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La Brasserie de L'Entrecôte – Parque das Nações

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  1. La Brasserie de L'Entrecôte
    Francisco Romão Pereira
  2. La Brasserie de L'Entrecôte
    Francisco Romão Pereira
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A Time Out diz

Trinta anos depois, um dos restaurantes mais populares da cidade foi visitado pelo nosso crítico Alfredo Lacerda. No fim, não se cantaram os parabéns.

Quando o garfo já vinha a caminho da boca, senti uma certa emoção. Na ponta, uma fatia da carne lambuzada num molho espesso e lácteo. O que estava ali era um bocado da história da restauração portuguesa, três décadas dela, e eu nunca a tinha provado. 

Mal a peça de dominó pousou na língua, o espanto. Estava preparado para um mix de ervas finas da Provença, mas isto era outra coisa. Primeiro apareceu o alecrim, depois notas mais fortes – rosmaninho, porventura lavanda, porventura alfazema.

Aquilo já não era um molho: era um sabonete da Occitânia. Era o cantinho das aromáticas atirado para dentro de uma poça de natas e mostarda (a casa fala em 18 ingredientes secretos). 

Do outro lado da mesa, o Lacerda Jr. gostou, contrariando o desagrado paternal. Adolescente, praticante de artes marciais e carnívoro agudo, parecia feliz. “Sabe bem. Estás a ser preconceituoso.” 

Certo, certo. 

No capítulo da carne, mais preconceitos. Eis então o famoso entrecôte. Mas seria, mesmo? A peça de entrecôte faz, por norma, o meu bife favorito. É um corte raro e caro: em rigor, um bovino não terá mais de quatro dedos de bife de entrecôte. Na boca, o seu encanto vem de ser tenro como uma vazia, mas saboroso como uma costeleta do acém. 

Isso não acontece por acaso: em teoria, o entrecôte fica na ponta do acém, antes de chegar à vazia, na parte dianteira do bicho. O que o distingue é uma linha de nervo, colagénio e gordura que atravessa a peça e que produz sabor. É essa linha de nervo, colagénio e gordura que faz do entrecôte uma maravilha. 

Ora, este entrecôte vinha desmanchado em lâminas, escondidas por uma capa de molhanga opaca. Ainda assim, não tinha linha nenhuma, nem personalidade, nem sabor: não sabia a entrecôte, não parecia entrecôte, não era entrecôte. Acresce que estava cozida e mole como uma entrada de buffet de casamento. 

"E o que achaste da carne?", insisti com o adolescente. “Boa”, atirou, sintético, a boca cheia de proteína animal. 

Certo, certo. 

Passemos então às batatas fritas. As batatas fritas são a outra jóia da coroa da La Brasserie de l’Entrecôte, casa que começou no Chiado e, hoje em dia, vai em cinco locais, entre elas a do Parque das Nações, onde decorreu este jantar. 

São gulosas as batatas fritas da Brasserie, feitas de batatas a sério. Mas ninguém pense que há uma senhora a descascá-las na cozinha o dia todo. Hão-de chegar dentro de um saco, já sem pele, e serão “brigidas e depois fritas” – palavra do empregado. 

De resto, o que mais importa é que têm um tamanho curto e são fininhas e fritas em óleo bom. Podia comer a travessa inteira, não fosse a competição do Jr. 

Menos disputados foram os outros pratos que vieram para a mesa. De entrada, uma novidade da carta: a tábua de queijos franceses. Sete pecinhas de três tipos, um Comté, um Reblochon e um Boursin, demasiado frios e banais, acolitados de nozes rançosas e groselhas frescas. 

A outra novidade que veio para a mesa também não encantou. A salada com “profiteroles de bacalhau” eram bolinhas secas de massa choux industrial recheadas de maionese e aroma de bacalhau, mais folhinhas de alface. 

Por fim, a sobremesa. O clássico crème brulée mostrou-se caseiro e doce, muito doce, uma fina camada de creme, na base, uma grossa camada de açúcar queimado, na superfície. 

Importa ainda falar do couvert, 5,60€ de baguete e pãozinho de sementes sem graça, quem sabe fabricados e congelados para lá da Occitânia e transportados num camião frigorífico até aos confins da Península. 

Fora o problema de serem fraquinhos, na factura foram contabilizados à grande e eu quis saber da razão, junto da empregada.

“Nós só pedimos um couvert, mas aparecem dois na conta”, perguntei, o adolescente enfiado na cadeira, envergonhado. 

“É política da empresa. O couvert é cobrado por pessoa”, respondeu. 

“Mas é a mesma quantidade de como se fosse para uma pessoa?”, retorqui. 

“É, sim”. 

O que achas disto, Jr.?, indaguei, por fim. 

“Acho mal”, aceitou. 

Mostrei-lhe, depois, o papelinho da conta onde se podia ler: 84,80€. “E disto, o que achas, Jr.? Dá 42,40€ por pessoa. Continuas a achar isto mesmo bom?”, rematei, desviando o menu (daqueles iguais aos das cadeias de fast food, tipo bibelô de plástico sobre a mesa) e colocando o recibo sobre a toalha de papel (daquelas das tascas). 

“Ui, isso é muito. Não vale”, admitiu. 

Certo, certo. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Alameda dos Oceanos 43A
Lisboa
1990-203
Horário
Seg-Dom 12.00-23.30
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