Antes de o ramen ser um conceito popular, já o Koppu o fazia. Na altura em que começou, num restaurante do Príncipe Real, havia casas japonesas que o tinham na carta, outras que o faziam ocasionalmente (lembro-me disso acontecer no saudoso Bonsai), mas o Koppu terá sido dos primeiros a apostar no prato – juntamente com o Assuka –, enquanto estrela do cardápio.
O arranque não terá sido brilhante, todavia. E sucede que, por causa disso, passei demasiados anos sem lá ir. Fiz mal. De então para cá, a sopa de massa japonesa do Koppu melhorou e, hoje, os seus caldos são tão bons quanto os melhores da cidade, o que significa que está dentro de uma meia-dúzia de vencedores.
Sim, só meia-dúzia. Neste momento, Lisboa tem dois tipos de ramen com os quais é preciso ter cuidado. Os primeiros são os ramens gourmet. Há dias, fui a um deles, supostamente dos mais delicados e artesanais, com loja no Cais do Sodré, mas na verdade o tonkotsu cheirava a porco sujo e o dito caldo custou 19 euros. Demasiado.
O outro tipo de ramens perigosos são os falsos ramen chineses. Nada contra a sopa de noodles chinesa, que pode ser bem boa e que na verdade está na origem da prima. Foram, aliás, os noodles chineses que inspiraram o ramen japonês. O ramen japonês só viria a surgir algures pela década de 1950, primeiro sob a forma de noodles instantâneos, depois sob a forma de tigelas fumegantes gourmand adoradas por foodies.
Acontece que os ramens chineses bons, os que não abusam de MSG e caldo de galinha, são raros.
O que distingue o bom ramen japonês dos falsos é a intensidade e complexidade do caldo, feito à base da cozedura de ossos (porco ou galinha, ou ambos), de fermentados (como o miso ou a soja), algas e peixe seco.
Ora, o ramen do Koppu tem isso tudo. É um ramen de escola – e isso não tem nada de mal, desde que a escola seja boa, como é esta. E faz sopas muito equilibradas, quer nos caldos mais elegantes e translúcidos, como o do shoyu ramen, quer nos caldos mais densos, como o do miso ramen ou os do tonkotsu (três variedades), com toppings na medida certa, do gengibre marinado à alga nori, passando pelo ovo ajitamago, cozido no ponto certo.
Fora os ramens, a cozinha do Koppu prepara os acessórios do costume de forma competente, sejam as gyozas de porco, seja o frango frito karaage e os feijões edamame, bem temperados e gulosos. E tem boas formas de adoçar a boca, na despedida, como foi o cheesecake vegan, feito à base de pasta de sésamo e de raiz de lótus.
O Koppu Ramen Izakaya tem duas moradas, neste momento: uma na Rua do Salitre, outra no Chiado.
A ideia de lhes chamar Izakaya não fará grande sentido, parece só mais outra palavra da moda para aparecer nas buscas do Google – porque a estética e o ambiente está longe dos izakayas típicos japoneses.
Os Koppu são antes restaurantes bem postos, com madeiras a sério, cadeiras sólidas, que agradam a toda a gente.
De resto, sobre o serviço, numa visita recente à casa da Rua do Salitre, ele foi posto à prova, sem encantar.
O único empregado a servir à mesa procurou apertar-nos junto a uma mesa complicada (com um bebé), quando o outro lado da sala estava vazio. Posto perante essa situação, contudo, aceitou simpaticamente a sugestão de mudança de lugar – e tudo correu bem daí para a frente.
Parabéns ao Koppu pela longevidade e consistência. Longa vida. Não demorarei tanto a regressar.