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Rádio Miúdos, de Portugal para o mundo

Há uma rádio portuguesa que fala para miúdos de todo o mundo. Conversámos com um dos adultos que coordena a equipa de palmo e meio.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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Desde 2015 que as crianças portuguesas, e não só, têm uma rádio à sua medida. E são elas as protagonistas da Rádio Miúdos, composta por uma valente equipa de jovens locutores, que escolhem as canções, fazem as entrevistas e falam sobre temas que vão da música à filosofia. No site, é fácil encontrar a aplicação para ouvir a emissão online, mas há mais: é possível navegar por entrevistas, podcasts e rubricas como o Disco do Mês, ler notícias sobre a própria rádio ou explorar o trabalho de várias rádios-escolas, resultado da parceria com várias escolas do país.

O dono disto tudo (ou melhor, o coordenador de produção e um dos fundadores do projecto) é João Pedro Costa, que também dá uma perninha como formador, uma experiência que já vem de trás, mas com adultos. Sempre foi jornalista de rádio e alinhou no desafio de criar uma rádio exclusiva para miúdos, dos zero aos 15 anos. “Acabámos por dar-nos conta de que eles aprendem mais rápido do que os adultos. O desafio é ter de ensinar tudo do básico e num formato de storytelling. Mas ao mesmo tempo de lhes mostrar que o jornalismo é uma coisa séria que aqui pode ser aprendida mais em tom de brincadeira, sem deixar de ficar com as bases técnicas do que é, do que se faz. Coisas curiosas como proteger fontes, que para eles é sempre uma coisa muito vaga”, explica o jornalista, que foi adaptando aos mais novos algumas das técnicas de formação a jornalistas de audiovisual.

O estúdio da Rádio Miúdos fica no Bombarral – a ideia foi não sediar mais um projecto em Lisboa e descentralizá-lo para dar oportunidade a crianças de outros concelhos. “Havia um espaço no Bombarral que estava desocupado e decidimos que calhava bem. As coisas nunca acontecem fora dos centros urbanos. Conseguimos reunir miúdos de uma zona meio deprimida economicamente e pôr a rádio a funcionar com locutores daqui. Não são só os do Bombarral: são de Torres Vedras, das Caldas e do Cadaval. Temos três dezenas de miúdos como locutores, todos os dias, a fazer programas em directo”, explica.

A rádio é feita por miúdos sim, mas também por adultos que fazem coisas para eles e discutem temas como filosofia, psicologia, património. É o caso do programa Filosofia é coisa para crianças, de Joana Rita Sousa, filósofa habituada a trabalhar com jovens em escolas, ginásios e centros de estudo. Está na Rádio Miúdos desde o primeiro dia e é também a responsável pelo mais recente programa da grelha, chamado Nunca tinha pensado nisso. “Foi ela que lançou o desafio de uma pergunta por semana para eles responderem e fazerem polémica sobre o assunto. A pergunta desta semana, por exemplo, é ‘O que é ser estranho e o que é ser normal?’. As perguntas da Joana são sempre muito pertinentes”, elogia João Pedro. Todas as terças-feiras é lançada uma questão no Instagram e as respostas acontecem à sexta-feira.

Outra novidade é o Canal Miudinhos, para crianças mais pequenas, um sonho antigo que foi agora possível graças ao crescimento da equipa de adultos da rádio. “No início a ideia era criar quatro canais: dos zero aos três, dos três aos seis, dos seis aos nove e dos nove aos 15. Depois percebemos que isso era pouco realista, porque obrigava a um enorme esforço por parte da equipa. Felizmente conseguimos arranjar estrutura para começar agora. Mas para o ano já haverá a intervenção de miúdos e adultos a criar produtos e, quem sabe, arranjar programas diários em directo para os miúdos mais novinhos”, revela o coordenador.

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A rádio vai à escola
A Rádio Miúdos vai muito além do estúdio no Bombarral. Actualmente tem parcerias com 21 escolas básicas portuguesas, dez das quais em Lisboa, onde forma a comunidade escolar para a criação de rádios-escolas. “Formamos a comunidade escolar e não só os miúdos. Formamos os professores, os auxiliares de educação e inclusive os pais”, diz João Pedro, que acredita que a rádio é um caminho para a cidadania. “O que eles aprendem vai-lhes servir para o resto da vida, acreditamos nós. E uma rádio na escola é um meio de comunicação social como outro qualquer. Eles têm o privilégio não só de aprender técnicas como depois ter a possibilidade de dar notícias do que se passa na escola e na comunidade.”

Também muito importante neste projecto é que seja sustentável nas escolas. “O que acontecia com as rádios-escolas era um professor que era carola e fazia a coisa toda para acontecer um estúdio, mas depois era transferido e tchau. Porque não foi capacitada a escola, nem a comunidade escolar para continuar o projecto para além de um professor carola. O nosso programa é de três anos, exactamente para capacitar as escolas de forma a que no final da nossa intervenção eles possam autonomamente continuar.”

Além-fronteiras
Uma das missões desta rádio é que crianças espalhadas pelo mundo possam praticar a língua portuguesa e manter ou estreitar a ligação a Portugal através da lusofonia. E se há novas rádios em escolas de Portugal, a Rádio Miúdos ajudou a criar outras em Macau, Timor, Lyon, Berlim ou Bona.

“A Rádio Miúdos teve como base a ideia de que era preciso um meio de comunicação social para que os miúdos, por um lado, pudessem ter uma voz séria, onde os adultos os ouvissem com seriedade. E ao mesmo tempo juntar os miúdos na lusofonia. Fazer-lhes entender que a lusofonia não é uma série de países, é uma língua”, defende João Pedro, que lamenta o facto de a língua portuguesa ainda não ser língua oficial na UNESCO ou na ONU. Mesmo quando é a quinta mais falada no planeta. Actualmente, na equipa fixa da Rádio Miúdos também pode ouvir português vindo de longe, pela voz de Aissah, a primeira locutora a fazer emissões directamente de Cabo Verde.

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