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Dragoeiro em flor no Jardim Botânico de Lisboa
Helena Galvão SoaresDragoeiro em flor no Jardim Botânico de Lisboa

O Rossio na Betesga: Os dragoeiros de Lisboa

Sabia que há um berçário de dragoeirinhos na Tapada das Necessidades?

Helena Galvão Soares
Escrito por
Helena Galvão Soares
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“É uma árvore pré-histórica.” “Vivem mais de 1000 anos.” “Só tem flores de vinte em vinte anos.” “São muito raras em Lisboa.” Isto é tudo mais ou menos verdade, mas não inteiramente. A figura exótica do dragoeiro (Dracaena draco), com a sua copa de guarda-chuva fractal, tende a inflamar a imaginação de quem os vê. Mais ainda quando estão em flor, com uns grandes cachos de flores cor de pérola que por vezes convivem com cachos de frutos avermelhados.

O nome também ajuda à mística: deve-se à seiva, que em contacto com o ar oxida e toma um tom vermelho vivo. Essa seiva, chamada sangue de dragão, foi comercializada na Europa a altos preços, onde era usada na tinturaria e farmacologia.

Dragoeiro no Jardim Botânico de Lisboa
Helena Galvão SoaresDragoeiro no Jardim Botânico de Lisboa com frutos e flores (2013)

Começando pelo princípio: tecnicamente não é uma árvore, mas sim uma planta, porque não tem tronco lenhoso. E é uma espécie “pré-histórica”? Bem, todas as plantas são pré-históricas, porque há seis mil anos (data do aparecimento da escrita e fim da pré-história) já tinham as características que têm hoje, mas as Dracaenas já existiam durante o Mioceno (desde há cinco a 25 milhões de anos) e as actuais são as miraculosas descendentes delas, umas relíquias desses tempos longínquos, por isso é que são tão estranhas comparadas com as plantas mais “modernas”.

Jardim da Estrela
Helena Galvão SoaresJardim da Estrela

Quanto a viverem mais de mil anos, não se sabe. O mais antigo dragoeiro é o da ilha de Tenerife, Canárias, o chamado “El Drago Milenario”. A mais antiga atestação escrita da sua existência é de 1503 e diz-se que teria então 400 anos. Mas as datações actuais dão-lhe cerca de 800 anos.

É possível determinar, por alto, a idade de um dragoeiro através das bifurcações dos troncos. Isto porque elas não surgem de forma aleatória. Cada feixe de novos ramos só surge após a floração, portanto é contar as bifurcações. Pequeno problema: o espaço entre florações varia de planta para planta (entre 10 e 20 anos) e a data da primeira floração também (entre 9 e 30 anos, tudo é possível).

Jardim Botânico da Ajuda
Helena Galvão SoaresJardim Botânico da Ajuda, o mais antigo dragoeiro lisboeta

Em Lisboa, o dragoeiro mais antigo é o do Jardim Botânico da Ajuda: era já adulto quando para lá foi transplantado, em 1768. Chegou a atingir os 23 metros de diâmetro, tornando-se um dos maiores exemplares do país. Em 2006 foram-lhe detectados sinais de doença e actualmente tem metade do tamanho, por apodrecimento de parte dos troncos. Devido ao seu valor histórico e botânico, tudo foi feito para o manter vivo, estando hoje amparado por uma estrutura de aço.

Na outra ponta de espectro temos a Tapada das Necessidades, um verdadeiro berçário. Por lá, além dos dragoeiros adultos de grande porte, contam-se mais de 50 jovens dragoeiros, alguns já a atingirem os três metros de altura.

Tapada das Necessidades
Helena Galvão Soares| Tapada das Necessidades

De destacar ainda, embora um pouco suja e ao abandono, a Mata dos Dragoeiros de Cascais, que foi classificada em 2012 de Interesse Público pelo seu conjunto de 36 dragoeiros com cerca de 130 anos.

Apesar de os espécimes em estado selvagem estarem em risco nos seus habitats naturais (Madeira, Açores, Canárias, Cabo Verde e Norte de África), há muito por onde ver dragoeiros em Lisboa e é aproveitar agora que estão no seu último mês do habitual período de floração (Maio a Agosto), para ir ver quais deles estão em flor este ano. Se quiser ir vê-los nos jardins botânicos de Lisboa sem pagar nada, aproveite a entrada livre ao domingo, até às 13 horas.

Onde ver dragoeiros em Lisboa: Jardim Botânico da Ajuda, Jardim Botânico Tropical (Belém), Jardim Botânico da Universidade de Lisboa (Príncipe Real), Parque Botânico do Monteiro Mor (Lumiar), Tapada das Necessidades (Alcântara/ Campo de Ourique, Jardim do Seminário da Luz (Benfica), Jardim do Museu da Água-Barbadinhos (Santa Engrácia), Quinta Conde dos Arcos (Olivais), Jardim da Estrela, Cemitério dos Ingleses (Estrela), Jardim da Residência Oficial do Primeiro-Ministro (São Bento) e em variados jardins privados, onde os podemos ver da rua, como a antiga sede da Fundação Oriente (Rua do Salitre, 66) e a antiga Sede dos CTT (Rua de São José, 10).

O Rossio na Betesga: Lisboa tem uma Rua Esquerda (às vezes à direita)

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