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Surma no Farol da Nazaré
SoundscapeSurma no Farol da Nazaré

Portugal, os sons e as vistas: esta série quer levar o país lá para fora

“Um artista, uma faixa, uma paisagem”: o Soundscape quer mostrar o melhor do país e da nova música portuguesa. Falámos com o realizador Yoann Le Gruiec.

Raquel Dias da Silva
Escrito por
Raquel Dias da Silva
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Está um dia nublado, a ameaçar chuva, mas Yoann Le Gruiec não dispensa a esplanada – encontramo-lo a beber café e a ouvir música, de fones nos ouvidos, entre o Martim Moniz e o Intendente. O realizador com dupla nacionalidade, francesa e inglesa, está enamorado por Portugal, em especial por Lisboa. “Estive cá o mês inteiro de Janeiro, a filmar. Já cá tinha vindo antes, umas duas ou três vezes, sempre por curtos períodos de tempo. Mas nunca tinha experienciado o país como durante o segundo confinamento, em Outubro de 2020”, diz-nos Yoann, responsável pelo Soundscape, um projecto audiovisual à procura de internacionalizar a música e a paisagem portuguesa, um vídeo de cada vez.

O realizador, que também é produtor e director de fotografia na produtora francesa Why So Serious, estava em Lisboa quando, há dois anos, o Presidente Emmanuel Macron decretou novo confinamento em França. Sem vontade de ir para casa, decidiu ficar. “A escolha era entre voltar para Paris e não poder fazer nada ou ficar cá e ter uma certa liberdade. Preferi aproveitar a oportunidade para passear. Visitei Carcavelos. Depois fui para a Ericeira – tinha planeado ficar três dias e acabei por lá estar mais de uma semana. Estive também em Peniche e na Nazaré. Quando voltei a Lisboa, em Dezembro de 2020, vi a cidade como nunca antes”, confessa-nos. “Esta rua [do Benformoso], adoro-a. Tem tanta vida e multiculturalismo.”

A “diversidade e a riqueza portuguesa” conquistaram Yoann de tal maneira que, de repente, estava a reunir uma equipa – são pouco mais de uma dúzia de elementos, entre amigos com quem trabalha em França, há mais de uma década, e pessoas com as quais se foi cruzando por cá – para documentar e mostrar Portugal “como a Califórnia, ainda desconhecida, da Europa”. A proximidade desconcertante do rio e do mar, as vistas de cortar a respiração (“a variedade, as cores, a luz”) e, claro, a música. “Descobri imensa música brasileira. Baile funk, por exemplo. Adoro todos os txu, txu, txu, tá, tá. Mas não só. Não esperava descobrir folk, techno, hip-hop, electro e todos os diferentes géneros musicais originários dos PALOP, como kuduro, funaná e kizomba. Foi surpreendente perceber como, apesar de viver tão perto, não conhecia nada disto.”

Co-realizador de séries documentais como Music On The Road, sobre a cena musical norte-americana, Yoann quer fazer mais ou menos o mesmo com Portugal: dar a conhecer o país e a cultura através dos seus sons e cenários. Para o efeito, criou um canal de Youtube onde tenciona promover o talento local em 36 episódios. O primeiro saiu no início de Janeiro, conta com a pop electrónica de Surma, nome artístico de Débora Umbelino, e leva-nos até ao Farol da Nazaré. Seguiram-se Shaka Lion, Scúru Fitchádu e DJ Danifox, que também foram desafiados a falar sobre o seu percurso, influências e processo criativo. A ambição é essa, continuar a convidar diferentes artistas para interpretar temas originais numa paisagem “com carga afectiva”. Para Surma, a escolha da Nazaré foi fácil: a vila fica no distrito de Leiria, onde nasceu e cresceu, na aldeia de Vale do Horto.

“Foi incrível começar com a Surma. Para mim, a música dela é uma mistura de Björk e CocoRosie. Ela usa a voz como um instrumento e transporta-nos para o seu mundo. O Farol da Nazaré também tem uma atmosfera muito própria, meio sombria. A paisagem diz muito sobre a pessoa, não os quereria registar num lugar qualquer”, diz o realizador, que faz questão de não filmar em espaços interiores ou descaracterizados. “Estamos a fazer tudo de forma totalmente independente, o que nos dá liberdade, mas também significa estarmos inteiramente responsáveis pelo financiamento do projecto”, partilha Yoann, que entretanto lançou uma campanha de crowdfunding para angariar um total de 12 mil euros. “É difícil e desafiante. A questão é que, honestamente, adoro contar histórias e gostava muito de dar a conhecer a música portuguesa à Europa. Há coisas incríveis a acontecer cá, que continuam a não receber muita atenção, e acho que isso pode mudar. Esse é o meu objectivo.”

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