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Fazer uma canção
© Estelle ValenteAlex D'Alva Teixeira em 'Fazer uma canção', no São Luiz Teatro Municipal

Para ‘Fazer uma canção’ ou viver a vida, é mais importante sentir do que saber

Alex D’Alva Teixeira vai subir ao palco do São Luiz para homenagear José Barata Moura e para nos ensinar a fazer uma canção – e a cantarmos sobre o que gostamos.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Qual Panda, qual quê. No próximo fim-de-semana, nos dias 10 e 11 de Fevereiro, o rei da festa é Alex D’Alva Teixeira, que evoca José Barata Moura num espectáculo-concerto para todas as famílias, mesmo as mais desafinadas. Com texto de André e. Teodósio, do Teatro Praga, Fazer Uma Canção é uma homenagem ao filósofo e cantautor, reconhecido como um dos maiores contribuintes para o cancioneiro infantil português, do “Olha a Bola Manel” ao “Fungagá da Bicharada”, sem esquecer – o que seria! – a icónica “Joana Come a Papa”. Mas não só. É também uma aula sobre música, filosofia, política e amor. A dar a lição, com muita graça e uma certa dose de vulnerabilidade, temos não o vocalista dos D’Alva, mas Alex, o miúdo grande, que também pensa e faz canções – sempre sobre coisas de que gosta, claro.

“É muito assustador estar a fazer isto agora, no São Luiz”, confessa-nos Alex, que estreou o espectáculo em 2021, no âmbito do Festival Filo-Lisboa, numa versão muito mais curta e sem a actual cenografia, que inclui duas bolas de pilates que parecem berlindes de mármore gigantes. “Geralmente quando me veem em palco, eu estou sempre com pelo menos mais uma pessoa. Aqui, pela primeira vez, a parte da voz, os efeitos, os instrumentais, tudo teve de sair de mim. Pronto, felizmente não tive de compor as canções”, diz, na brincadeira. A verdade é que, além de ter feito novos arranjos para as de José Barata Moura, chega mesmo a interpretar uma das suas. “Mas há aqui uma série de coisas que estou a aprender com o André. Houve também um lado de ‘bora, vamos de cabeça’. O resto, se eu não souber, canto tralalá, tralalá, tralalá, canto com o coração as coisas em que eu acredito.”

Fazer uma canção
© Estelle Valente

No que é que eu acredito, como é que eu vejo o mundo, como é que eu gostaria que as coisas à minha volta funcionassem. Estas são apenas algumas das questões lançadas em cena. As respostas, essas, não estão escritas na pedra. Quem o diz é Alex, que em palco regressa a esse lugar de descoberta que é a infância, em que ainda não sabemos quem somos nem o que queremos fazer quando formos grandes, mas em que estamos muito mais dispostos a experimentar e a falhar para descobrir. “Muitos dos nossos textos”, acrescenta André e. Teodósio, referindo-se à dramaturgia criada no seio das produções do Teatro Praga, “têm coisas da nossa vida, ou coisas que ouvimos ou vemos por aí, na televisão ou na Internet. Eu queria ter a mesma liberdade neste espectáculo, que tem procedimentos que eu acho que têm a ver com o José Barata Moura e vão de encontro ao conceito, mas que também está aberto ao Alex, para que ele não sirva só a minha ideia, mas se possa encontrar dentro dela.”

É só tralalá

Sem ser condescendente, com honestidade e até um nervoso miudinho, Alex fala-nos, por um lado, da importância de pensarmos sobre o que nos rodeia, de defendermos aquilo em que acreditamos e de não abdicarmos de fazer o que nos faz feliz. Por outro, conta-nos que tipo de criança foi, como é que veio aqui parar – a este mundo, mas também a este país e aos lugares que vai tentando ocupar na sua vida enquanto pessoa racializada com pais imigrantes – e, claro, como é que a arte, e a música em particular, o têm ajudado a ter uma voz e a partilhá-la com os outros. “Eu acho que este espectáculo é o espectáculo que eu precisava de ter visto”, partilha André (Alex acena, como quem subscreve). “Que alguém me dissesse: apesar de tudo, faz aquilo que tu queres fazer. O truque é este: é não haver truques. A maneira é esta: é não haver maneiras. É ir tentando, errando, tentando. Ires descobrindo aquilo que queres fazer, como queres fazer.”

Na folha de sala, há uma pergunta que se destaca – “De que matéria é feita a música?” – e, se não era claro antes, é claro agora: da mesma matéria que a vida. Quando Alex nos diz, durante o espectáculo, que nem sequer é preciso saber as notas, o que quer dizer é que, mais importante do que saber, é sentir. “Quando eu tinha seis anos, queria ouvir as Spice Girls, os Vengaboys, as coisas que os meus primos mais velhos ouviam. E, quando dei aulas de música na Escola Primária do Castelo, lembro-me de às vezes meter só música para os miúdos ouvirem, dançarem e aprenderem géneros musicais novos, uma série de coisas que não foram necessariamente feitas a pensar na infância. As pessoas têm medo que os sons sejam agressivos, têm medo do tom com que se fala, das palavras que se usam, mas qual é o problema de um grande batidão?”, questiona o músico.

Tratar as pessoas mais novas enquanto entidades em formação intelectual, mas que não têm de estar subordinadas a um único tipo de sonoridade ou linguagem ou representação é a missão que André e Alex se propõem cumprir. “A maior parte dos adultos segue uma lógica de observação e adopta certos comportamentos em determinados contextos, porque quando éramos crianças, tantas vezes e tantas pessoas nos mandaram calar. Mas antes disso se naturalizar, somos mais livres de alguma forma, questionamos mais. Isso é a génese do Teatro Praga, resistir a essa ditadura que nos diz que não podemos fazer isto ou aquilo assim ou assado”, explica André. “É muito difícil encontrar pessoas que atravessam espaços tão diferentes, que estão em constante mutação, que se estão a descobrir a cada momento. Mas queremos dizer que é ok, que é possível, que é válido.”

São Luiz Teatro Municipal. 10-11 Fev, Sáb-Dom 16.00. 3€-7€

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