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Oh! Lacerda

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  • São Sebastião
  • 3/5 estrelas
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Oh Lacerda
Francisco Romão Pereira
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Na Avenida de Berna, José Margarido reencontrou-se com um clássico lisboeta. Após muitas reticências, lá chegou ao ponto de exclamação.

O ponto de exclamação é como uma especiaria: pede mão certeira e moderação. Usado a preceito, pode dar sabor de espanto, susto, admiração, indignação, raiva, exaltação, entusiasmo ou excitação. Em excesso, dá gritaria. Penso nisto à mesa do Oh Lacerda!, enquanto tento interpretar aquele nome pontuado. Pergunto-me se a ideia é chamar pelo Lacerda, aclamar o Lacerda, ou mesmo derreter-me com o Lacerda – como aquela senhora que exclamava “bravo!” sempre que o Ambrósio lhe dava uma guloseima. Veremos.

À porta, há selos de recomendação da Time Out que não se renovaram com o tempo. Já era tempo de tirar de novo o pulso à instituição. A casa remonta a 1947 e começou por ser um talho. O nome completo do lugar mantém-se, aliás, Restaurante Cortador Oh Lacerda!, e houve tempos em que as carnes se exibiam e insinuavam, penduradas na sala de jantar. Nas paredes, há fotografias a evocar essa memória de açougue, misturadas com cornos, chocalhos, barros do Redondo e loiças das Caldas, mais uma farta colecção de notas e moedas em vitrines emolduradas. Uma parafernália de referências castiças sem geografia certa, coisa típica de lugar algum, mas que resulta num conjunto acolhedor e estranhamente familiar. 

A clientela é, também ela, familiar. Estreio-me ao almoço, dia de semana e sala cheia. Pelos salamaleques, noto que é tudo clientela habitual, menos eu e a minha companhia. Noto também que toda esta gente partilha o mesmo nome: doutor. Vamos mordendo o ambiente, umas boas azeitonas galegas e pão simpático com vinho da casa, que vem de Arraiolos e não deixa a casa ficar mal. Bons sinais.

Na ementa há seis pratos marcados como especialidade e outros oito como sendo do dia. Apostamos num de cada sorte: das especialidades, uns filetes de polvo (13.50€); do menu do dia, umas lascas de bacalhau (14,50€).  

O cefalópode chega firme e tenro, o polme bem seguro, mas o tempero pouco viçoso. Acompanha um arroz de coentros razoável, o bago no ponto, o conjunto um pouco aguado. O termo técnico, creio, é desenxabido. Seguimos numas lascas de bacalhau, prato dia, que também não causam admiração. O peixe é claramente de boas famílias, mas alguém se esqueceu dele dentro de água. Vem insosso e insulso, escoltado por uma couve ripada e salteada sem alegria. Tudo bom produto, é certo, mas genericamente aborrecido. Do almoço, a única exclamação que registo é a da dona da casa quando lhe peço para reservar mesa para jantar no mesmo dia. 

À noite repito a companhia e a vaquinha. Arrancamos com um bacalhau à braz (11.50€) e percebemos que o nível subiu. O conjunto chega húmido e guloso, os ovos ainda frescos, o bicho desfiado grosseiramente como se quer, a gordura um pouco acima da conta, mas com azeite de boa safra. Ainda não estamos no ponto de admiração, mas o entusiasmo dá sinais.

Eis então que passamos para um bife do lombo de vitela à cortador (18.50€). A carne com dois dedos de alto, de uma macieza ternurenta, o exterior selado a rigor, o interior cru a pedido. Pimenta preta, um toque de manteiga e pouco mais. Oh Lacerda! Até que enfim, homem! Percebo agora que fiz bem em não pôr um ponto final na nossa história, depois das reticências do almoço. E não te admires se me vires repetir o bife amanhã. 

José Margarido
Escrito por
José Margarido

Detalhes

Endereço
Avenida da Berna, 36 A
Lisboa
1050-042
Transporte
Metro Praça de Espanha. BUS 716, 726, 756
Preço
Até 30€
Horário
Seg-Sex 12.00-16.00, 19.00-22.30
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