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Afuri Ramen + Dumpling

  • Restaurantes
  • Parque das Nações
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado
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    Mariana Valle Lima
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    ©Mariana Valle LimaTonkotsu shio (12€)
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    Mariana Valle LimaKakuni chashu gohan
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A Time Out diz

3/5 estrelas

O Afuri estendeu-se ao Parque das Nações. Alfredo Lacerda foi lá debater sobre cadeias de restaurantes e noodles caseiros.

Foi um jantar com três adolescentes inquisitivos. Logo no início, o meu filho pergunta: “Há algum restaurante de cadeia que adores?” “Ora, claro que sim”, respondo. A mesa fica em suspenso. Com a rispidez de quem tem a cara com acne e se andou a intoxicar de véspera em Santos, a minha filha procura encurralar-me: “Diz-me um restaurante de cadeia de que tenhas escrito bem?”

Estão todos com o mesmo ar reprovador. Acham que sou um snob gastronómico.

“Já disse bem do Italian Republic, por exemplo.” Não acreditam. Procuro no telemóvel a crítica ao restaurante, aberto nos idos de 2017, em Alvalade. Cito o primeiro parágrafo: “Quando há uma inauguração, os alvaladenses põem a camisa aos quadrados, o pullover aos ombros e são capazes de esperar uma hora na fila para comer um bocado de comida mediana.” Ups.

Mediana. “Mas há restaurantes de cadeia bons, óptimos. De certeza. Eu é que não me lembro”, insisto. Procuro convencê-los dando o exemplo deste Afuri, que tem restaurantes nos EUA, Singapura, Hong Kong e Lisboa. “Acho que vai ser bom.” A massa é feita na casa; o caldo dos ramen também; e o dono da marca é japonês.

De resto, está toda a gente bem impressionada, sobretudo o adolescente do meio, mesmo antes de levar à boca uma guioza que seja. Gosta de linhas limpas e modernas e o restaurante é um open space decorado a branco e preto e madeira, vidros a toda a volta, a cozinha aberta, muitos candeeiros pendentes. Um bonito restaurante de cadeia, ainda para mais com o apelo digital e juvenil das máquinas para se fazer o pedido, típicas das ramen joints de Tóquio.

No caso, optamos pelo serviço humano e analógico. O menu é complexo. O empregado de mesa, também. “É difícil sugerir ramen”, diz-me. Pode explicar as diferenças entre eles, então? “Um tem yuzu, o outro não; um tem picante, o outro não; um tem caldo de frango, o outro de porco.” Venha um de cada, por favor. “E sobre os dumplings, quais são os mais populares?”, volto à carga. “É difícil”, responde.

Tudo é difícil. Outra dificuldade: a água. Pede-se uma garrafa, só há água filtrada. Pede-se sem gás. A sobrinha queixa-se. “Isto é água com gás.” A garrafa está praticamente sem bolhinhas, mas o sabor é de água com gás. O rapaz acorre. “Não, não. É água sem gás. Eu pedi sem gás no balcão.” Faço notar: “Pode ter pedido, mas tem gás.” O rapaz vai confirmar com a colega. Volta. “É sem gás.” O adolescente cientista da mesa não está convencido. Quer tirar a prova dos nove. Seca bem um copo com um guardanapo. Depois vaza a garrafa lá para dentro. “É assim que se vê se tem ou não gás.” As paredes do copo enchem-se de bolhas. O empregado fica impressionado, ficamos todos. “Peço desculpa, é porque trocaram as garrafas lá dentro.”

Avancemos. Os ramens vêm certinhos, mas não fumegantes: um ramen que não fumega é como um gelado que não congela. O tonkotsu é o mais encorpado dos três provados, com caldo de porco, não particularmente espumoso. O clássico yuzu shio é leve e cítrico, prato de assinatura da cadeia. E, para mim, o melhor: o ninniku shoyu, com óleo de alho negro e pasta de alho picante. Todos complexos, saborosos, todos curtos em carne (chashu, carne da barriga do porco, enrolada e assada).

Então e os noodles caseiros? Os noodles caseiros serão a maior inovação deste Afuri relativamente ao irmão do Chiado, inaugurado em 2018. São feitos numa máquina, instalada à entrada, à vista das pessoas, um esparguete fino. Bons, mas não melhores do que os noodles caseiros que se comem em algumas lojas de ramen chinês (Tasty Noodles, Noodles Delight, por exemplo?), onde a manufactura é manual e não mecânica. E o mesmo digo dos dumplings, a outra atracção da loja do Parque das Nações. Estes dumplings ou guiozas são bons, mas não tão bons como uns guo tie de um restaurante chinês, feitos à mão.

A diferença, caros adolescentes e companhia, está nisto. O Afuri tem uma máquina que permite fazer 300 guiozas por hora. E outra que permite cozer 500 litros de caldo, para os ramen. Acresce, que empregados e cozinheiros são treinados, também, para serem máquinas, para fazerem tudo como foi prescrito na ficha técnica e na formação. Ora, as máquinas são desprovidas de amor. E o amor é o mais importante dos condimentos de um restaurante.

O ramen do Afuri é bom, está bem pensado, mas eu troco-o sem pestanejar por uma loja de ramen como o Honda’s, de que aqui falei há umas semanas.

Por isso, a resposta à pergunta do primeiro parágrafo é: não, até ver, não há um restaurante de cadeia que eu ame. Deste snob que vos adora.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Av. Dom João II 45
Lisboa
1990-221
Horário
Seg-Sex 12.00-15.00, 18.00-23.00, Sáb 12.00-23.00, Dom 12.00-22.00
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