Bistrômaria
Mariana Valle Lima
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  • Grande Lisboa
  • Recomendado

Crítica

Bistrômaria

4/5 estrelas

A cozinha de Maria Dulce André é tradicional e delicada. Alfredo Lacerda foi a Almada descobrir a melhor qualidade/preço da Grande Lisboa.

Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

Se tivesse este restaurante à porta, ia lá todos os dias. O Bistrômaria é essa mesa de almoço, mas acrescenta sempre um toque de surpresa e frescura que justificam fazermos quilómetros, de propósito. 

É isso que tenho feito. Fui lá quatro vezes e saí sempre eufórico. Desde logo, há meia-dúzia de pratos fixos seguros, que nos deixam encantados, só de ler. Está tudo sem a presunção de descritivos de duas linhas, mas serve-se, entre outras coisas, costeleta de porco Malhado de Alcobaça, bife de Black Angus (corte de acém redondo, frito à portuguesa), arroz de mar (peixe e bivalves) e sardinhas albardadas com arroz de tomate.

Na última visita, foram as sardinhas que comi. Sardinhas albardadas são um prato de temporada, pelo que daqui se percebe, desde logo, que o menu fixo não é desses congelados no tempo e na arca frigorífica. Estavam magníficas as sardinhas, os filetes já gordos, perfeitos, cortados por uma faca afiada e mãos de cirurgião vascular; o arroz em tomatada a sério, caldoso, em quantidade para duas pessoas. 

Mas a beleza maior, aquilo que me faz sempre bater o coração, são os pratos do dia. Sente-se que é também essa possibilidade de reinvenção que mais entusiasma Maria Dulce André, dona e cozinheira. Será essa emoção diária que a leva a ter começado a solo, numa cozinha mínima junto à avenida principal de Almada, depois de ter passado por restaurantes de nome, como o Prado, de António Galapito, ou o Xisto, de João d’Eça Lima. Dulce André é contra as banalidades do costume – e pressente-se que cozinha o que gostaria de comer a cada dia. Como se sabe, cozinhar como se fosse para nós é a melhor forma de agradar aos outros. 

O peixe é todo selecionado por ela, nos mercados locais, onde gosta de ir todas as manhãs. A sua paixão pelo produto nota-se, aliás, em tudo, das carnes (fornecidas pelo Talho d’As Manas), ao arroz carolino do Mondego, aos enchidos (que podem ser da Dona Octávia), passando pelos legumes de época que entram nas sopas – sempre extraordinárias.

Nas minhas visitas, comi diferentes versões de sopa de feijão, por exemplo, e são absolutamente perfeitas, um creme sedoso onde se adivinha o caldo da cozedura da leguminosa, profundo sem ser entulho, e depois mimos verdes e tenros, como rebentos de brócolos e folhas tenras.

Entre as jóias que já foram pratos do dia – e já foram dezenas deles – está cantaril frito com tomatada de conquilhas, tiras de porco ibérico com migas de espargos, cataplana de corvina, jaquinzinhos com arroz de grelos, barriga de porco com puré de batata doce, tortilha de bacalhau à Assis, coelho à caçador e arroz de cabidela. Salivamos só de pensar e salivamos enquanto comemos e continuamos a salivar depois de comermos.

Quando vem a conta, percebemos ainda melhor a dimensão deste tesouro. Mesmo havendo só uma pessoa na cozinha e outra na sala, mesmo estando fora de Lisboa, os preços deste bistrô são raros. Pode-se comer sopa, prato, sobremesa, bebida e café por menos de 15€. O que torna um mistério ainda maior o facto de a casa raramente estar a mais de um terço da capacidade. 

Desde que fui pela primeira vez ao Bistrômaria que me questiono sobre o sucesso dos restaurantes. Eis um restaurante extraordinário: produtos frescos, pratos saborosos, cuidados, espaço bem posto, preços de tasco. Mas um restaurante de que ninguém fala e que costuma estar longe de esgotado, apesar de ter já quase um ano. O que lhe falta? Influencers? Poder de compra em Almada? Juízo por parte dos clientes? Não sei.

O que eu sei é que agora já não falta uma crítica altamente recomendável da Time Out. É ir. Com respeito.

Detalhes

Endereço
Rua Lourenço Pires de Távora, 3
Almada
2800-157
Preço
10€-20€
Horário
Dom-Sex 12.00-15.00
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