Mi Dai

  • Restaurantes
  • Martim Moniz
  • 5/5 estrelas
  • Recomendado
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A Time Out diz

5/5 estrelas

Fica no número sete da Calçada da Mouraria, não tem nome à porta e é conhecido entre os frequentadores da zona como a “cantina chinesa”. O modus operandi para fazer o pedido assemelha-se, de facto, ao de um exemplar da espécie. Entra, dirige-se ao balcão do fundo, aponta para os ingredientes que quer e vê-os serem levados dali para o wok, de onde saem perfumados a alho, gengibre e pimentas peça o arroz branco para acompanhar. Há ainda sopas de noodles para sorver.

Crítica: 

O nome acima não lhe deve dizer nada. O que importa é que no nº 7 da Calçada da Mouraria mora um dos restaurantes chineses de que Alfredo Lacerda mais gosta.

Lá dentro, não se vê um dragão dourado, uma cadeira plastificada, uma mesa giratória. Também não há menus por seis euros nem a carta tem fotos de chop soeys desfocados sacados da internet.

Não há, aliás, chop soeys.

Nem carta.

A comida está toda ali num balcão frigorífico, cada travessa de alumínio um produto. Beringela roxa, chocos, lulas, peixe pampo prateado, tripas, caranguejo real, espinafres de água, medusa – e muito mais, tudo fresco, comprado num dos excelentes supermercados chineses do Martim Moniz, a menos de 100 metros.

Estamos, portanto, em plena Chinatown lisboeta, no centro de Lisboa. Mas pode não ser fácil dar com o sítio. Apesar de ser um résdo- chão, a porta escancarada para a rua e grandes janelões, o restaurante não está identificado. O nome que lê no cimo desta página anotei-o depois de espreitar a licença discretamente afixada lá dentro. De resto, não há uma tabuleta, um reclamo, nada.

Para lá chegar, sobe-se a Calçada da Mouraria, entre a Rua dos Cavaleiros e a Rua do Benformoso, e procura-se pelo número 7. Se não der com o lugar, pergunte no supermercado Hua Ta Li pela “cantina chinesa”. Os poucos portugueses que o frequentam (o chef e gastrónomo André Magalhães, da Taberna das Flores, é uma visita regular) baptizaram-no assim – o que também é só semi-apropriado: a sala é de facto austera e despojada, meia dúzia de mesas e cadeiras e uma televisão a um canto, mas o preço de uma refeição pode chegar aos 10 euros, demasiado para o proletariado asiático do Martim Moniz lá almoçar todos os dias.

Olhando para a clientela, estaremos a falar sobretudo de patronato chinês a matar saudades da comidinha da terra, clientela gold visa em rota para negócios e compras na Baixa; chineses com iPhone e sapatilhas Dolce & Gabana que comem como chineses, encurvados sobre os pratos, sorvendo a massa (não há outra forma de comer sopa de noodles sem respingar); chineses que podem soltar um arrotinho e até fumar, apesar do imenso placard na parede com a cruz sobre o cigarro.

Quanto à comida, nunca consegui perceber, com certeza, de que região da China é a cozinha. O empregado já me soletrou, inclusive, a origem, mas nada que conseguisse assinalar num mapa. Apostaria, todavia, em Fujian, zona costeira entre Xangai e Cantão, onde há coisas do mar e da montanha, muitos salteados, muita variedade.

Na hora de escolher, o procedimento aconselhado é este: vê-se o que está na montra e aponta-se para a travessa. O rapaz passa-a então à mãe ou ao pai, que por sua vez a despeja num wok sobre um bico que parece um lança chamas. Às vezes há surpresas, não era bem aquilo com aquilo. Mas nunca de lá se sai desiludido.

Em caso algum passe as lulas com pickles de couve chinesa, o molusco em juliana salteado com alho, no final um banho de soja, vinagre de arroz e uma pitada de pimenta branca. Outro prato obrigatório é a beringela roxa. Na travessa aparece com um caldo escuro de soja e pasta de feijão com malagueta, carne picada, feijão edamame e aros de ceboleto – uma combinação incrível do doce caramelizado da beringela com o salgado da soja, a frescura do gengibre e a acidez do vinagre.

O entrecosto frito são peças de dominó com osso, marinadas e depois fritas a alta temperatura. Ao lado costuma estar uma outra bandeja com barriga de porco e pato (não pergunte pelos crepes, por favor), cozidos em caldo, um autêntico condensado de umami. Aconselho que acompanhe tudo com umas cervejas e uma tigela de arroz branco, aqui cozido na perfeição, muito saboroso.

Se quiser um almoço mesmo económico e rápido escolha antes a sopa de noodles. Há de peixe e de carne, em ambas a massa magnífica, al dente, o caldo aromático e a ferver. Na de peixe nota-se o gengibre, na de carne – a minha preferida – o anis. Se optar pela vaca (pode escolher outra carne), vai ter tendões e muita gelatina (com sorte), couve chinesa crocante, e um caldo complexo extraído da cozedura prolongada de ossos e especiarias.

No final, não precisa de mais nada. É entregar uma nota de cinco euros e agradecer com um “xiè xiè”.

Atenção: o sítio fecha às 21.00. Por isso, vá ao almoço ou jante cedo. Mas vá.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Calçada da Mouraria, 7
Lisboa
1100-394
Transporte
Metro Martim Moniz
Preço
Até 10€
Horário
Seg-Dom 10.00-21.00
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