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Celmar

  • Restaurantes
  • Grande Lisboa
  • preço 2 de 4
  1. Restaurante, Marisqueira, Aldeia do Meco, Celmar
    ©DRCelmar
  2. Restaurante, Marisqueira, Aldeia do Meco, Celmar
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  3. Restaurante, Marisqueira, Aldeia do Meco, Celmar
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A Time Out diz

Não sou fã de arroz de mariscos, no sentido de arroz cheio de mariscos. O arroz de mariscos é frequentemente um cemitério de bichos que chegaram à cozinha de fraca saúde. É uma forma de reaproveitar peixes, crustáceos e bivalves: tudo misturado, com as respectivas cascas, e ninguém protesta do rabo de lagosta do Canadá, em salmoura e fosfatos desde 2020, nem do camarão cozido a secar na vitrina desde a semana passada.

Para mim, o que é bom é arroz de marisco. Um marisco. Em particular se o marisco for bivalve. De preferência, lingueirão. O arroz de lingueirão é um dos grandes pratos nacionais. Procurem em todo o mundo onde se faz uma coisa assim e não vão encontrar. Só em Portugal temos estas tachadas de cereal imerso em caldo com coisinhas marinhas a boiar lá dentro. A dificuldade é encontrar do bom. O prato é simples mas, como quase tudo o que é simples, depende de detalhes. A começar no arroz. Sabemos que a maior malandrice do arroz malandrinho é usar-se agulha em vez de carolino. Saber-se isto não tem impedido a intrujice. O agulha é uma inovação em Portugal com apenas 20 anos, mas viciou rapidamente maus cozinheiros e restaurantes preguiçosos.

Não é o caso deste Celmar. Podemos questionar o nome (é só a mim que remete para uma marca de peixe congelado?), mas não podemos questionar a qualidade do restaurante, em particular do seu notável arroz de lingueirão.

O arroz de lingueirão do Celmar devora-se como se fosse uma sopa. Há poucas coisas mais confortáveis e satisfatórias do que isto, sobretudo se acabámos de ser abalroados pelo quebra-coco do Meco, um flick flack à retaguarda com projecção de 30 metros, e voltámos para a toalha enfrentando os risos do areal, gente de telemóvel em riste a pôr o vídeo a voar por essa internet. Felizmente estava de fato de banho.

Passada a vergonha, em menos de nada tinha a cabeça enfiada no arroz de lingueirão, sorvendo garfada atrás de garfada. (Sim, um bom malandrinho deve ser sorvido. É a mesma ideia do ramen. Tal como os noodles, o arroz caldoso tem de ser comido a ferver, mal sai do lume. Por isso, requer a aspiração de ar frio como mecanismo de arrefecimento. Sorvam o vosso arroz sem medo, por favor. O que não pode acontecer é que ele esfrie e se transforme em massa viscosa.)

Comi tão depressa – e tão feliz – o meu arroz de lingueirão que tive de aplicar o habitual desconto do restaurante de praia. Explico. Estou convencido que, genericamente, temos uma opinião mais positiva dos restaurantes de praia. A razão é simples: vamos lá com apetite. A praia dá uma fome danada e uma fome danada transforma positivamente a avaliação do que comemos. Só isto explicará, por exemplo, que os frangos do Ali, na Costa da Caparica, me pareçam sempre o melhor churrasco do universo, mesmo que as aves cheguem à mesa com fatias de margarina por derreter, acompanhadas de batatas congeladas de 3a divisão e arroz de cominhos – maravilhoso, oh se é –, também ele banhado a margarina.

Acontece que no Celmar o arroz apareceu já eu estava de barriga cheia. Antes disso já tinha comido – e muito. De entrada, veio um “croquetão” de javali e mostarda antiga; e choco frito com raspas de citrinos e batata frita – sendo que no couvert pontificava pão rústico bom e um daqueles queijinhos frescos gordíssimos, a saber a leite de vaca que põe bezerros aos saltos ao segundo dia de vida. Ou seja, a arrozada foi comida em estado de enfartamento agudo – e mesmo assim desapareceu num ápice.

Em síntese. O Celmar é uma instituição do Meco e está de boa saúde. Tem os clássicos do género (incluindo as amêijoas, a casca de sapateira e a massada de peixe), mas depois vai onde a maioria não consegue, seja nos pratos de tacho (feijoadas de choco e javali), seja em petiscos raros, como o peixe-espada panado, a dourada com creme de abóbora e miso ou o tiramisù, de fazer inveja a muito italiano de Lisboa.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua Central do Meco, 3
Aldeia do Meco
Setúbal
2970-058
Preço
25-30€
Horário
Qui-Ter 12.30-22.30
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