença crónica, com um distanciamento entre o que é hoje e o que foi viver naquele tempo, mas também porque nos permite relacionar com a covid-19 e com o que estamos a viver”.

Apesar de bastante diferentes, sublinha a presidente da Abraço, as duas doenças podem relacionar-se “numa perspectiva de diminuir a discriminação associada ao VIH”. “Tal como a covid-19, ninguém é imune [ao VIH] e as pessoas podem estabelecer alguma ligação entre uma doença e a outra e ter algum cuidado quando se discrimina, como se discriminava naquela altura, e como se continua a discriminar nos dias de hoje. Continua a haver muito preconceito. Tenta-se esconder por medo que o outro saiba que se vive com a doença.” Quatro décadas depois, “algumas questões continuam presentes”, lamenta Cristina Sousa, e, apesar dos tratamentos, “o estigma ainda existe”.

O tema assombrou Russel T. Davies durante muitos anos. Quando escreveu Diferentes Como Nós (Queer As Folk, 1999–2000), o criador deixou a sida propositadamente de fora dessa série, para não deixar que “as nossas vidas sejam definidas pela doença”, explicou ao The Guardian. Nunca a mencionou ao longo de dez episódios. Em It’s a Sin dedica-lhe a série inteira (cinco episódios). “Precisei de esperar até agora, para perceber o que queria dizer.” A música dá uma ajuda. Não só o título da série é retirado de um tema dos Pet Shop Boys, como um dos protagonistas, Olly Alexander, no papel de Ritchie Tozer, é na vida real o vocalista da banda Years & Years e também um conhecido activista LGBT. O actor Neil Patrick Harris, casado com outro actor e com dois filhos, tem um papel pequeno (mas relevante).

Paolo Gorgoni, activista e co-fundador do Colectivo Viral, que tem por objectivo “quebrar estigmas e empoderar pessoas que vivem com VIH” em Portugal, viu os cinco episódios da série numa só noite. “É uma boa série. É bom que se fale numa altura de pandemia de outra pandemia ainda mais antiga, que dura há 40 anos e para a qual a vacina não foi encontrada nem num ano nem em 40.” Ainda assim, deixa a pergunta: “Está muito bem feita mas, em 2021, será que precisávamos de It’s A Sin tendo, por exemplo, o 120 Batimentos por Minuto [de 2017, sobre o grupo activista Act Up] , que é um filme maravilhoso, e tantos outros sobre os anos 80? Não é mais do mesmo?”

O activista acha que faltam “abordagens contemporâneas” da doença. “Falta falar de histórias que não são tão previsíveis, de que todos ficam doentes, de que todos morrem. Seria muito fixe, por exemplo, existir uma série sobre os problemas ligados ao VIH hoje. A narrativa contemporânea mais feliz não é para toda a gente, só para quem tem acesso a certos direitos e serviços, para o homem branco ocidental. Há muitas desigualdades sociais.”

Philip Normal, autarca de Lambeth, Londres (e também designer e activista LGBT+), pensa o mesmo. E por isso decidiu lançar uma campanha online inspirada em It’s A Sin com T-shirts onde se lê “La.” (uma piada da série). As T-shirts custam 25 libras, 20 das quais são doadas à instituição Terrence Higgins Trust, criada em 1982 para ajudar pessoas com VIH, e que continua activamente a lutar contra a sida. Em apenas três dias, conseguiram juntar 40 mil libras com as vendas.

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