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O teatro saiu à rua e foi para o café discutir os problemas da família

Escrito por
Miguel Branco
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A Família é um espectáculo de Ana Sampaio e Maia, Joana Cotrim e Rita Morais, que é levado à cena num café – o Estrela de Vilhena, no Campo Pequeno. Uma bica e um espectáculo. 

À quarta-feira é dia de cozido à portuguesa. As garrafas expostas são para consumo da casa. A partir das 18.00, há happy-hour: levam-se dois bolos e paga-se um. Joana bebe uma imperial com aquele ar enfadado, não com a cervejamas com a vida. Naquela tarde mandou o patrão à merda, que já o merecia há tempos. Anatrabalha no café de David (irmão de Joana e de Isac, filhos de Carmen, tudo gente que ainda vai chegar para o habitual jantar de família à quarta-feira). Limpa o chão e escuta.

Há música romântica e aquela cobrança ao estilo ficaste-de-me--ligar-ontem-e-nada. A coisa está calma, pelo menos até entrarem os restantes elementos já anunciados. Rita, mulher de Isac, faz anos e também vem. Raquel, mulher de David, parece não querer aparecer. Mas o grande acontecimento do dia foram os dois minutos de fama de Isac, que foi à televisão em representação da empresa, onde também trabalha Joana. E sim, estamos mesmo num café, o Café Estrela de Vilhena, no Campo Pequeno, onde se apresenta A Família – espectáculo de Ana Sampaio e Maia, Joana Cotrim e Rita Morais, a partir de Air de Famille, de Agnés Jaoui e Jean Pierre Bacri – a partir da próxima segunda-feira, 11 de Março. Onde fica até 27.

Foi há coisa de dois anos que começaram a pensar neste espectáculo, depois de Joana Cotrim e Rita Morais terem estado em Bruxelas a trabalhar com Peter Vandenbempt, da companhia Tristero. Impulsionadas pelo conselho de Vandenbempt começaram à procura de cafés onde apresentar o espectáculo. Numa época em que arranjar sítios para ensaiar e fazer peças em Lisboa parece uma epopeia grega, nada como levar o teatro para o café: “Gostámos do texto e achámos muita graça transpor a ficção, proposta pela peça, para um café, fazer o gesto completo. E vimos que era algo relativamente fácil porque não dependíamos de programadores para fazer isto, só tínhamos que arranjar cafés. Achámos que era um gesto político, criar uma transformação nestes espaços, intervir directamente num espaço social, e ao mesmo tempo dava-nos uma certa independência”, enquadra Joana Cotrim.

Voltando ao enredo, é impossível não nos relacionarmos com esta tensão à volta da mesa.

Rapidamente se faz a análise da família, o lugar que cada um ocupa, a irritação desmedida própria de quem se conhece há demasiadas primaveras. E, claro, aquele espaço de cedência, de não podermos dizer tudo porque estes são os nossos desde sempre: “O café é uma coisa estruturada, criar esta ruptura pareceu-nos interessante. Este texto fala de uma família, são questões comuns e universais e o café também tem esta coisa do quotidiano, achámos perfeito a ponte entre a universalidade do texto e destes conflitos familiares e do espaço café, do dia-a-dia”, explica Joana Cotrim. Caso para dizer: uma bica e um espectáculo.

Café Estrela de Vilhena, Rua D. Filipa de Vilhena, 9B. Seg-Ter 21.00. 7-10€
Criação
Ana Sampaio e Maia, Joana Cotrim e Rita Morais (a partir de Agnés Jaoui e Jean Pierre Bacri)
Com Ana Sampaio e Maia, Carmen Santos, David Pereira Bastos, Isac Graça, Joana Cotrim e Rita Morais.

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