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Os anos marginais de Chloé Jafé no Japão chegam a Lisboa em fotografias

Acompanhou mulheres de membros da máfia Yakuza, os esquecidos de Okinawa ou os caídos de Osaka. A trilogia da fotógrafa francesa pode ser vista pela primeira vez em Portugal, na Narrativa.

Rute Barbedo
Escrito por
Rute Barbedo
Jornalista
2017, Naha, Okinawa Tamaki san
Chloé Jafé | 2017, Naha, Okinawa Tamaki san
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Tinha bebido muito vinho, numa tentativa falhada de sanar feridas de amor, quando decidiu ir para o Japão. Foi apenas o início, contado à BBC, da imersão da fotógrafa Chloé Jafé nas subculturas daquele país. Começou pela máfia Yakuza, andou entre os traumatizados de Okinawa e os marginais de Osaka. E são estes três capítulos da sua obra que vamos poder ver de 27 de Junho a 9 de Agosto, na galeria da Narrativa, em Alvalade. "Sakasa" é a estreia da autora em Portugal, mas também uma exposição inédita, ao juntar os três projectos no mesmo espaço. 

Regressando à história, a primeira incursão de Jafé (Lyon, 1984) no opaco universo japonês foi directa à máfia Yakuza, sobre a qual a fotógrafa se questionava onde estariam as mulheres. Decidiu ir atrás delas e, ainda que através dos homens, chegou onde queria. "É horrível, mas... Suspeito que algumas pessoas que talvez não quisessem ser fotografadas acabaram obrigadas a posar para mim, porque eu era amiga do chefe", confessou em 2022 à BBC.

Em I Give You My Life, a fotógrafa mostra as mulheres devotas aos rituais da máfia, as que organizam os jantares e as cerimónias de passagem de ano, as que tomam providências, as que marcam a pele em nome de Yakuza. Até lá chegar, no entanto, foi preciso aprender a língua, inteirar-se nos códigos da cultura, tornar-se funcionária num bar e entrosar-se no circuito "red light" de Tóquio. Só depois pegou na câmara.

2016, Tochigi. Os recrutas cumprimentam um dos chefes depois de uma reunião
Chloé Jafé2016, Tochigi. Os recrutas cumprimentam um dos chefes depois de uma reunião
Japão
Chloé JaféJapão

Em Okinawa Mon Amour, por sua vez, entram também as mulheres, através da prostituição, exploração e precariedade. Focada numa ilha que nunca esqueceu o trauma das armas — a Batalha de Okinawa, em 1945, durante a II Guerra Mundial, é considerada a maior batalha marítimo-terrestre-aérea da história, tendo tirado a vida a muitas dezenas de milhares de civis —, Jafé quis retratar o presente dos que cresceram ou se fizeram marginais nesta ilha isolada do resto do Japão.

2016, Osaka. Jun san. (Fotografia com acrílico e tinta)
Chloé Jafé2016, Osaka. Jun san. (Fotografia com acrílico e tinta)

A trilogia completa-se com How I Met Jiro, um tributo aos caídos de Osaka, em especial do bairro de Nishinari, um lugar fora dos circuitos para onde foi empurrada uma população envelhecida (sobretudo homens), de sem-abrigo, travestis, ex-membros da Yakuza ou de quem decidiu rejeitar os vectores produtivistas da sociedade japonesa contemporânea. 

Chloé Jafé viveu de 2013 a 2019 no Japão. Fotografa sobretudo a preto e branco, intervindo muitas vezes a posteriori nas imagens, com recurso a tinta acrílica e pincel.

Rua Dr. Gama Barros, 60 (Alvalade). 27 Jun-9 Ago, Qua-Sex 14.00-19.00, Sáb 14.00-17.00. Inauguração: 27 Jun, 19.00. Entrada livre

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