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Bica San

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A Time Out diz

3/5 estrelas

A ideia é misturar Portugal e Japão num espaço bonito. Alfredo Lacerda foi à Bica, mas não encontrou o San.

Houve coisas que me aborreceram no novo restaurante da Rua de São Paulo. Mas houve uma que me encantou tanto que estou capaz de voltar lá. 

O mil-folhas de batata com pó de alga nori foi a maior gulodice que comi no último mês. Cubos amanteigados perfeitamente assados, cheios de umami marinho, o caramelo contrastando com o verde do cebolinho, camadas desfazendo-se na boca como bolinhos, descolando-se devagar, lânguidas e gordurosas.

Por oito euros, há poucas coisas na vida que proporcionem tanto prazer e, se me deixarem, eu hei-de lá voltar ao almoço, ao lanche ou ao jantar, e pedir as batatas com um cocktail ou uma garrafa de vinho, que lá há dos bons.  

Pena, o resto não estar ao mesmo nível.

Dito isto, não se pode dizer que o resto, provado em duas refeições separadas por uma semana, tenha sido mau. Não foi. 

Só que estes sítios sofisticados, que nos contam uma história e empratam com louça artesanal de estilo nórdico, tropeçam frequentemente nas suas próprias expectativas. E as deste Bica San eram altas.

Do que se lê na imprensa especializada, o conceito nasceu da viagem de um dos donos do hotel Independente, onde o restaurante está instalado, ao Japão. A ideia era criar um menu “de um gajo”, um san, “que vai ao Japão” e volta de lá cheio de ideias — eis a narrativa comunicada nos média.

Não sei quais terão sido as ideias de Bernardo d’Eça Leal, o dono viajante, mas a verdade é que o conceito tem uma aplicação pífia no menu. 

O responsável da cozinha é Bruno Antunes, que cozinhou com o célebre chef Nuno Mendes, cujos restaurantes não são nem tipicamente japoneses, nem tipicamente portugueses. 

Na carta, vemos piscares de olho a Portugal — como no yakitori de frango piri-piri ou de plumas de porco com amêndoas e nabo (prato relativamente falhado), ou na tempura de feijão verde (prato acertadíssimo) — mas não vemos verdadeira alma luso-nipónica, nada pelo menos muito coerente. 

Quando perguntei à empregada sobre o donburi de atum ela esforçou-se por repetir a narrativa da fusão — sem ser convincente. Mas o que é que era ali tipicamente português? O atum? As algas? O molho dashi ou mirin? 

“O arroz”, salientou. 

Perdão?! 

O arroz era de bago curto. E se há país onde o arroz é tratado como se fosse uma jóia, consumido diariamente em abundância, é o Japão. Ninguém no mundo sabe tanto de arroz, consome-o de forma tão distinta, consoante a época e o polimento, como os japoneses. 

Se isto é grave? Não. O donburi estava saboroso, com arroz de qualidade (que não carolino) bem cozinhado, apesar de ter vinagre a mais. 

De resto, foi quase sempre assim: em quase tudo havia um “apesar”. 

A rabanada de matcha estava boa, suave, uma mousse natosa de pão. Apesar de não saber a chá matcha. 

A espetada yakitori de plumas estava bonita. Apesar de ser difícil de morder e estar mais cozida do que grelhada. 

Os empregados pareciam atenciosos. Apesar de saberem tanto do menu quanto o recepcionista do lobby. 

Detenhamos-nos nos empregados. No último almoço, um deles recebeu-me perguntando que língua falava. Eu respondi: “português”. Ele virou costas e indicou-me a colega que falava português, ao fundo. “Eu posso falar em espanhol, consigo”, disse eu, percebendo-lhe o sotaque. 

O rapaz aceitou então a complexa tarefa de me indicar uma das muitas mesas vazias. 

Mais tarde, quando o questionei sobre o líquido escuro da sobremesa de iogurte fumado com pepino e granizado de shiso, ele foi igualmente incapaz. Primeiro, pediu um tempo e passado uns minutos voltou com o menu e leu a descrição do prato. Ora, na descrição – em português – estava tudo menos o líquido escuro (razão pela qual eu tinha perguntado sobre ele). 

Perante isto, o rapaz encolheu os ombros, não parecendo passar-lhe pela cabeça ir perguntar ao chef. Ainda assim, confiante na sua prestação, antes de digitar o valor da conta no terminal do multibanco, atirou: “Vai querer deixar gorjeta?”

No, gracias.

Em síntese. O Bica San tem gente na cozinha que sabe fazer comida saborosa e bonita. E tem donos que sabem de hotelaria e de como montar uma sala para apreciadores de Leon Bridges e de vinhos naturais. Mas falta aqui esforço, aperfeiçoamento, presença crítica, consistência e coerência. Falta aquele investimento que distingue um restaurante razoável de um restaurante notável. 

Apesar das batatas. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua de S. Paulo 95
Lisboa
1200-275
Preço
25-40€
Horário
Seg-Dom 12.30-23.00
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