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Na era Mesozóica, há muitos muitos milhões de anos atrás, o planeta era quente e húmido, rico em vegetação e espécies exóticas. Os Homo Sapiens ainda estavam longe de existir, mas havia répteis, como os dinossauros, que dominavam a Terra. Uns eram tão pequenos quanto galinhas, outros eram gigantes de pescoços longos como as girafas. Cobertos de escamas, penas, espinhos ou couraças, a diversidade era tanta que, para dizer a verdade, os cientistas descobrem, em média, uma nova espécie por semana. Mas como e o que é que comiam? Como é que se defendiam? Que rituais de acasalamento ou cuidados parentais apresentavam? Já é possível encontrar as respostas a estas e outras questões graças às novas tecnologia –, e num só sítio: a nova exposição do Pavilhão do Conhecimento. Em “Dinossauros: O Regresso dos Gigantes”, as famílias são convidadas a conhecer de perto e à escala real espécies como o famoso Tyrannosaurus rex, um dos maiores predadores que alguma vez existiu, o Ornithomimus, detentor do primeiro lugar do pódio em velocidade, e o Ankylosaurus, que parecia estar “armado até aos dentes” como o seu próprio nome sugere.
“Como é natural, estamos sempre muito atentos ao mercado internacional de exposições, até porque somos produtores e temos exposições nossas noutros países, e foi-nos dito que esta estaria disponível. Veio do México e, sendo sobre dinossauros, é uma aposta ganha. É assim em todo o mundo, porque cativa muitíssimo todas as idades, mas com um encanto muito maior nos mais pequenos”, diz-nos ao telefone Rosalia Vargas, presidente da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica e directora do Pavilhão do Conhecimento. “Há dez anos, tivemos cá uma outra também sobre dinossauros. Agora temos esta, que segue o princípio de ter grandes modelos de dinossauros, que produzem movimento e som, e são de facto gigantes – alguns chegam aos quatro metros de altura – e muito, muito pesados – algumas toneladas –, tanto que tivemos de ter muito cuidado no transporte para dentro da nossa grande nave expositiva e o chão foi reforçado para conseguir aguentar, em segurança, tanto peso e volume. Mas é mesmo maravilhoso ver a concentração destas espécies, sobretudo das portuguesas, e estando em contacto com a comunidade científica, tivemos oportunidade de contactar os melhores investigadores e paleontólogos do nosso país, que trabalharam connosco de uma forma muito generosa e profissional, que resultou numa exposição francamente acima dos padrões internacionais das exposições itinerantes sobre esta temática.”
Munidos de trinchas e pás, pequenos e grandes visitantes vão ter oportunidade de entrar no mundo da paleontologia, a especialidade da biologia que estuda a vida do passado na Terra e o seu desenvolvimento ao longo do tempo geológico. Mas, atenção, numa escavação, um olho treinado é essencial. Formas, texturas ou cores diferentes numa única rocha podem ser sinal de que, espantem-se!, estamos perante o próximo fóssil a revolucionar a história do nosso planeta. E é precisamente esse o trabalho a desempenhar na Tenda de Campanha, onde será preciso escavar muito e com muito cuidado. Desenterrar restos de seres vivos ou de evidências das suas actividades biológicas não é pêra doce. Uma expedição pode demorar meses, sobretudo se o acesso às jazidas for perigoso e as condições atmosféricas não forem favoráveis. Além de uma excelente ética de trabalho, muitas vezes também é preciso muita paciência e, claro, uam boa dose de sorte e coragem. “Estas tendas não vieram com a exposição”, avisa Rosalia. “Fomos nós que as criámos para os mais novos, que têm assim oportunidade de fazer as suas próprias explorações, seguindo os mesmos princípios dos verdadeiros paleontólogos, e é vê-los, com os olhos a brilhar, completamente concentrados.”
Depois é rumar ao Laboratório, onde técnicas inovadoras e mais ou menos sofisticadas actuam como verdadeiras máquinas do tempo. Desde realizar uma tomografia computadorizada (uma espécie de raio-x) ao crânio de um dinossauro até desvendar os sons do Cretácico (o primeiro dos três períodos do Mesozóico, que é composto ainda pelo Jurássico e o Triássico), há muita coisa para um paleontólogo fazer no seu escritório, inclusive desenhar. Sim, alguns paleontólogos também desenham. Existe um género de ilustração, a ilustração científica, que é muito importante para a divulgação visual das suas descobertas, e não requer apenas talento artístico, mas também rigor e clareza. O ponto de partida é, claro, a observação. E, combinando conhecimento e imaginação, um bom observador é capaz até de reconstruir partes inexistentes, escondidas ou danificadas. É por isso que sabemos mais ou menos qual a aparência dos dinossauros agora em exposição no Centro Ciência Viva de Lisboa, que também reúne, pela primeira vez debaixo do mesmo tecto, os dinossauros que viveram no território que é agora conhecido como Portugal, como o Iberospinus, nativo da Formação do Papo-Seco, do Centro-Oeste do país, descoberto no Cabo Espichel, no concelho de Sesimbra, pelo português Carlos Natário, um paleontólogo amador.
A mostra, que ficará patente até Setembro de 2023, integra ainda, por um lado, testemunhos de especialistas e de curiosos; e, por outro, uma programação paralela, que aborda desde o fantástico mundo dos dinossauros e dos fósseis às relações inusitadas com a arte e a cozinha. Destaca-se, por exemplo, a iniciativa “Aos ombros do Gigante”, marcada para Janeiro do próximo ano, em homenagem ao géologo Galopim de Carvalho, conhecido como “pai e avô dos dinossauros”, pelo seu trabalho de defesa de pegadas e demais património geológico e paleontológico. Seguem-se, em Fevereiro, várias visitas guiadas, acompanhadas por investigadores. Já de Março a Junho, dá-se a palavra aos miúdos, explora-se a ligação entre arte e ciência e promovem-se saídas de campo para identificação de organismos contemporâneos dos dinossauros. Por fim, de Julho a Setembro, olha-se para o futuro, com um escape room e mais passeios. “Como é que se chega a este mundo? Como é que se chega à reconstituição de um dinossauro tridimensional? Com muita investigação e conhecimento, e é importante que [as crianças] comecem desde cedo a perceber isso.”
Pavilhão do Conhecimento (Lisboa). Ter-Sex 10.00-18.00, Sáb-Dom e feriados 10.00-19.00. 8€-11€
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