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JNcQUOI Asia

  • Restaurantes
  • Avenida da Liberdade
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Restaurante, JNcQUOI Asia
    ©Inês FélixJNcQUOI Asia
  2. Restaurante, JNcQUOI Asia
    ©Inês FélixJNcQUOI Asia
  3. O terraço do JNcQUOI
    Fotografia: Inês FélixO terraço do JNcQUOI
  4. JNcQUOI Asia
    ©Inês Félix
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A Time Out diz

4/5 estrelas

O dinossauro deu lugar ao dragão, a decoração respira motivos asiáticos, profundamente embebidos na presença portuguesa pelo Oriente e a cozinha, aberta, faz chegar sabores de todo o continente. O projecto é assinado por Lázaro Rosa Violán, o nome responsável pelo primeira aventura do grupo, o JNcQUOI Avenida, e destaca-se pelos interiores sofisticados e ambientes casuais de funcionalidade eclética. Ao todo são quatro espaços distintos: cocktail bar, restaurante, sushi bar e terraço.

Crítica:

Comece-se peloniguiri. O niguiri é, porventura, a peça de sushi mais extraordinária de todas. Aparentemente é só um bocado de arroz do tamanho de um dominó, com uma fatia de peixe por cima. Mas requer muita técnica e, sobretudo, é uma das melhores coisas que podemos levar à boca.

Foi nesta expectativa que arrisquei gastar 21€. Por duas unidades. O peixe era otoro, a parte mais gorda da barriga do atum. O otoro, sobretudo se for de atum rabilho, é caro em todo o lado. Mas aqui é mesmo muito caro: de cada vez que levantamos os pauzinhos dizemos adeus a 10,50€. Em trinta segundos, consumimosumbilhetede comboio Lisboa-Coimbra.

Estava nesta reflexão, à espera dos ditos, e pus-me a observar. Também se vai ao JNcQUOI para observar. O restaurante é um bicho ainda maior e mais pesado do que o JNcQUOI Avenida. O esqueleto de dragão que marca o ambiente da sala principal bate em tamanho e extravagância o dinossauro do espaço do Tivoli. De resto, toda a decoração da sala principal sugere luxo, com madeiras nobres, tapetes, candeeiros pesados, ambiente asiático e tropical.

Ao todo, alojam-se 300 lugares sentados, espalhados pela zona de bar, restaurante, balcão de sushi e esplanada. Um hectare de entretenimento em plena Avenida da Liberdade, campeã do preço por metro quadrado e campeã da figura pública.

Mesmo à minha frente, um antigo central da selecção portuguesa de futebol cumprimentava um antigo seleccionador. Em fundo, uma directora de programação de um canal de televisão. Do outro lado da sala, o advogado de um conhecido escritório revirava a cabeça à passagem de um casal exuberante e encalorado.

No JNcQUOI ASIA há sempre alguma coisa para apreciar. A cozinha, por exemplo, é aberta e à dimensão do espaço, cheia de frenesim e vapores. De acordo com o restaurante, está equipada com dois tandoori, banca de wok e de dumplings, um sector para a grelha robata e fornos específicos para o pato à Pequim.

Esta organização reflecte-se no alinhamento da carta, espraiada por oito páginas. Há comida do Japão, da China, da Tailândia, do Vietname e da Índia, mas preferiu-se agrupar os pratos por técnicas. O japonês nasu dengaku, por exemplo, prato de beringela assada com molho de miso, aparece na secção de Robata e Tandoori, junto a umas indianas costeletas de borrego com especiarias; e os caris tailandeses e indianos surgem lado a lado, como se fossem especiarias do mesmo saco.

Em qualquer caso, não há em Lisboa nenhuma outra lista tão completa e apetitosa de pratos asiáticos. Falamos de pratos tradicionais, que aqui não se praticam atalhos disfarçados de autoria. Estão lá muitos dos clássicos, pratos populares em restaurantes de todo o mundo. Mas também há coisas menos comuns no Ocidente, da street food chinesa à cozinha de luxo nipónica. O frango hainanese (22€), que fazia parte do menu de almoço numa das visitas, é uma dessas raridades maravilhosas; outra, bastante mais cara, é o bacalhau negro com miso (45€).

