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Dawanmian

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  • Martim Moniz
  • 4/5 estrelas
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  1. Dawanmian
    Francisco Romão Pereira
  2. Dawanmian
    Francisco Romão Pereira
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A Time Out diz

4/5 estrelas

No Martim Moniz, há um self service chinês que serve noodles de sangue de pato e outros petiscos de Wenzhou, diz Alfredo Lacerda.

Apontei para a entrada no menu e a dona do restaurante, detrás do balcão, indicou-me o frigorífico no meio da sala. “Pode ir lá e tirar”. Eu fui e tirei um pratinho de tendões bovinos que pareciam tão interessantes quanto tendões bovinos podem parecer. Para regar o petisco, agarrei também numa cerveja. 

De seguida, voltei a dirigir-me ao posto de comando da dona (vamos abreviar), pousando a Tsingtao sobre o balcão, para que fosse aberta. Sem dizer nada, a dona arrastou o abre-caricas até mim e, no melhor português de Wenzhou, atirou: “Abre.” Eu abri, seguindo depois para a mesa, onde aguardei pelos noodles de cabidela e fígados de pato (isso mesmo), com a disciplina de um magala na inspecção militar. 

Valeu a pena o esforço e a espera e a submissão ao império do Oriente. O Dawanmian é a mais recente cantina chinesa do Martim Moniz e tem óptima comida. Fica mesmo em frente ao Midai, um dos meus favoritos, onde gosto de ir pela beringela roxa com carne picada ou pelo entrecosto frito. Os proprietários provêm ambos de uma região costeira da China, mas o Midai assenta no wok enquanto, aqui, a clientela procura noodles e petiscadas com fressuras, a preços de estudante de Erasmus. 

Ao que consegui perceber, o restaurante está com esta proprietária desde há três anos. Já lá tinha passado, questionando-me se valeria a pena. A verdade é que a entrada é pouco convidativa. Há umas escadas cheias de sacos de vegetais espalhados pelo chão e, espreitando-se pela porta da cozinha, vêem-se pilhas de louça e de tudo, numa desordem dissuasora que se estende pela sala, mais de 50 lugares em mesas corridas, nem sempre impolutas. 

Os semblantes são eminentemente autóctones. Em cada dez pessoas, sete são chinesas, duas portuguesas e uma estrangeira. A maioria já está familiarizada com as regras da casa, incluindo alguns segredos para clientes especiais – como os amendoins que a dona guarda ao lado do balcão e serve, ela própria, nas tigelas de noodles com caldo. 

Se formos portugueses, a dona vai chamar-nos para recolhermos os noodles com um “olá” que soa a “levanta-te e vem buscar a comida, malandro!”. Apesar da rigidez do serviço, ninguém fica sentido. O que interessa é o que está dentro dos alguidares de noodles, esse ramen ancestral que os chineses nunca chegaram a sofisticar, como fizeram os vizinhos do Japão. Há várias hipóteses de sopa de noodles, como a agri-picante ou a de marisco, mas a que mais sai é a de massa-fita caseira, tipo tagliatelle, com entrecosto assado no forno. O caldo é saborosíssimo, extraído de ossos, e está cheio de vegetais frescos. É também altamente aconselhável acrescentar os pickles de mostarda e uma colher de chili oil caseiro. 

Os mais conservadores podem, contudo, optar por massa frita no wok, com frango e vegetais, ou gambas e vegetais, pratos riquíssimos e bem servidos. Também os guo tie – ou guiozas, se quisermos parecer sofisticados – são caseiros e saborosos, tal como é aliás a extraordinária pizza chinesa, com uma massa que levedou durante a noite e foi recheada de espinafres. 

Alguns pratos não estão na carta, como foi o caso, num dia destes, de umas moelas de pato cozidas ou de uma salada de tripas com cenoura ou de um pratinho de cabeça de pato escalada, miolos e tudo. Há ainda vísceras disponíveis para serem salteadas no wok, com tempero da casa, como o fígado ou tripas de porco. 

Em síntese. O Danwanmiam é mais um chinês autêntico de Lisboa. Quem não quiser entrar em aventuras, pode ficar-se pelas massas e pelas sopas de noodles chinesas clássicas – todas bem boas, a 6,50€ cada. Mas para quem quiser entrar no mundo das texturas chinesas, das cabidelas às vísceras, passando por extremidades (patas, orelhas), o Dawanmian é um templo.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Calçada da Mouraria, 14
Lisboa
1100-341
Preço
Preço: 8€-10€
Horário
Seg-Dom 10.00-22.00
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