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Bula Bula

  • Restaurantes
  • Grande Lisboa
  • 3/5 estrelas
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Um restaurante moçambicano é sempre de celebrar. Alfredo Lacerda foi à Amadora em busca de outro continente.

As cozinhas dos países são grandes misturadas. Chamuça, bitoque, chow min, camarões à Laurentina, xima. Tudo isto é Moçambique e tudo isto se serve entre a Beira e Maputo – resultado dos povos que por lá se fixaram, sobretudo indianos, chineses (de Cantão e Macau, nomeadamente) e, claro, portugueses. E, desde há dois anos, também na Amadora. 

O casal que gere o Bula Bula descende de chineses, mas nascidos em Moçambique. Vieram para Portugal com o 25 de Abril e já os avós estavam ligados à restauração. Antes de se instalarem na Amadora, tiveram um espaço grande em Caneças, mas a pandemia e a aproximação da reforma reclamaram menos mesas. 

O novo formato é mais curto mas tem mais diversidade, ainda que alguns pratos só aconteçam aos sábados e domingos (como é o caso da moamba). Sobra para os dias da semana, sempre ao almoço (ou ao jantar para grupos de mais de dez pessoas), coisas como matapa de camarão, caril de caranguejo (de casca mole), bife de vitela à moçambicana, macuane de camarão ou bacalhau à Brás especial (o “especial” é da casa).

A casa tem um ambiente simples e o serviço é muito dialogante. Na cozinha, só o dono, na sala só a dona, aos fins de semana diz que as filhas dão uma ajuda. Pediram-se clássicos moçambicanos, a começar na chamuça de carne, do tipo inflado, frita na hora, como deve ser. 

Para espevitar o pastel, veio um molho sacana caseiro, com notas cítricas, muito saboroso e limpo, com a capsaicina elegante. O nível de picante dos restantes pratos é tolerável mesmo para os copinhos de leite, a não ser que peça extra-spicy – coisa que aconselho. 

Chegou depois a matapa (que se lê “matápa”, como a dona faz questão de sublinhar), versão sem a tradicional folha de mandioca. Esclareceu-se que aqui se opta pela “couve”, mas pareceu-me que a verdura presente no molho seria antes espinafres – especulação encarada como uma probabilidade pelo serviço de mesa: “é possível” –, sem que no entanto se tivessem feito diligências em busca da verdade absoluta, que estava ali a seis metros de distância, na cozinha aberta para a sala, na pessoa do marido. 

Tudo saboroso, talvez um pouco de leite de coco a mais, talvez um pouco de amendoim a menos. 

Nisto, caíram na mesa os camarões à Laurentina, os ditos abertos em borboleta, com a casca, ensopados numa molhanga cítrica, suculentos. Acompanharam palitos dourados de batata frita caseira, bem escorridos. 

Como é da praxe, foi tudo lavado com cerveja fresca para beber da garrafa, no caso a 2M. O grand finale aconteceu com o caril de caranguejo, um bicho grande de casca mole, carnudo e já devidamente estilhaçado, a boiar num caril cuja intensidade foi aligeirada pelo leite de coco, uma pena. Acompanhou arroz branco indistinto e inodoro. 

A bebinca final, herança moçambicana de Goa, uma obra de arte da pastelaria mundial, preparada em camadas, surgiu seca e sem a exuberância habitual das especiarias. 

Em síntese. Há muito poucos restaurantes africanos em Portugal, algo que não faz sentido. O Bula Bula é, por isso, uma excepção louvável. A comida caseira é feita com amor, aqui e ali com atalhos e economias. Já é um sítio recomendável, mas há espaço para ir mais longe, tanto mais que os preços são ambiciosos – e, no Casal São Brás, as rendas ainda não são a pornografia do centro de Lisboa. 

A revisitar. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua Sebastião da Gama, 4 A
Amadora
2650
Preço
20€-30€
Horário
Seg-Dom 12.00-22.30
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