Em três visitas ao restaurante, comeu-se sempre bem. Nos dumplings chineses, estava perfeito o cheungfan de camarão (17€). Nos caris, muito bom o vindaloo de porco (27€). O prato merece uma nota de rodapé na carta: o vindaloo é um caso curioso, por ser feito de porco, animal pouco apreciado na Índia. É a comunidade católica de Goa que o cozinha, tendo adoptado a vinha d’alhos portuguesa como condimento (vindaloo vem daí). O JNcQUOI ASIA pratica bem a receita, não poupando nem no picante, nem no cardamomo.

Da cozinha tailandesa, provou-se o arroz salteado com caranguejo (excelente, 21€) e a sopa tom yam goong (17€), com camarão. O caldo translúcido da sopa tinha a típica potência cítrica da tom yam, fruto da combinação de erva-príncipe e folhas de lima kafir – mais a frescura doce dos coentros. Faltava-lhe, todavia, alguma espessura, devido à ausência de leite de coco, essencial para acrescentar conforto.

Os testes aos dim sums, à grelha, ao tacho e ao wok estavam superados. Restava sentar-me ao balcão de sushi. O espaço fica na sala ao lado do restaurante principal. É igualmente muito bonito, em forma de U, e dele temos vista para os sushimen em acção. Aqui manda Miguel Bértolo (que não estava presente), sob a alçada do chef principal AntónioBóia(queacumulacom o JNcQUOI Avenida) e de Mário Esteves, chef executivo.

Saltava aos olhos a técnica dos oficiantes, perfeccionistas no corte do sashimi e na manipulação dos rolos de hosomakis. Na boca, sentiu-se frescura e qualidade de produto, dos rolos Califórnia aos de otoro, ambos parte de outro menu do dia (35€), que incluía 14 peças e uma sopa de peixe e miso profunda.

A prova derradeira eram os niguiri de otoro. Estariam à altura do melhor que se faz na cidade? Estariam à altura do preço? Assim que o primeiro entrou na boca, os bagos de arroz espalharam-se. Quase podia contá-los, de tal forma se mantiveram definidos e firmes. A acidez suave contrastava maravilhosamente com a gordura do atum, que não era nem enjoativa nem metálica – só umami e felicidade. O empregado fez questão de trazer soja para condimentar o niguiri, mas o molho era absolutamente dispensável, tanto mais que a peça já vinha pincelada. O mesmo dizer do wasabi, que uma apresentadora de TV sentada ao meu lado diluía no molho de soja como se estivesse a misturar tintas (o wasabi, como saberá o leitor, deve ser aplicado directamente no peixe).

Quanto às sobremesas, são a área mais preguiçosa do restaurante. O pasteleiro responsável é o experiente Joaquim Sousa, forte na pastelaria tradicional francesa, mas que aparentemente não soube, não pôde ou não quis arriscar na doçaria asiática.

Em síntese. O JNcQUOI ASIA é extraordinário. O receituário é muito bom, o produto idem, e o espaço é grandioso, sofisticado e confortável como nenhum outro em Lisboa.

Há, naturalmente, preços disparatados e outros pecados. Pedir 27€ por um vindaloo de porco é mandar a aritmética do food cost às malvas. O mesmo dizer do preço dos combinados de sushi to sashimi: 99€ por 34 peças – mais do dobro do valor que se cobra no restaurante Go Juu, um dos topos de gama da cidade. Acresce que o serviço é mal-preparado e desatento. Não se admite, nomeadamente, que se espere 35 minutos por um caril que já está feito e só precisa de ser aquecido.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Avenida da Liberdade, 144
Avenida
Lisboa
1250-146
Preço
50-80€
Horário
Restaurante, sushi bar e terraço: 12.00-00.00. Cocktail bar: 12.00-02.00.
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