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Pita Gourmet

  • Restaurantes
  • Grande Lisboa
  • preço 1 de 4
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Pita.gr
    Fotografia: Francisco Santos
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    Fotografia: Francisco Santos
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Há uns anos tomei a
decisão de fazer campanha pela gastronomia grega. Aconteceu depois de uma visita a Atenas, cidade conhecida pela fealdade cinzenta e monótona. Ao segundo dia, estava a embebedar-me de ouzo nas ruas da Plaka; ao terceiro, descobri o Mercado Central e restaurantes em redor e nunca mais esqueci o sítio. No exterior, frutas e legumes, tudo em grandes quantidades, cores fortes e aromas frescos, uma praça cercada por rulotes onde se comiam pequenos hambúrgueres suculentos de carne de borrego e coentros. Lá dentro, grandes peças de carne penduradas nas bancas e aves por depenar contracenando com peixes secos e salgados, alguns imersos em grandes bidões de salmoura, dezenas de variedades de azeitonas, vários tipos de conservas artesanais, a atmosfera pesada e exótica.

Um mercado assim só pode dar cozinha mediterrânica da boa, aqui e ali com um toque 
de especiarias e frutos secos, a lembrar-nos que estamos em território de transição entre Ocidente e Oriente. Sucede que comi sempre maravilhosamente em Atenas, mas não voltei a ter essa sorte fora da Grécia. Não há muitos restaurantes gregos em Portugal e os que experimentei deixaram-me sempre assim-assim. Muito folclore, muito tzaziki, pouca comida de conforto, mais vaca que borrego, mais baklava que rizógalo.

Ora, este Pita Gourmet foi-me apresentado como a coisa verdadeira instalada num sítio onde há poucas coisas verdadeiras – a marginal da Costa da Caparica, mesmo em frente à lota e ao areal. À direita e à esquerda, uma Praia da Rocha sem ingleses, sendo que o Pita Gourmet não destoa da estética, a decoração a querer ser franchising (na verdade há outros Pita Gourmet, em Albufeira e no Porto), paredes de azul grego a dar a dar com menus de azul grego, a sala desarrumada como uma barraca de praia lotada em pleno Agosto, altura em que se deu a experiência.

Fiz lá duas visitas e em ambas sentaram-nos nos piores lugares, com aquela manha de as outras mesas vazias estarem reservadas, sendo que estávamos ainda húmidos de um mergulho e puseram-nos na corrente de ar; pouco depois chegaram passantes devidamente secos e foram lá instalados. Feiinho.

Dito isto, a casa tem muitos empregados e todos simpáticos 
e há um senhor de sotaque grego de caricatura, como um desses imigrantes de série norte-americana. É ele quem gere
os conflitos, explica a comida e supervisiona, sempre no ritmo esbaforido das pessoas pesadas que correm a andar. É um grego verdadeiro e dá credibilidade ao que se come, mas falha no excesso de zelo para com o serviço. Por duas vezes, afastou-me da zona da grelha, uma cozinha aberta nas traseiras que seria uma maravilha se estivesse no meio da sala, como uma performance. Podia ficar 
ali horas a ver os empregados a assarem salsichas para o lukanko ou a cortarem a carne para as pitas ou a assarem o pão achatado de sémola de trigo. Está aqui a alma do restaurante e não se esconde a alma de ninguém.

Quase tudo o que veio para a mesa partiu de lá. Da primeira visita, provou-se a tábua de entradas, com alguns clássicos gregos e do Médio Oriente. O tsatsiki gordo de iogurte e fresco de endro (podem carregar mais) e limão; a tirosalata, um paté de queijo feta que resulta numa pasta picante com pimentão, óptima também; a melinzana feita de beringela fumada, com pimentos assados por cima, a minha preferida; o hummus simples e leve (gosto com mais taihini, a pasta de sésamo torrado, e mais cominhos).

Ainda a abrir as hostilidades, a obrigatória spanakopita, rolos de massa filo recheados de espinafres e queijo feta. Pena estarem já esfriados e secos. Com a mesma capa, a tiropita vinha com queijo feta e mel e padeceu do mesmo mal.

Nos principais, provou-se a pita gyros, a mais popular da carta: carne de porco suculenta embrulhada em pão pita. Numa segunda visita variou-se com a pita bifteka, de carne picada com queijo feta. Não haverá outras pitas assim em Lisboa, mas sugere-se que o pão seja assado como deve de ser e que não se poupe no recheio.

Quanto à musaka, foi a grande desilusão. A musaka é uma espécie de lasanha com um pudim de bechamel em vez da massa e uma camada de lascas de beringela salteada na base; no meio, carne picada que deve de ser de borrego e não proteína indistinta. No caso, apareceu num prato grande com a comida esboroada e morna. Em volta da musaka destroços de salada, pasta de azeitona (muito boa, por sinal) e mais tsatsiki.

Fora isto, eu podia lá ir só para comer o acompanhamento
 de batatas furnu, cortadas em gomos e cozinhadas lentamente, aparentemente confitadas, servidas com um molho de laranja e orégãos. Ainda neste campeonato, as feijocas gigantes com molho de tomate e aipo pecaram pelo travo adocicado do tomate enlatado.

Muitas das sobremesas gregas são roubadas à Turquia, como
 é o caso da baklava, a coisa
mais doce depois do torrão de açúcar. Nunca amarga, mas não parecia particularmente fresca, confirmando a fama de coisa intrinsecamente enjoativa. O gelado de iogurte grego não sendo mau era iogurte grego gelado. O cheesecake de maracujá confirmou ser um desses blocos brancos sem cheese e polpa de maracujá por cima. Surpreendeu, no meio disto, o tahini choco, uma espécie de chantilly de chocolate com tahini.

O que se tira daqui? O que concluir deste carrossel de emoções? O Pita Gourmet (nome que poderia figurar na categoria Teens de um site porno) vale a pena. Não consigo lembrar-me de muitas opções melhores para comer depois de um mergulho nas praias da Costa da Caparica. Quem lá está sabe como se faz e tem acesso aos ingredientes originais. É só querer fazer bem, o que nem sempre aconteceu. Voltarei fora da época alta. A busca da minha Atenas não terminou.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Escrito por
Editores da Time Out Lisboa

Detalhes

Endereço
Avenida General Humberto Delgado, 11
Costa da Caparica
2825-278
Preço
10-15€
Horário
Seg-Sex 12.00-15.30, 19.00-23.00
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