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INfante

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INfante
Francisco Romão Pereira
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Foi um dos restaurantes que mereceu mais palavras do novo guru dos foodies, Isaltino Morais. Alfredo Lacerda foi lá aprovar o rodeão.

E, de repente, um homem que tem na rúcula o expoente máximo da sua dieta (palavras do próprio) e cumpriu pena de prisão por fraude tornou-se numa referência para a nação gourmet. Estou com ciúmes. 

Conheço muitas das propostas referidas por Isaltino Morais, o presidente da Câmara de Oeiras convertido em crítico gastronómico, numa assembleia municipal de há umas semanas. 

Muitas são, de facto, de valor, e já foram aqui avaliadas com qualificativos talvez um pouco mais precisos do que “maravilhoso” e “fantástico” e “que bom”. Exemplos: Malagueta, Sítio de Gente Feliz, O Relento, O Orelhas, O Rastilho, A Marítima, Zé Varunca (já teve melhores dias), Os Arcos. 

Mas a maioria do que sobra da longa lista do autarca ou é a armar ao pingarelho e caro – bom para pôr a factura na contabilidade da autarquia – ou é só mais ou menos, ou é manhoso. 

Sobravam, todavia, algumas interrogações que valia a pena investigar, sendo uma delas este INfante, assim mesmo, com o IN em maiúsculas. 

No caso do INfante, Isaltino foi específico o suficiente para me levar à Cruz Quebrada. No seu longo relatório de restaurantes financiado pelo gabinete do presidente, Isaltino citava “a boa cozinha transmontana, com os bons enchidos e o rodeão” do INfante. E, logo, de seguida, virando-se para a plateia, questionava: “Sabem o que é o rodeão? Sei que 90% dos senhores deputados não sabem o que é o rodeão. Não sabem! Mas vamos experimentar o rodeão.”

Estaria nisto certo Isaltino e prestou nisto Isaltino um serviço à população. Embora pudesse ter ido mais longe nas explicações, sendo ele de Mirandela, vale muito a pena resgatar o rodeão do esquecimento. 

O rodeão é um corte de carne retirado da aba da costela da vitela, muito usado em Trás-os-Montes.

No INfante, sobre uma toalha de papel pouco IN, o rodeão assentou numa travessa de alumínio onde cabia tudo: batatas fritas caseiras (oleosas) num extremo, saladinha destemperada de tomate, cebola e alface no outro, e a meio os troços de carne. 

Não foi o melhor rodeão da minha vida, mas era de um animal de qualidade e isso salvou o prato. Sem grandes marinadas nem temperos – fica maravilhoso azeitinho cru com alho picado e salsa, no fim – estava impecavelmente grelhado, com a gordura bem tostada. 

À frente do restaurante, está um velho conhecido de Isaltino Morais, seu conterrâneo de Trás-os-Montes, ainda que de Vinhais, mais a norte. Manuel Gonçalves conhece o autarca há umas boas décadas e convida-o para petiscos especiais, como quando há butelo com cascas (casulas). 

Quanto ao cozido, por enquanto o INfante está só a servir aos domingos, porque falta matéria-prima para mais. No frigorífico da montra do restaurante, inserido numa urbanização com perto de 30 anos, Manuel Gonçalves tinha aba da costela de carne maronesa D.O.P., de excelente qualidade; e alguns enchidos da Vfumeiro, fábrica de Vinhais, como eram as alheiras servidas no menu do dia. 

As alheiras da Vfumeiro são industriais, porventura melhores do que a média das alheiras industriais, mas é questionável a indicação geográfica. Em 2019, a empresa, que tinha como sócia a presidente da Câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, viu a ASAE apreender-lhe cinco toneladas do enchido por terem sido encontradas nas suas instalações alheiras com o selo da Amil, outra marca com ligações à autarca, mas com Indicação Geográfica de Mirandela. 

De resto, em jeito de aperitivo, num almoço tardio, comeu-se no INfante outro prato do dia: os filetes de pescada com arroz de legumes. Estava bem temperado e saboroso o peixe, também servido em travessa de alumínio, juntamente com o arroz, do solto e preguiçoso, a macedónia de legumes congelados (milho, feijão verde, ervilhas) atirada lá para dentro. 

O que não era nem industrial, nem preguiçoso, por certo, era o pudim da casa, uma delícia. 

Por isto e mais três cervejas, a dividir por duas pessoas, pagaram-se 17 euros por cabeça, o que, não sendo barato para o tipo de estabelecimento e de lugar, é aceitável. Fossem todos os almoços da Câmara de Oeiras a este preço e o fundo de maneio do gabinete de Isaltino Morais (3000€, por mês) conseguiria poupar uns cobres. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua João das Chagas, 53 E
Oeiras
1495-092
Preço
15€-20€
Horário
Dom-Sex 11.30-15.00
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