A Time Out na sua caixa de entrada

Procurar

Muito Bey

  • Restaurantes
  • Cais do Sodré
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Muito Bey
    ©Arlindo Camacho
  2. muito bey
    ©Miguel Manso
  3. 2018
    ©Miguel Manso
  4. 2018
    ©Miguel MansoMuito Bey
Publicidade

A Time Out diz

4/5 estrelas

Descobrimos a nova Meca gastronómica da cidade e a palavra trendy do momento. Vai um "mezze"?

Desde que o Muito Bey inaugurou, em Outubro do 
ano passado, 32 indivíduos e 
um dromedário fizeram-me a pergunta: “Já foste àquele libanês novo ali no Cais do Sodré?” Já, respondi-lhes. Eu; uma turba excitada de hipsters com MINI Cooper; a base de dados da agência Nomad; foodies que querem ser sempre os primeiros; e os outros que andam sempre atrás destes.

Basta ver a clientela de barba crescida e cabelo rapado, ou abrir o Instagram, para se perceber
o fenómeno. A restauração lisboeta está a ter a sua Primavera Árabe. Depois da aragem latino-americana, da corrente de ar
do Extremo Oriente, os ventos parecem soprar do Levante. À excitação com ceviches, sushis, tapas e petiscos sucede agora a exaltação dos “mezze”, palavra que designa pequenos pratos de comida do Médio Oriente, sobretudo do eixo Síria-Líbano-Jordânia.

O hype coincidiu com o projecto Pão a Pão, que ajuda os refugiados sírios em Portugal e pôs centenas de portugueses a provar coisas como tabulé e baba ghanouj. No mês passado, uma série de jantares no Mercado de Santa Clara, cozinhados pelos próprios refugiados, tiveram lotação esgotada e mereceram aplausos efusivos. O sucesso da iniciativa foi tal que o Pão a Pão quis prolongar a experiência: o restaurante Mezze deverá abrir ainda este ano.

Temos, portanto, uma tendência. Mas uma tendência antiga.

Convém lembrar que corria o ano de 711 quando os sarracenos entraram pela Ibéria cheios de novos produtos e receitas boas. Montaram sede na Andaluzia, mas espalharam-se até ao Cabo da Roca, por aqui permanecendo umas centenas de anos. O legado não se limitou à alfarroba, à alcachofra e a outros vocábulos começados por “al”. Dos figos
às laranjas passando pelo escabeche, houve uma série
de outras coisas que os mouros deixaram no nosso estômago colectivo.

Talvez por isto, poucos estranharão a comida deste Muito BEY. Na mesa há pão, frutos secos, azeite e azeitonas, saladas, grelhados, ervas aromáticas – tudo coisas familiares, frescas, saborosas e saudáveis que qualquer nutricionista luso prescreveria como dieta.

Do que se provou – e foi muito –, destaca-se o seguinte.

Fabuloso o mutabal, mais conhecido por baba ghanouj (6,50€): beringela assada e esmagada com tahini (pasta de sésamo, que também entra no hummus) aqui com bagos de romã a espevitar tudo – fumado, doce, ácido, amargo, um creme lânguido e misterioso como as noites do califa, excelente para imergir o pão manuché, achatado e assado no momento.

Outro prato vencedor é a kafta (11,50€, por vezes grafado como kofta): espetadas de carne de vaca e borrego (versão ocidentalizada, no Médio Oriente estes kebabs só costumam levar borrego) moída com cebola e salsa, suculentas. Ainda dentro dos clássicos, o falafel (7,50€), porventura o pastel mais perfumado do mundo (cominhos, coentros, alho, paprika...) é aqui mais amargo do que nas versões israelitas que proliferam no Ocidente, por ter na base puré de fava (tradição egípcia) além do de grão. Muito bons, também, os fígados de galinha salteados com molho
de romã (saudit djej, 7,5€) e o labné meklié (7,5€), o tradicional iogurte coado e panado.

Continuando nos fritos, o kibbé (7,5€, três unidades)
 seria sempre um favorito, mas desiludiu: embora o Muito BEY faça uma receita rica, juntando pinhões ao recheio de carne, não se sentiram as habituais camadas de borrego e vaca e o croquete veio queimado. Houve ainda outras falhas, sobretudo pratos demasiado salgados (pickles, tabulé) e um serviço ora inseguro ora altivo.

Quanto à decoração, quem vá ao Muito BEY à espera de tradição e folclore sairá frustrado. O espaço tem um ambiente moderno e arejado, tal como acontece aliás com grande parte dos restaurantes de Beirute, porventura a capital mais europeia do Médio Oriente, de onde é oriundo o dono.


Nada, em todo o caso, que dê cabo do hype ou faça esquecer as virtudes – perdão: os mezze.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua da Moeda, 8
Lisboa
1200-275
Transporte
Metro Cais do Sodré
Preço
Até 30€
Horário
Dom-Qui 12.00-15.00/19.30-00.00, Sex- Sáb 12.00-15.00/19.30-01.00
Publicidade
Também poderá gostar
Também poderá gostar