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Señorita 89
©DRSeñorita 89

‘Señorita 89’ mostra os obscuros bastidores dos concursos de beleza na América Latina dos anos 80

A nova aposta da TVCine Emotion junta uma produtora chilena, uma criadora argentina, uma argumentista boliviana e uma história mexicana. Estreia na segunda-feira, 13.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
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“Era uma vez um bosque encantado. Um lugar mágico onde as mulheres mais bonitas do país iam aprender a ser rainhas.” Podia ser o início de um livro infantil em direcção a um final feliz, mas neste caso é a narração que dá o arranque a Señorita 89, uma história que não é de encantar, acompanhando o lado mais negro dos concursos de beleza. Aqui, no ano de 1989, no México, onde decorre a acção desta série criada por Lucía Puenzo. A premiada argumentista e realizadora argentina assume o papel de showrunner e também de co-realizadora de dois episódios, ao lado do irmão Nicolás Puenzo. A produção, que se estreou no Chile e no México há sensivelmente um ano, chega à TVCine Emotion a 13 de Fevereiro, numa altura em que já está a ser preparada uma segunda temporada.

Um grupo de 32 jovens mulheres, rainhas de beleza nos respectivos estados mexicanos, são levadas para uma propriedade isolada na floresta chamada La Encantada. É aí que se irão preparar durante três meses para a grande competição de Miss México, com a ajuda da matriarca do concurso e de maquilhadores, formadores ou mesmo cirurgiões plásticos. Lá chegadas, munidas de sonhos de uma vida melhor, para si e para as suas famílias, são impedidas de contactar com o mundo exterior, medidas a régua e esquadro para serem “aperfeiçoadas”, e são tratadas como mercadoria.

Mas há crime e mistério à mistura neste argumento. A acção arranca no final da preparação das concorrentes, numa festa que decorre em La Encantada, durante a qual uma das correntes cai (ou é empurrada?) do topo do edifício. A partir daí, voltamos ao início e acompanhamos a entrada das 32 rainhas de beleza na propriedade, ainda entusiasmadas com a oportunidade. Mas depois descobrimos o lado mais negro destas competições de beleza. “Muitas raparigas às vezes desapareciam no concurso e eram trocadas por outras, por motivos diferentes”, conta Lucía Puenzo, com quem falámos por telefone, dando como exemplo uma concorrente que era mãe, que ocultou essa informação da organização e, para seu azar, foi descoberta.

Ximena Romo
©DRA actriz Ximena Romo (Elena)

Cada um dos nove episódios tem o nome de uma personagem feminina e a primeira em destaque é Elena, licenciada em Ciências da Comunicação, a fazer um mestrado em História, que se quer infiltrar no concurso para depois contar a história. Consegue acesso, propondo ser professora de cultura geral das participantes, com o argumento de tratar do interior das misses, enquanto os outros se vão ocupando do exterior.

Mas o ponto de vista de Elena é apenas um de muitos que vamos acompanhando ao longo desta história. Lucía Puenzo explica a importância de termos vários olhares sobre uma história inspirada em situações reais. “A Elena é uma mulher branca, com estudos, que entrou neste mundo para fazer um artigo sobre o que lá testemunhasse. E achámos que seria arriscado que a nossa perspectiva fosse apenas da Elena. Seria muito mais verdadeiro para a história, muito mais realista, entender que as concorrentes não são apenas meninas pobres de outros cantos do México. Na verdade, são mulheres muito inteligentes que sabiam o que estavam a fazer e simplesmente entraram nesse ambiente horrível. Queríamos mostrar como um grupo de mulheres jovens, e não apenas uma mulher branca que assistia à representatividade do México, veria este mundo através de seus olhos, uma visão real do que era esse mundo.” Um mundo onde está, por exemplo, representada a comunidade indígena e a sua linguagem, que conhecemos melhor através da personagem Ángeles, uma das muitas representações de mulheres mexicanas que aqui se tornam amigas, “mesmo sendo tão tremendamente diferentes”, descreve Lucía Puenzo.

Lucía Puenzo é argentina, a argumentista é boliviana (María Renée Prudencio), a empresa que produz a série é chilena (Fabula) e o elenco é mexicano, numa série que acaba por abrir uma janela sobre uma realidade transversal a vários países da América Latina. Na pesquisa que fez juntamente com outras autoras de Señorita 89, sublinha que “as mulheres eram realmente mercantilizadas pelo poder dos media, dos homens de poder e política”, e entenderam que tinham nas suas mãos um thriller policial, mas também “um drama muito político”. A produção da segunda temporada foi confirmada em Outubro passado, mas ainda não há data de estreia. Sabemos que contará com Lucía Puenzo e a acção avançará para a década de 90, onde duas redes de televisão irão competir por lançar a próxima rainha de beleza mexicana.

TVCine Emotion/ TVCine+. Seg 22.10 (estreia)

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