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Shellac, Lucrecia Dalt e Souls of Mischief vão passar pelo B.Leza

As bandas norte-americanas e a compositora sul-americana são os principais destaques da programação da histórica sala lisboeta para os próximos meses.

Luís Filipe Rodrigues
Escrito por
Luís Filipe Rodrigues
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O barulho demolidor dos Shellac. O hip-hop dos históricos Souls of Mischief. A música popular brasileira de Sessa (ex-Garotas Suecas). As experiências electrónicas de Lucrecia Dalt. Todas estas músicas se vão ouvir, nos próximos meses, na mesma sala onde vamos assistir aos concertos de apresentação dos novos discos de Luca Argel, Beatriz Pessoa, Margarida Campelo e Cave Story. Essa sala é o B.Leza.

Desde 1994 que o nome B.Leza é sinónimo de música africana (sobretudo cabo-verdiana) em Lisboa. Primeiro no Palácio Almada Carvalhais, depois em itinerância pela cidade e por fim no edifício que agora ocupa, no Cais do Gás, para onde se mudou há mais de uma década. Contudo, nos últimos meses, do seu palco têm brotado também músicas de outros lados: rock independente, folk anglo-saxónica e portuguesa, jazz de vistas largas. 

Esta maior abertura estética deve-se em parte a Sérgio Hydalgo, que durante anos esteve à frente da música da ZDB, de onde saiu em 2020 – quando a pandemia de covid-19 já se tinha abatido sobre nós, mas ainda não sabíamos o que nos esperava – para fundar a sua própria editora e estrutura curatorial, a Canto Discos. Nos últimos tempos, apesar de continuar a trabalhar com outras salas, tem programado vários espectáculos no B.Leza.

“O B.leza tem feito um trabalho importante, sério e consistente, em cartografar as músicas da diáspora africana em Lisboa”, começa por sublinhar Sérgio Hydalgo, que há uns meses foi desafiado pelas irmãs Madalena e Sofia Saudade a ajudá-las a repensar a programação e o que pode e deve ser a sala do Cais do Gás. “Tenho procurado expandir a matriz de programação a outras latitudes, corpos e identidades. Queremos um B.leza plural e aberto, transgeracional, num justo equilíbrio entre tradição e as novas linguagens contemporâneas.”

“Há um desejo em potenciar o diálogo entre várias músicas e danças”, continua. “A programação das próximas semanas é um exemplo disso: haverá funanás de Ferro Gaita ou Fogo Fogo, a tradição de Monte Cara e da banda B.leza em comunicação com Arapucagongon, Éllàh ou Cachupa Psicadélica, mas também o afro-house, o vogue ou hip-hop das festas Dancer’s Delight, os sets da Marega Ambientes, os boleros futuristas de Lucrecia Dalt ou o tropicalismo de Sessa.”

Com direcção artística da performer, coreógrafa e activista Piny, a primeira festa Dancer’s Delight é também o momento iniciático da programação de Março. O objectivo é trazer as danças urbanas contemporâneas para o centro da cidade e, na noite de 2 Março, vai escutar-se o afro-house de Dotorado Pro, Fvbricia e Xenos. Segue-se, a 13 de Abril, uma noite dedicada ao voguing, organizada pela Pump da Beat; e a 25 de Maio, com a curadoria do espaço artístico My Own Style, vai dançar-se ao som do hip-hop.

Mas calma. Ainda esta semana, no sábado, há um concerto do duo Arapucagongon, de Jhon Douglas e Henrique Silva. A 11 de Março serve-se Cachupa Psicadélica. No dia 18 toca Éllàh, enquanto a 24 sobe ao palco a histórica Banda Monte Cara. E para a noite de 30 está marcada a festa Marega Ambientes, organizada por Soya, também do Dengo Club. O destaque do mês, não obstante, é a data de apresentação de Sabina, o novo álbum do brasileiro Luca Argel, sambista politicamente engajado que por agora vive em Lisboa.

Logo a 4 de Abril, o B.Leza recebe Lucrecia Dalt, autora colombiana de uma electrónica experimental e futurista, dentro da qual o jazz e as músicas tradicionais do seu país se misturam e reconfiguram. O seu ¡Ay! foi editado pela incomparável RVNG Intl. e considerado o melhor disco do ano passado pela revista The Wire. Em Lisboa, numa actuação programado em parceria com a ZDB, terá a companhia do duo de Pedro Alves Sousa & Violeta Azevedo na primeira parte. Um luxo.

Todavia, reduzir a programação de Abril, no B.Leza, a Lucrecia Dalt seria uma tremenda injustiça. Até porque, logo no dia 6, a sala à beira-rio recebe os Souls of Mischief, veteranos do hip-hop californiano que vêm a Portugal celebrar o 30.º aniversário do álbum 93’ Til Infinity. Os Ferro Gaita, a 14, Beatriz Pessoa a apresentar o álbum Prazer Prazer, a 20, e os Fogo Fogo, no dia 28, são outros nomes em destaque até ao fim do mês.

Já em Maio destaca-se a apresentação do álbum Wide Wall, Tree Tall, dos Cave Story, banda de indie rock portuguesa com um leque de referências cada vez mais aberto. A edição está marcada para 31 de Março, mas só a 18 de Maio é que o quarteto vai tocar cá. Junte-se a isto mais outro concerto de lançamento, neste caso do disco Supermarket Joy de Margarida Campelo, a 11, e a passagem do brasileiro Sessa por Lisboa, no dia 22 (e pelo CCOP, do Porto, via Lovers & Lollypops, no dia seguinte), e percebe-se que o mês já está bem composto.

O melhor, porém, ficou para o fim. Mais concretamente, para 6 de Junho, data em que Lisboa recebe os Shellac, banda-instituição do indie rock norte-americano mais duro, capitaneada desde a década de 1990 por Steve Albini, mentor dos seminais Big Black e produtor de meio mundo. Estamos habituados a vê-los no Primavera Sound, mas quem já os viu fora desse contexto sabe que são capazes de muito mais e melhor. Na primeira parte actua a cantora portuguesa Puçanga. E depois, a 17 e 24, há mais um par de noites dedicadas à cultura vogue e ao Ballroom.

Todas estas noites e concertos têm o dedo de Sérgio Hydalgo, mas a sua actividade não se circunscreve às paredes do B.Leza. Nesta terça-feira, 28, à noite, vai estar a representar a Canto Discos no Vago, em modo DJ. E tem mais uma cartada na manga, que ainda não está em condições de anunciar – talvez daqui a uns dias. É um nome criticamente celebrado, que pede uma sala maior do que o B.Leza. “Há propostas que podem funcionar melhor noutros contextos, que pela sua especificidade exigem uma maior intimidade ou, pelo contrário, espaços ainda mais amplos”, justifica. “Interessa-me explorar formatos, cruzar disciplinas artísticas e públicos.”

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