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Akla

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  • São Sebastião
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A Time Out diz

Um empregado dedicado acompanhou-nos dedicadamente, nos primeiros momentos. Perante o vazio desolador da sala, sentiu-se na obrigação de justificar: “À noite enchemos, sobretudo desde que fomos considerados o melhor restaurante de hotel do mundo.”

Alto e pára o baile. Parêntesis. (Em Julho do ano passado, a Internet portuguesa comunicou orgulhosa, em vários sites noticiosos, que o Akla havia ganho um “prestigiado galardão”, na vertente de cozinha portuguesa. Que galardão? Uma pequena investigação no arquivo do Google remeteu para o World Luxury Hotel Awards, empresa que se dedica a atribuir prémios a candidatos que pagam umas centenas de euros para se candidatarem, em mais de 100 categorias. Em troca do fee, lia-se nos termos e condições, o WLHA comprometia-se a “um extenso marketing global e exposição ao longo do ano”.).

Dito e feito. Depois da distinção, em toda a comunicação sobre o Akla passou a estar presente a referência ao “melhor do mundo”. Apesar de nunca se explicar quem participou, quem avaliou, como avaliou, o que avaliou, e muita gente acabou por lá ir à conta disso.

Incluindo este vosso escriba. Sucede que o meu relatório não bate certo com o dos inspectores do WLHA. Vejamos.

Começou logo mal. Os pães foram depositados timidamente em cima da mesa, sem mais, e
 o mesmo aconteceu com uma tábua (ou seria uma ardósia) cheia de coisinhas. A broa de milho, se não tinha dias, tinha tido uma vida intensa, encontrando-se disforme, seca e esfarelada. O mesmo de uma minibaguete
 de sementes, imprópria de
 uma padaria de supermercado. Quanto às coisinhas eram um salame banal, uma mozarela inexpressiva, fiambre de peru (nem para as sandes dos miúdos), duas azeitonas, pimentos de Padrón (irra, até aqui) e um 
paio sobre o qual não se soube informar da proveniência nem se procurou saber.

O que interessava eram os pickles. Os pickles é que era. “São mesmo feitos por nós”, afirmou por duas ou três vezes, orgulhoso, o empregado. Eles – os pickles – estavam também no ceviche de atum com abacate e no pica-pau – duas entradas “apresentadas pelo chef no tal concurso” do melhor do mundo, explicou o empregado. Ambos bons pratos, diga-se:
 o atum, umas tiras, poucas,
 com abacate (17€!); o pica-pau (15,50€), ainda que seja insólito num fine dining, de grande nível: a carne de lombo macia, o molho reduzido de um caldo avinhado, cremoso e complexo, ácido e picante.

Menos bons os principais. O risoto de abóbora com vieiras e espargos assados (17,50€), sem ser original, estava bom. Mas o bacalhau à lagareiro (19,50€) foi curto, como aliás foram as doses em geral: o prato era um meio lombo (demasiado cozinhado), um meio tufo de salsa e uma meia poça de azeite de alho frito. Acompanhamento? “Tem de escolher à parte”. Vieram então umas batatinhas novas fora do seu tempo, encarquilhadas e encolhidas como um pénis no mar de Moledo, por 4,50€. Tudo somado, este meio lagareiro ficou por 24€. Sobremesas todas de buffet, todas medianas ou menos do que isso (7,90€), café normal a 3,50€.

Mas vamos ao pior. Cirandaram em nosso redor ao longo do almoço quatro empregados diferentes, todos simpáticos, mas as falhas foram várias, de mera ignorância a distracções. Apesar de avisarmos que os pratos seriam todos para dividir, a comida chegava e era colocada no centro da mesa, sem mais, o que num sítio destes é tolo. Numa ocasião, os pratos só vieram depois da comida e isto perante a supervisão de duas pessoas de mãos atrás das costas. De resto, não se soube falar do produto, da confecção – pior: inventou-se, caso da referência errada à carne “maturada” do pica-pau (na verdade era fresca e ainda bem).

Quanto à decoração é difícil
de imaginar o que fumou quem fez o projecto – uma tentativa de modernidade, painéis de azulejos de homens na faina misturados com dourados, madeiras escuras e vários alvéolos com mesa e sofá corrido, a lembrar recantos de boîte dos anos 80.

Dito isto, é preciso sublinhar que a cozinha sabe o que faz. O pica-pau, por exemplo, entra directo para os melhores da cidade (e para os mais caros, também).

O problema é que quase tudo o resto é um desastre ou um festival de marketing.

O melhor do mundo não chega a ser o melhor do bairro.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
InterContinental Lisboa
Rua Castilho, 149
Lisboa
1099-034
Preço
30-70€
Horário
Todos os dias 12.00-15.00/19.00-23.00
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