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Se Acreditares Muito
ALIPIO PADILHASe Acreditares Muito

Quando o pior acontece, o que devemos fazer? Rupert e Alex não sabem, mas respondem

‘Se Acreditares Muito’ é encenada por Flávio Gil e estreia esta quinta-feira, no Teatro da Trindade. Leva-nos a conhecer um casal ao qual o impensável acontece.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
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Tudo começa com um olhar, com um encontrão a caminho das escadas rolantes do metro, com um café entornado em cima da roupa. O tudo começa de um nada, de uma pequena insignificância, de um olá apressado, de um adeus prolongado. E, depois de tudo começar, depois de tudo o que parece simples se tornar complicado, é quando tudo deixa de fazer sentido. Um dia, Rupert e Alex conhecem-se no metro. Começam a namorar e, quando menos esperam, perdem o seu primeiro filho recém-nascido e, com ele, um sentido para onde seguir. No Teatro da Trindade, encontramo-los a navegar um processo de luto, em que um tenta ser o amparo do outro. 

É Rupert quem conhecemos primeiro. Conta-nos acerca do dia em que se conheceram, o que ele vestia, o que Alex vestia, o que ele disse, o que ela respondeu. Alex entra, pouco tempo depois. Em cena, o texto de Cordelia O’Neill, actriz e autora inglesa, ganha vida sob as palavras das duas personagens que, durante toda a peça, se encontram sozinhos. “Tendo uma linguagem aparentemente mais contemporânea e mais simples, o texto não é menos rico, pelo contrário, é um texto com muitas camadas e é um texto que, aliás, durante o trabalho fomos descobrindo cada vez mais coisas para além das óbvias que estavam nessas camadas mais escondidas”, explica o encenador, Flávio Gil, após um ensaio na sala estúdio do Trindade.

Se Acreditares Muito
ALIPIO PADILHASe Acreditares Muito

Ao longo do espectáculo, as luzes vão pontuando as mudanças de registo. Como se estivéssemos a viajar pela mente de Rupert, os momentos são intercalados por passagens em que o próprio se volta para o público, tal e qual um narrador, acompanhando-nos pelos seus pensamentos e por estes momentos. A própria cenografia, que conta apenas com algumas estruturas em módulos, torna-se essencial para o tipo de linguagem que se vai estabelecendo em palco. Ora estamos no primeiro encontro do casal, ora estamos na sala de partos, ora estamos numa sessão de terapia. “Tudo isto se passa na memória dele, no pensamento dele, por isso também o texto é tão bem construído em que umas memórias interrompem outras e rompem sobre outras e, por isso, o cenário se confunde entre si e daí que estas coisas que acontecem, abruptas, é porque a memória não é uma coisa tranquila, muito menos uma memória dolorosa”, continua. 

Ao ruído que se abate sobre Rupert e Alex, que foram pai e mãe apenas por uns segundos, segue-se uma jornada que realça o distanciamento entre os dois, potenciado pelo processo de luto de cada um. Ao contrário de Rupert, Alex faz um luto muito mais intenso e visceral, em que as suas emoções a levam ao limite. Porém, é quando os intérpretes nos levam àquilo que será o cerne da dor deste casal que o texto nos traz à tona, com um comentário engraçado ou inusitado. “Há aqui uma dramaturgia que eu acho rara hoje, da dinâmica do texto que é como ele te conduz até aquele ponto e, de repente, te surpreende e te dá a volta por outra zona. E depois leva-te ao limiar do sofrimento e, de repente, traz um comic relief exactamente na altura certa. Não o precipita nem o atrasa.” 

Se Acreditares Muito
ALIPIO PADILHASe Acreditares Muito

Em torno do espaço onde se movimentam os dois actores, circunda-os um círculo de lã, que representa uma espécie de “zona uterina”. Nele, Rupert e Alex são confinados num lugar que representa o seu luto e aquilo por que estão a passar, mas que, por outro lado, tenta também ser espaço para encontrarem alguma tranquilidade e paz.

No fim, voltamos ao início, onde tudo começou. No metro, ele vestia um fato azul e uma gravata vermelha, ela uma saia azul. Esbarraram um no outro e, do nada, Rupert e Alex tornaram-se o Rupert e Alex que conhecemos. Se Acreditares Muito estreia esta quinta-feira, 16 de Maio, na Sala Estúdio do Teatro da Trindade, onde pode ser vista até 30 de Junho.

Teatro da Trindade. 16 Mai-30 Jun. Qua-Dom 19.00. 9€-12€

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