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O Poke

  • Restaurantes
  • São Sebastião
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado
  1. O Poke
    ManuelMansoO Poke
  2. O Poke
    Fotografia: Manuel Manso
  3. O Poke
    ©DR
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A Time Out diz

4/5 estrelas

O filme de promoção ao Gourmet Experience, do El Corte Inglés – onde está este Poke, bem como os restaurantes de Avillez, Sá Pessoa, Roberto Ruiz, Pepe Solla e Aitor Ansorena – foi bem esgalhado mas deu azo a uma piada.

“Adivinha. Quantas vezes subiram os chefs do Gourmet Experience ao sétimo andar do El Corte Inglés? Resposta certa. Uma. Durante a gravação do vídeo que fizeram para as redes sociais.”

Enfim, não é uma piada hilariante, nem sequer verdadeira, mas, como todas as piadas tem um referente – que é este: as celebridades da cozinha portuguesa andam a vender restaurantes como o Ronaldo vende camisolas. São uma marca. Concebem a carta, ajudam a definir o conceito, mas depois não metem lá os pés. Desinteressam-se.

Uma das pessoas para quem esta ideia será injusta é Kiko Martins. De todos os chefs com vários restaurantes, ele será dos mais dedicados. E isto volta a ser evidente no Poke, o mais luminoso dos espaços do Gourmet Experience.

O conceito não tem nada de novo. O poke é o mais famoso prato havaiano e espalhou-se pelas grandes capitais ocidentais, de Nova Iorque a Londres, há uns três ou quatro anos. Depois dos rolinhos de peixe cru (sushi), do peixe cru em lima (ceviche), chegou a vez do peixe cru em cubosembebidosemmolho ponzu (poke).

A comida do Havai tem um pouco de todo o mundo porque todo o mundo lá parou, dos primeiros exploradores ingleses no século XVIII, aos colonos americanos, passando pelos chineses, japoneses (muito influentes), filipinos, coreanos (trouxeram entre outras coisas o kimchi) e portugueses, sobretudo açorianos e madeirenses – estes tidos como responsáveis pelo sotaque inglês particular dos habitantes do arquipélago, pelos chouriços e pelo ukulele. O Havai é, então, esse território que a todos acolheu de braços abertos, com a bonomia do Aloha.

Não esperem no Poke, todavia, empregados com colares de flores e música havaiana. O restaurante está isento de folclore (ainda bem) e não estamos sequer perante gastronomia da ilha do Aloha. Há um toquezinho da coisa, uma inspiraçãozita, dois ou três pratos próximos dos sabores autênticos do Havai, outros com ingredientes alternativos, outros criações com um cheirinho de. Mas na essência é cozinha de fusão de Kiko. E é bom.

Em duas visitas recentes, essa sensação começou com o couvert: bolos de milho ensopados com o que me pareceu ser um caldo de marisco; bolachas de sésamo para barrar uma maionese de kimchi; gema de ovo curada.

Seguiram-se os spring
rolls, versão chinesa dos ditos vietnamitas, com mistura 
de carne moída de porco e camarão, pastéis saborosíssimos espevitados por um agridoce picante com personalidade. Seguiu-se o poke puro, o mais próximo do clássico tradicional havaiano: cama de puré de abacate e o peixe salino e fresco com tapioca, sésamo e um pó preto exótico com um fruto seco moído. Noutra visita, provou- -se ainda o poke de polvo com kimchi, outra vez tudo muito fresco, com rebentos de brócolos e puré do mesmo.

Nisto chegou a espetada de camarão com arroz tom yum, uma referência à famosa sopa tailandesa marcada pelo leite de coco, malagueta, lima kafir e erva- -príncipe. Estava tudo no prato: arroz caldoso perfumado, cebola roxa e papaia verde desfiada em citrinos – e uma bolinha de espuma de coco extraordinária, vencedora destacada na competição Melhor Ingrediente a Solo. A espetada revelou-se bem mais pobre, cinco camarões descascados – pequenos e secos, muito pouco para os 16,20€ cobrados.

Terminou-se com a mini-sandes kalua pig. O kalua pig havaiano tem pouco a ver com esta versão, sendo feito de porco desfiado. Kiko usa entremeada (ou barriga de porco, se quiserem parecer gourmet), a carne tenra mas selada, picante e exótica. Supostamente, teria também aquilo que a carta designa de “bife de camarão” mas devemos estar face a um nome criativo (e enganador) para o molho que condimenta a entremeada. Quanto ao “pão de matcha”, na verdade, sabia pouco a matcha
 (o caríssimo e magnífico chá japonês) mas era fino e bonito e saboroso e não desmereceu em nada o resultado final, tão-só uma das melhores sandes que comi ultimamente.

A terminar, o vulcão de cacau com espuma de goiaba e avelã moída vinha desmanchado, mas era bem bom.

Apesar do restaurante
estar meio vazio, e apesar dos muitos empregados ao serviço, houve atrasos, esquecimentos, desconhecimento sobre o que se estava a servir e, até, erro na facturação em sete euros (sem que se tivesse pedido desculpa).

Por falar em facturação, eis o busílis da questão. Éramos dois, ao almoço, e pagámos 80 euros. Comemos tudo e não ficámos a abarrotar. Não está em causa a comida. Está em causa pagar 40 euros para almoçar numa praça de alimentação.,

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
El Corte Inglés
Avenida António Augusto Aguiar, 31 - Piso 7
Lisboa
1069-413
Preço
25-40€
Horário
Dom-Qui 12.00-00.00, Sex-Sáb 12.00-01.00
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