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©Natalie SeeryAfterlife

Ricky Gervais sem filtros (outra vez)

Cláudia Lima Carvalho
Escrito por
Cláudia Lima Carvalho
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Depressão, luto e suicídio. Temas tão pesados que fica difícil pensar em After Life como uma comédia. Mas se há alguém que sabe brincar com o que não deve é Ricky Gervais.

Há alguma forma de falarmos de suicídio sem ficarmos nervosos? Sem surpresa, Ricky Gervais mostra-nos que sim. After Life, escrita, realizada e protagonizada pelo criador de The Office, é uma comédia dramática, às vezes difícil de se ver, sobre um homem em sofrimento.

Fica até difícil de se falar em comédia quando o tema no centro de tudo é tão pesado, mas Gervais quebra as regras, uma vez mais, e desmistifica tudo o que pensamos saber sobre televisão.

Perito em pôr o dedo na ferida sem pruridos, o humorista britânico interpreta a personagem de Tony, um jornalista. Tinha uma vida perfeita até à morte da sua mulher Lisa (interpretada em flashbacks por Kerry Godliman). Como continuar a viver depois de uma tragédia assim? O suicídio parece a resposta imediata, mas quem é que alimentaria depois o cão? “Se ao menos conseguisses abrir uma lata”, diz às tantas Tony ao seu pastor alemão, decidindo assim que viverá o suficiente para castigar o mundo dizendo e fazendo o que bem entende, sem se preocupar com ninguém.

“Se fizer e disser o que quiser e tudo se tornar insuportável, posso sempre matar-me. É como um superpoder”, justifica o jornalista, que passa a ser, provavelmente, o homem mais rezingão e mal educado lá do burgo. Mas tudo se complica quando aqueles que lhe são próximos o tentam salvar com as memórias do bom homem que chegou a ser.

Dividida em seis episódios de 30 minutos, After Life tem momentos realmente tristes em que tudo o que conseguimos ver é um homem em luto deprimido sem saber o que fazer da vida, que partilhou com a mulher durante 25 anos.

Lisa bem que deixou vídeos de apoio ao marido e todo um guia para Tony se safar, mas de pouco adianta, afinal quando se chega a um ponto em que nada nem ninguém importa, qualquer coisa é possível.

Para quem assiste, fica um sentimento até um pouco estranho: compaixão. “Acho que as pessoas percebem por que é que o Tony diz e faz aquelas coisas. Por causa disso, é como se o conseguíssemos perdoar”, disse o humorista ao Digital Spy.

Mas como já seria de esperar, Ricky Gervais não consegue escapar à polémica, mesmo que diga que não a procura. Há duas cenas, para já, que estão a dar que falar: uma em que Tony responde a um miúdo que o chama de pedófilo e outra em que se droga com heroína.

Gervais não quer saber, como nunca quis, tendo já tantas vezes explicado que aceita as consequências de tudo o que faz. Sabe que há tanta gente que vai gostar do seu trabalho, como aqueles que não o vão aprovar.

Não é de estranhar por isso que, nos últimos anos, o tenhamos visto mais na Netflix do que na televisão tradicional. Um preço a pagar pelo que faz? Talvez, mas ele não quer saber – e ainda bem.

Netflix. Sex (estreia).

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