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Delfina - Cantina Portuguesa

  • Restaurantes
  • Santa Maria Maior
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Delfina - Cantina Portuguesa
    Fotografia: Arlindo Camacho
  2. Delfina - Cantina Portuguesa
    Fotografia: Arlindo Camacho
  3. Delfina - Cantina Portuguesa - Bacalhau
    Fotografia: Arlindo Camacho
  4. Delfina - Cantina Portuguesa - Gambas
    Fotografia: Arlindo Camacho
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Não nos tivessem dado o arroz e esta cantina assim para o carote levava um chumbo dos antigos

Assim que entrei, duas reflexões pouco profundas:


1. porquê “Delfina – Cantina Portuguesa”?


2. o que se passa com a restauração e os sofás capitoné? Porque é que, de repente, aquele divã de pele gasta da minha bisavó, com barrocas para jogar ao berlinde, se tornou numa peça essencial das salas de comer de Lisboa?

Quem é a Delfina? E, sobretudo, como pode um restaurante onde os pratos principais começam nos 14€, com a parede forrada a espelhos, cadeiras estofadas e sofás Chesterfield ser chamado de cantina? Compreende-se a necessidade de arranjar novos engodos para que a rapaziada pense que vá pagar pouco num sítio com pretensões e os estrangeiros se sintam a comer very tipical portuguese; e também se percebe o desgaste dos qualificativos “taberna” e “tasca”. Mas, caramba, cantina?! De quem? Do presidente da Câmara Fernando Medina e do vereador foodie Manuel Salgado, com escritórios ali ao lado, na Praça do Município?

Minha não será. Ultrapassada a semântica, a culinária não ajudou. Na meia hora seguinte houve de tudo. Pão esfarelado, azeitonas temperadas com alho mofento, linguini nero com camarões rijos e secos (o molho com o mesmo sabor a alho velho), pratos trocados, um grupo ruidoso de jovens com MBAs a competir com a banda sonora dos Supertramp (aos anos, meu Deus) e uma carta enjoativa só de ler, com todos os clichés desta nova cidade gastronómica, dos pimentos de Padrón aos peixinhos da horta, do pica-pau às guiosas, da tábua de queijos à salada de salmão fumado, da alheira de Mirandela ao caril
– a habitual salganhada para agradar ao turista e ao artista, minuciosamente elaborada, desgraçadamente desalmada.

No meio de tudo isto, registe-se algumas coisas promissoras que não se conseguiu experimentar: o bacalhau cozido com todos (o meu prato preferido de todo o mundo de sempre), o frango do campo estufado com cogumelos e batatas à padeiro (aplausos, ultimamente parece que frango é só asinhas com molho barbecue ou yakitori) ou a açorda de tomate com espargos verdes e ovo estrelado (porque tudo o que leva espargos e ovo estrelado é bom).

De resto, do que se provou praticamente nada saiu incólume. A “sopa parva” (3,5€) era um creme de cenoura normal com couve crua à parva: boa ideia, mas a couve em juliana em excesso; as guiosas com cebolinho e farofa de sésamo (7,5€) estavam resfriadas; e o linguini nero (14,50€) usava uma massa preta industrial fraquinha, os mexilhões mirrados e os camarões insonsos e com lume a mais.

Por esta altura, a Delfina ia com um não satisfaz na pauta, como se pode depreender da prova.

Mas eis que chega o carolino
de legumes (14€). Os bagos de arroz vinham cozidos no ponto, envoltos numa goma sedosa, muito saborosos, a cenoura,
o tomate seco e os cogumelos (shitake, pareceu-me) a darem texturas e vitaminas – um prato reconfortante e quentinho como o afago de uma avó. A mesma excelente técnica de risoto foi aplicada no carolino de fígados, este ainda mais interessante, a carne frita à parte e depois vertida sobre o arroz e polvilhada de amêndoa torrada.

Muitos risotos afamados ficam aquém do que se conseguiu aqui com este carolino. A terminar uma mousse de chocolate com raspas de laranja e flor de sal, também bem boa (5€).

Contas feitas. Estamos em Lisboa, no centro de uma das cidades mais procuradas do mundo, com a gastronomia e o imobiliário em alta. Isso ajudará a explicar porque é que a factura rondou os 30€ por pessoa.

O resto não tem explicação.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Praça do Município, 21
Lisboa
1100-365
Preço
25€ a 35€
Horário
Todos os dias 07.30-23.30
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