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O Rossio na Betesga #18: restos do Mundo Português

Helena Galvão Soares
Escrito por
Helena Galvão Soares
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A visão é um tanto desconcertante. Estamos nas traseiras da Associação Naval de Lisboa, rodeados de barcos, uns em melhor, outros em pior estado (é uma zona de estaleiro), automóveis estacionados, guinchos, lonas e uma série de peças de que gostávamos de saber o nome e a função.

No meio disto tudo, duas colunas tão imponentes quanto dissonantes em relação ao que as rodeia. No topo delas encontram-se as letras M CM XL, que aqui não são letras, mas sim números: é 1940 em numeração romana. E esta data diz tudo: estas eram as colunas que assinalavam uma das entradas para o Pavilhão dos Descobrimentos da Exposição do Mundo Português de 1940.

A Exposição do Mundo Português recebeu três milhões de visitantes. Foi um dos acontecimentos mais importantes da propaganda do Estado Novo, exaltando com grande pompa o passado glorioso da nação, com pavilhões visualmente imponentes, mas que foram concebidos como edifícios cénicos, feitos sobretudo de gesso e argamassa. Vejam-se os números: neles trabalharam 1000 modeladores-estucadores, um número bastante elevado, considerando os 5000 operários.

 

© Duarte Drago

Pouco depois do encerramento da exposição, um violento temporal deu uma mãozinha ao início da demolição destes edifícios precários. Até o Padrão dos Descobrimentos ficou semidestruído, sendo depois reinaugurado em 1960, já como estrutura permanente. Sobreviveram os edifícios construídos com armação metálica, mas muito transformados: os actuais Museu de Arte Popular, Espelho de Água e Associação Naval de Lisboa. É no interior deste último que podemos ainda encontrar um dos painéis originais da exposição, em razoável estado de conservação.

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