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Margarita Alvalade

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Margarita Alvalade
Francisco Romão Pereira/Time OutMargarita Alvalade
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A Time Out diz

3/5 estrelas

O restaurante que incendiou as redes, na semana passada, pôs a nu Diogo Faro, peregrinos e Google. Alfredo Lacerda explica porquê na única review que interessa.

A história diz-nos dos novos tempos. Um grupo de peregrinos vai ouvir o papa ao Parque das Nações. Depois, dirige-se para o centro da cidade. Está calor. No caminho, dá-lhes a sede e a vontade de fazer chichi. São 60 jovens pessoas.

Na Avenida da Igreja, param num restaurante amplo, com esplanada. É um restaurante, não um snack bar. Querem hidratar-se e fazer chichi. Um empregado diz-lhes que não. Que o restaurante já tem reservas. Os peregrinos ficam danados e vão retaliar para o sítio onde as pessoas retaliam. No Google Maps, treze deles dão uma estrela ao restaurante, baixando-lhe a média.

O restaurante reage e faz saber do acontecido a Diogo Faro, influencer, populista woke das redes sociais. Diogo Faro tinha publicado vídeos e mensagens contra as Jornadas Mundiais da Juventude, onde criticava o gasto de dinheiros públicos com “beatos” e mostrava imagens avulsas de católicos a serem pouco católicos.

Vai daí, toma as dores do Margarita. No dia 8 de Agosto, Faro apela às massas: “Internet, bora fazer a nossa parte e recuperar as estrelas a este restaurante”, escreve na sua conta do Twitter, onde tem 66 mil seguidores.

A Internet não só recupera as estrelas como põe o restaurante onde ele nunca tinha estado. Nos três dias seguintes, o Margarita recebe centenas de avaliações de 5 estrelas, mais do que tinha recebido nos 12 meses anteriores, desde que o estabelecimento abriu: de cerca de duas centenas de avaliações, no total, até dia 7 de Agosto, passou para mais de 870, nos quatro dias seguintes.

Nos comentários, houve quem tivesse feito notar que Diogo Faro, no seu justicialismo primário, tinha provocado outra injustiça. Que os 4,8 pontos de média, com que o restaurante acabou por ficar avaliado, não eram reais. Que comentar sem provar é feio. Que o restaurante é fraco. Que já o era antes de os peregrinos lá passarem.

Ora, eu nunca tinha ouvido falar no Margarita. Suspeito que nunca lá entraria, não tivesse recebido uma mensagem da minha editora, com link para o tweet de Diogo Faro. “Olha o que está a acontecer. Não estará aqui uma crítica?”, escreveu-me, através do Whatsapp. Estava, com certeza.

No dia seguinte, fiz chichi em casa, bebi uma água e pus-me a caminho. O restaurante estava semi-cheio, mas deram-me a escolher a mesa. Olhando em volta, ambiente tropical, passarada colorida nas paredes, azulejos e candeeiros com luz focal, tudo bonito, alegre e confortável.

Uma simpática empregada explicou “o conceito”, que eram dois. “Somos um restaurante venezuelano com pratos italianos.” Ok. Interessante. Indianos italianos, conhecia. Venezuelanos italianos, não.

Comecei por pedir tudo o que soava hispânico e tudo eram duas entradas. As “arepitas”, pequenos discos de farinha de milho, sem recheio, de boa textura mas com aroma a óleo de má qualidade (3 estrelas).

E os “tequeñitos”, anunciados como sendo feitos com “a nossa massa caseira recheada de palitos de queijo gouda”. De caseiro, nada, parecia mesmo massa industrial com queijo industrial, vindos do pacote do congelador (2 estrelas). Quanto aos “dips”, servidos em meia-dúzia de molheiras, apesar de liquefeitos eram agradáveis, sobretudo o de pimentão fumado e de alho (3 estrelas).

De resto, da Venezuela, na carta, ainda vi mais um assado negro, mas o domínio era claramente italiano, com as pizzas e as massas “frescas” do costume. Vamos a elas.

Optou-se pela rainha das pizzas da temporada, com figos frescos, presunto e queijo Gorgonzola. Massa elástica e saborosa, artesanal com toques de levedura industrial, os rebordos arejados. Não compete com as melhores pizzas de Lisboa, mas está bem (4 estrelas).

Quanto à massa “fresca” era de pesto de pistacho, mortadela italiana e burrata. A massa estava sobrecozida e insonsa; o pesto pouco intenso de pistacho e ervas e tudo; a burrata já a começar a azedar (2 estrelas).

Por fim, a sobremesa. Duas opções, ambas fora da carta, debitadas pelo empregado, sem anúncio do preço. Escolheu-se a panacota com frutos vermelhos. Copo bonitinho, panacota de boa textura, porém dulcíssima e com baunilha de síntese; no topo, doce de frutos vermelhos, falso como refrigerante de morango (3 estrelas).

No que respeita ao serviço, chegaram cedo as bebidas (boa limonada e bom sumo natural de maracujá: 4 estrelas) e as entradas, mas tudo o resto demorou mais de 50 minutos, desde que foi feito o pedido. Empregados esforçados mas distraídos, amadorismo no trato e na atenção (3 estrelas).

O preço fica abaixo da média da cidade, mas estamos em Alvalade, não no olho do furacão do turismo. Pagaram-se 20€ por pessoa, sem vinho (3 estrelas).

Em síntese. Na contenda Peregrinos Vs Diogo Faro perdem ambos. O Margarita vale mais do que a 1 estrela dos jovens católicos. E menos do que as 5 estrelas dos novos inquisidores woke, representados pelo nosso herói das redes, com faro para polémicas instantâneas.

Perde também o Google: o caso mostra como basta um tweet para alterar o resultado das reviews. E, perco eu, que gastei umas dezenas de euros à conta de catequistas e influencers. 

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
124c
Av. do Brasil
Lisboa
1700-074
Transporte
Metro Alvalade
Preço
20-25€
Horário
Ter-Dom 12.30-16.00, 19.00-23.00
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