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Gunpowder

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  1. Gunpowder
    Mariana Valle LimaSantola ovo bhurji
  2. Gunpowder
    Mariana Valle LimaHarneet Baweja
  3. Gunpowder
    Mariana Valle Lima
  4. Gunpowder
    Mariana Valle LimaTosta de gambas
  5. Gunpowder
    Mariana Valle LimaCosteleta de borrego assada com ghee caxemira
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A Time Out diz

3/5 estrelas

O restaurante indiano de Londres instalou-se no Chiado. Alfredo Lacerda não saiu de lá nem a suar do bigode, nem mais rico.

O meu amigo influencer marcara uma consulta de gastroenterologia para as 15.00, mas mudou a agenda assim que lhe enviei um WhatsApp com o nome do restaurante. Ele não conhecia o Gunpowder e fez o que todos fazemos: antes de responder, foi espreitar ao Instagram. 

Minutos depois, ressurgiu: “Mandei uma mensagem ao médico a dizer que tinha uma reunião de trabalho fatal”, escreveu, acompanhando o texto com um e a fotografia de uns “camarões massivos de Madagascar” temperados com molho de tomate e alho assado e, outra, de um tachinho com arroz de marisco, meticulosamente empratado com uma tenaz de crustáceo. 

Visto da Internet, o Gunpowder parecia capaz de fazer as pessoas adiarem assuntos de saúde. As fotos de comida eram lindíssimas; e até a primeira suspeita de que se tratava de um franchising da marca de Londres caiu por terra: o noticiário de lazer assegurava que o dono, Harneet Baweja, de origem indiana, era o mesmo do Gunpowder London, casa nascida em 2015. 

Olhando para o menu, o interesse prolongou-se. Soava tudo bem, soava tudo a Indiano fora da caixa. Mais mar do que terra, produto português (ostras do Algarve, porco preto), molhos com nomes de terras distantes, um equilíbrio sexy entre conforto e mistério, entre génio e autenticidade. Exemplos: “ostra do Algarve com picle kachumber”; “santola em ovo bhurji”; “raia konkani com molho de solkadi”. 

Na carta de vinhos, a mesma literatura boa, certamente com dedo de conhecedor. Se não é a carta de vinhos mais interessante e seleccionada que vi nos últimos meses, andará lá perto — e incluo aqui casas do campeonato fine dining. Há muitos bons exemplos de vinhos frescos, como são o Amphora da Herdade do Rocim, o Pinot Noir do Quinta de Rol ou o Ciste, da Menina d’Uva. Mas também Maçanita, Alves de Sousa, Quinta do Monte d’Oiro, Symington.

O repasto começou bem. Boa a torrada com manteiga e pasta de cebola caramelizada, mas também a tosta de gambas, pequenos cubos fritos, gulosos, para ensopar num óleo de mostarda. O ovo em casca de santola comeu-se, ainda que sem grandes notas marisqueiras, mais casca que recheio. E pior os filetes de robalo, uns douradinhos da Iglo um bocadinho mais sápidos.  

Nos principais, o meu amigo estava encantado com a arquitectura do “donute de vermicelli com borrego picante”, que era carne moída de ovino dentro de uma bola de basebol com espinhos (da massa frita). E eu interessei-me no tal arroz de marisco, um pulau cheio de mexilhão em casca (magrinho, sem sabor), camarão borrachoso a sabor a molas da roupa e os bagos de basmati engordurados (onde estava a tenaz do Instagram? Não estava).  

Nas sobremesas, experimentou-se tudo: um pudim de pão com gelado que nos deixou a suspirar por bebinca; uma ganache de chocolate banal; e um gelado de maracujá dulcíssimo e ácido. 

Em síntese. A ideia é boa, a imagem é boa, o espaço é bonito e dá para festas de aniversário que não comprometem (sala para o efeito no piso superior), seja pela decoração seja pelo picante (bem comportado, demasiado). De resto, fritos agradam a toda a gente e aqui abundam. Quanto ao serviço, foi mais expedido e competente do que a média. E, se for um enófilo, também se vai divertir, pelo menos se tiver dinheiro. 

Primeiro problema. Isto de querer fazer cozinha indiana sexy, criativa e docinha, nem sempre com a melhor matéria-prima, pode revelar-se uma coisa insípida e frouxa. Podem ir buscar os tachinhos e as frigideiras bonitinhas, o set up todo para o Instagram e a fritalhada, que isso pouco fará pelo sabor. 

Segundo problema. Se em cima disso, puserem uma factura de 40 a 50 euros por pessoa (com pouco vinho), temos então mais um restaurante que aposta em turistas de primeiro mundo, sobretudo dos que comem com os olhos. 

Como o meu amigo influencer.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua Nova da Trindade, 13
Lisboa
1200-468
Preço
40€-60€
Horário
Seg-Dom 12.00-16.00, 19.00-00.00
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