1. Chutnify
    Fotografia: Francisco SantosChutnify
  2. Restaurante, Chutnify, Cozinha Indiana
    ©Francisco Santos
  3. Restaurante, Chutnify, Indiano
    ©Francisco Santos
  4. Restaurante, Chutnify, Cozinha Indiana
    ©Francisco SantosChutnify
  5. Chutnify
    Fotografia: Francisco Santos
  • Restaurantes | Indiano
  • preço 2 de 4
  • Chiado/Cais do Sodré
  • Recomendado

Crítica

Chutnify

4/5 estrelas
Alfredo Lacerda
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A Time Out diz

É um princípio de sempre. Desconfiar de tudo o que se auto designe por moderno. A verdadeira modernidade não se apresenta, acontece. Daí que o slogan usado por este Chutnify, ainda por cima em inglês – “Modern Indian Cuisine”– , no toldo do restaurante, tenha significado ao mesmo tempo uma novidade e um alerta.

A novidade. A ideia de se passar alguma coisa de diferente – qualquer coisa – na restauração indiana em Lisboa é, em si, uma boa notícia. Com uma ou duas excepções assinaláveis, 
há décadas que as mesas são 
as mesmas, os donos são os mesmos, os menus não mudam uma vírgula ou um prato, sempre o nível de picante ajustado ao povo autóctone–baixo, demasiado baixo –, sempre uma lista de caris infinda em que
 só muda a proteína. Têm-nos valido os restaurantes goeses, quase sempre mais íntegros e interessantes, a maioria dos quais não faz concessões em matéria de malagueta e de modas – e bem.

O alerta. É verdade que soou um alarme quando vi o tal 
slogan no toldo da Travessa da Palmeira, ali onde o Príncipe Real se aproxima da Praça das Flores. A modernidade gastronómica é muitas vezes apenas fruto 
de migrantes estrangeirados, renegação das origens ou parvoíce. Durante a minha primeira refeição, um almoço a meio da semana, cheguei a temer que fosse esse o caso, que estivéssemos perante um indiano com curso de chef no Cordon Bleu, deslumbrado com o Ocidente. Lá dentro, várias coisas modernas, a começar na cozinha aberta para a sala, passando pela música electrónica (modo chill out) e a acabar na decoração: estética de Bollywood e sofisticação do Príncipe Real (ou será de Berlim? ou será tudo a mesma coisa?).

Menos moderno o tabuleiro 
de aço, onde se serviu o menu de almoço e onde cabia tudo, dos pratos principais à sobremesa, passando por um pão paratha que desiludiu, versão mini, 
com poucas camadas e sem a obrigatória manteiga ghee (chuif ). À parte, só os pani puris, bolinhas de trigo finas e ocas recheadas com batata, grão e romã, inseminadas na mesa com um líquido de especiarias; e as chamuças de cherovia, batata e ervilhas.

Noutra divisão do tabuleiro vinha um daal, estufado de lentilhas, no caso insonso e monótono. Para principais, escolheu-se o caril de peixe de Allepey (com robalo, presume-se que de aquacultura) e a masala dosa, os típicos crepes de farinha de lentilhas e arroz da região do Sul da Índia, aqui recheados de uma pasta de batata e mostarda, com chutney de coco.

Felizmente, havia mais qualquer coisa e este Chutnify mostrou não ser apenas postiço ou mero restaurante de cadeia étnica.

Regresso ao jantar. Desta feita, ao contrário do que acontecera ao almoço, casa cheia. Outros empregados, mais informados e solícitos. Outra cozinha. Excelentes os seekh kabab de borrego, acompanhados de um creme de coentros. O mesmo creme serviu para refrescar o chicken tikka, pedaços de frango picantes, marinados e grelhados no tandoori.

A estrela da noite acabou contudo por ser o caril de 
borrego ou, antes, o borrego de Telangana, povoação de Andhra Pradesh, região conhecida por ser a mais picante do país. O borrego em pedaços pequenos, tenros, o molho denso, escuro, aromático e pujante. Grande estufado. Também muito interessante estava a beringela com amendoim, tamarindo e coco (Bagare Baigan).

Nas sobremesas, provaram-
se as duas protagonistas da carta: o kulfi de pistáchios, um gelado saboroso mas comedido em pistáchios; e a mousse de manga, a cumprir o propósito de refrescar o final da refeição.

Carta de vinhos curta mas com escolhas interessantes e apropriadas à comida.

Em síntese. Duas experiências diferentes. Parece haver um restaurante ao almoço e outro
 ao jantar. De resto, o Chutnify representa de facto um indiano diferente do que há em Lisboa, com outras opções e outro ambiente. A cozinha ainda não terá assentado, mas irá no bom caminho e merece desde já uma visita.

PS: Lamenta-se que a dona, uma indiana de Deli radicada em Berlim, onde este Chutnify está sediado, tenha mostrado vontade de ajustar o nível de picante da comida ao palato português. Eu diria que deve ser o contrário, que é mais estimulante o contrário. Mas isso sou eu, que não sou moderno.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Travessa da Palmeira, 46
Lisboa
1200-311
Preço
Até 30€
Horário
Seg-Qua 12.00-15.00-19.00-23.00, Qui-Sex 12.00-15.00/19.00-00.00, Sáb 13.00-16.00/19.00-00.00, Dom 13.00-16.00/19.00-23.00.
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