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Jockey

  • Restaurantes
  • Campo Grande/Entrecampos/Alvalade
  • 3/5 estrelas
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Jockey
Mariana Valle Lima
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A Time Out diz

3/5 estrelas

O Hipódromo do Campo Grande tem lá dentro um restaurante à porta fechada. Alfredo Lacerda entrou a galope e saiu a passo.

O almoço foi combinado por WhatsApp. “Embora almoçar aos cavalos?”, perguntei-lhe, de manhã. Nascida e criada em Cascais, onde há mais centros hípicos que centros de saúde, a minha amiga aceitou de imediato. “Eish, não vou há muito tempo. Vamos, vamos”, atirou. “Uma beta no Jockey, faz sentido.”

O Jockey fica dentro do hipódromo do Campo Grande, um idílio campestre entalado entre a Segunda Circular e o Campus da Universidade de Lisboa. Qualquer humano com 30 euros no bolso pode lá ir almoçar, mas o lugar dá ares de clube privado. 

A encenação de exclusividade começa na entrada do recinto, encerrada com uma cancela. Para ultrapassá-la, basta dizer-se ao que se vai. Deixe a viatura logo no primeiro parque de estacionamento e faça o resto a pé, uns 200 metros em gincana por cavalos e suas bostas. Pode também estacionar no último parque, seguindo a placa que diz “Restaurante”. É aí que costumam ficar as berlindas.

Existem três espaços: um interior, o outro uma espécie de jardim de inverno, luminoso, e a esplanada, com vista para o picadeiro relvado. Em todos eles se está bem, ainda que haja um toque de modernidade fajuta na decoração, com flores de plástico pendendo do tecto, posters de cavalos e um ecrã plasma que vai passando slides de ilhas gregas paradisíacas.

As pessoas parecem gostar. Pelas 13.00, é como se tivesse tocado para a cantina. De repente, empregados antigos e graves desdobram-se a encaminhar as pessoas para as mesas, muitas pessoas, muitas mesas. A decisão sobre a distribuição dos lugares tem de ser tomada em segundos, consoante as reservas e a pinta dos clientes. É uma tarefa dura, porque a pinta dos clientes é muito semelhante: uns 90 por cento dos homens vestem camisa branca ou azulinha e têm mais de 50 anos; e as mulheres estão quase todas overdressed para um almoço de segunda-feira.

A minha amiga M. é a excepção. Já não a via há muito e foi uma alegria. Vinha em tons térreos, o jeito blasé de quem trota no Guincho antes do pequeno-almoço. Ocupámo-nos com actualizações da vida e da profissão, e o couvert passou com relativo desprezo, pão industrial bem cozido e fresco e uma broa farelenta e velha.

Toda a refeição, de resto, andou sempre entre o bonzinho e o fraquinho, uma coisa que nem nos alentou nem nos indignou. Só já no fim da refeição, a braços com um bolo de massa folhada de segunda categoria, M. assinalou: “Isto não foi nada de especial, pois não?”

Pois não. Bacalhau cozido resfriado e medíocre, dose económica, azeite Oliveira da Serra. Quanto à posta de vitela, era um naco do lombo (!) sensaborão e ressequido, acompanhado de bons palitos grossos de batata frita e de um esparregado a saber a cartão. Poucochinho, para o preçário e para as expectativas.

O Jockey é um desses sítios que atrai gourmands com o Brillat-Savarin na biblioteca. À entrada, cruzara-me com Raul Moreira, escriba de comezainas, editor de livros de gastronomia e director de filatelia nos CTT. Antes, já o embaixador Seixas da Costa passara por lá e passara a palavra. Há três meses, no seu blogue sobre restaurantes (pontocome.blogspot.com), escrevera: “Come-se bastante bem, os preços não são excessivos para o ambiente e para a qualidade daquilo que nos é proposto, há uma inteligente lista de vinhos e o serviço é feito por um pessoal experiente, com simpatia profissional standard.”

Não sei avaliar uma “lista de vinhos inteligente”, nem “simpatia profissional standard”, e tão pouco estou certo sobre o preço do “ambiente” ou “da qualidade daquilo que nos é proposto”. Mas compreendi a expressão “come-se bastante bem”. E fui. E voltei a ir.

Na segunda visita, o “pessoal experiente” já não cobrou dois couverts por um, mas por outro lado atirou entradinhas para a mesa ainda antes de fazer chegar a ementa. A ementa tinha informações importantes, entre elas o valor do pratinho de copa de porco ibérico que reluzia, tentador, à nossa frente: 20 euricos. 

Nos principais, estiveram razoáveis as lulas “de Peniche à lagareiro”, mas faltou apuro e produto à dobrada com feijão branco, versão de tasca (fraca), a preço de fine dining. Nos doces, saiu um bolo de bolacha, com muito amendoim na cobertura (?) e pouco café no miolo. 

Em síntese. Os cavalos são bons cavalos, mas estão domados por pessoas – na cozinha e na sala – com truques e pouco galope. No fim, eu e a minha amiga M. levámos um coice de 35€ por pessoa. Demasiado.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Sociedade Hípica Portuguesa, Hipódromo do Campo Grande,
Lisboa
1600-008
Preço
30€-40€
Horário
Seg-Sáb 12.00-16.00/ 19.00-00.00, Dom 12.00-16.00
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