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Doc Cod (FECHADO)

  • Restaurantes
  • Alcântara
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Crítica

Em 2017 frequentam as Docas turistas, jogadores de paddle, pessoas que correm, gente que gosta de dançar ritmos latinos e, segundo um amigo meu, casais de amantes – as Docas aqui a desempenharem um papel de porto seguro, já que ninguém
em Lisboa se lembra de lá ir. Por isso mesmo, ir jantar às Docas em 2017, é, para dar sentido a uma crítica como esta, encarnar um destes personagens. Tenho uma má esquerda no paddle, não gosto de correr ao ar livre, sou um pé de chumbo na pista de dança e fiel à minha relação. Posto isto, quando jantei no DOC COD, restou-me encarnar o turista para provar the famous bacalao.

[Nota importante: não tenho nada contra turistas, negócios orientados para turistas e apoio a ideia de existirem restaurantes 100% virados para o bacalhau e para a carne, como este é, sejam eles nas Docas, no Chiado ou em Alfama. Desde que as receitas sejam fiéis à tradição, coisa que vi ser levada a sério no DOC COD.]

Dia de semana, noite quente, turista encantada com a temperatura de Lisboa, pedi uma mesa na esplanada. A companhia era um casal de brasileiros fascinado com uma travessa de bacalhau cozido com grão, bom cheirinho a inundar o espaço, um grupo de franceses a caminho da terceira idade, bastante animado, e outra mesa de estrangeiros cuja nacionalidade não identifiquei. Em duas enormes televisões, passou em loop, durante todo o jantar, um vídeo promocional do restaurante, com bacalhau assado e com grandes costeletões de carne na brasa, que um empregado com pouca paciência para as minhas várias perguntas, me explicou serem as duas especialidades da casa. Nas colunas passou, quase todo o tempo, uma colectânea de Bossa n’Queen ou Bossa n’ Essentials, uma discografia que os anos zero deram à luz, que detesto e me transporta sempre para um hotel de estância balnear – mas lá está, enquanto turista, e apesar de ter preferido um Bossa n’Fado, até encarei aquilo com alguma tranquilidade.

A refeição começou com um belo queijinho de Azeitão amanteigado, a chegar na temperatura certa, para barrar em boas tostas de pão saloio. Bom carimbo do nosso
país. Ao lado umas azeitonas (de lata?) sem grande sabor e uma pasta de atum que mais parecia uma maionese de atum, fraquita. As pataniscas de bacalhau (5,50€) acabadas de fritar, e apesar da
boa consistência no interior e
 do crocante nas bordas, traziam oleosidade e deixavam na boca um sabor amargo a óleo – e uma delas tinha mesmo uma espinha. Os cogumelos salteados com presunto (5,50€) estavam inundados em azeite e água, um leve picante
 e com os pedaços de presunto muitos duros.

Para provar o bacalao, vindo da Islândia, escolhi primeiro um bacalhau à Brás (12,50€). Estava bem bom, com algumas lascas, a cebola al dente, batatas fritas verdadeiras, salsa, um perfeito exemplar da espécie. A acompanhar uma salada de restaurante tradicional, com alface em tiras, couve roxa,
milho, cenoura e tomate cereja, sem grande sabor. Veio depois 
o lombo de bacalhau lascado (16€), numa posta baixa, alho por cima, com batata assada e grelos. Óptima a entourage, com azeite de qualidade, batatas no ponto, mas a posta a não lascar como devia, algo gelatinosa, demasiado queimada nas extremidades. Um mau carimbo do país.

Para finalizar, um cheesecake de requeijão (5,50€) “bastante diferente, vai gostar”, avisou-me o empregado. E de facto era muito diferente: baixinho, cozido no forno e com uma grande dose de molho de frutos vermelhos entornados em cima. O problema é que o forno lhe queimou a base (estava preta) e lhe tirou a frescura, e o molho de frutos vermelhos não era doce o suficiente.

Questão final: dará o DOC COD uma boa imagem de Portugal? O esforço está lá, as ideias idem, mas falta mão na cozinha em alguns pratos, para apresentar a coisa ao nível do bom ou do muito bom.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Escrito por
Marta Brown

Detalhes

Endereço
Doca de Santo Amaro, Armazém 16
Lisboa
1350-353
Preço
30 a 40€
Horário
Seg-Sex 12.00-00.00, Sáb-Dom 12.30-00.00
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