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Crítica

Gioia Food Lab (FECHADO)

4/5 estrelas
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A Time Out diz

Acho que me vou arrepender de deixar registado em papel aquilo que me veio à cabeça quando me sentei à mesa do Gioia Food Lab, mas [Marta Brown inspira] cá vai: assim que passei os olhos pela ementa e vi os preços do que me ofereciam, tive saudades da tão irritante pergunta: “já conhece o nosso conceito?”. Pizzas a 17,50€? Cremes de agrião e espinafres a 7€? Um risoto de cevada com cenouras e queijo fresco a 18€? Uma mousse de chocolate em texturas a 8€? Bem sei que os restaurantes em Lisboa estão cada vez mais caros, que este fica no rés-do-chão de um prédio de apartamentos para turistas, que é giro e cuidado, bem decorado, tudo isso. Mas não consigo compreender como um chef que me parece estar a começar
a carreira – ele é Diogo Quintas, recém-empossado no cargo, após saída de Daniel Estriga; do que me contou era subchefe da casa até Dezembro, do que googlei tem passagens pelo falecido Avenue (de Marlene Vieira) e um 1º lugar no concurso Revolta do Bacalhau –, não consigo compreender como é que pede esses valores (e outros, como os 21€ por um bacalhau confitado, o mesmo montante por uns tortellinis de camarão). Pela cozinha de um chef que está a começar, numa zona que está longe de ser premium (a Praça da Alegria), num restaurante que apesar de ter boa comida, não é de perder a cabeça, nem traz nada de inovador? Não compreendo.

“Oh Marta, só pedem porque as pessoas dão!”, dir-me-ão uns quantos conhecedores do métier. E eu respondo: “Ok, concordo.” Mas só no fim de tudo o que comi e bebi, os talheres arrumados em sinal de refeição terminada, é que me explicaram que o sítio tinha afinal um conceito ligeiramente diferente, naquele caminho que vende hoje em dia: produtos biológicos quando possível,
 zero glúten, zero açúcares e 
sais refinados, em suma, um “Não” redondo a essas coisas do demo que fazem mal à saúde. Informação útil que podia vir referida na ementa ou esclarecida à chegada, com a clássica pergunta do conceito. Mas não veio.

É certo que isto não justifica os valores elevados que paguei por uma entrada, dois pratos, uma sobremesa, dois copos de vinho e couvert – 80€ –, mas se a matéria-prima tem um preço mais elevado, se há aqui confecção de alguns produtos do zero (os pães, por exemplo), mesmo vindos de duas mãos com poucas cartas dadas na cozinha da cidade, a coisa começa a fazer algum sentido. Só algum, só algum.

“Ó Marta, e mesmo assim dá quatro estelas?”, perguntar-me-ão uns quantos conhecedores da revista. “Dou”. Tudo o que comi estava bom, os sabores equilibrados, as texturas interessantes, os temperos correctos. O serviço podia ser um bocadinho menos à-vontadinha, mas o sítio é giro. Lembra o Bistro 100 Maneiras em ambiente, com um bar à entrada, música house, lâmpadas de filamentos com um regulador de intensidade em cada mesa, portas USB para carregar telemóveis e uma tomada na parede, também em cada mesa. Tem um aproveitamento do espaço bem feito, com dezenas de lugares num restaurante que não é assim tão grande.

Óptima a focaccia caseira, para molhar num bom azeite com vinagre de vinho tinto envelhecido, bom o microbolo do caco e bom o patê de couve com noz moscada – tudo a fazer parte do couvert, por 2,50€ a cada pessoa, tau! Excelente o tártaro de novilho (14€), a carne muito saborosa, tempero perfeito, com pickles de sementes de mostarda, pickles de cenoura, gema de
ovo curada e molho béarnaise. Excelentíssimo o polvo, arroz, pimentos e coentros (22€), uma reinterpretação do arroz de polvo, com um tentáculo do molusco
a vir tostadinho, saboroso e tenro, com rodelas de pimentos grelhados e pétalas de cebola num prato e ao lado uma pequena travessa de arroz maladrinho com cebolinhas. Muito boa a sobremesa de citrinos e doce de ovos, com semifrio de tangerina, gomos de lima gelados, lemon curd e doce de ovos. Bem apresentada, bem equilibrada, sem excesso de açúcar ou acidez – a vencer também nas texturas.

Nota média apenas para a pintada, alho francês e trufa (21€). A ave com a pele tostada, mas a deixar-se apagar pela qualidade do puré de trufa, sabor intenso (mas sem enjoar), os cogumelos também bons e o alho francês braseado a sofrer o problema do costume: rijo no corte, desfiado no prato.

Gostei do jantar, não gostei do preço. Gostei do sítio, não gostei da zona. Gostei da decoração, não simpatizei com o serviço... Mas fazendo uma justa conta, merece as quatro.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Detalhes

Endereço
Praça da Alegria, 50
Lisboa
1250-004
Transporte
Metro Avenida
Preço
40 a 50€
Horário
Seg-Sáb 20.00-02.00
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