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Potzalia

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Potzalia
Ricardo Lopes
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A Time Out diz

4/5 estrelas

O Potzalia é um cantinho esconso de um centro comercial esconso, ali onde Entrecampos acaba e começa o Rego. Não tem patine, não tem sequer o encanto decadente desses shoppings dos anos 1980. É um bocado de betão pintadinho, comprimido entre prédios espelhados, onde existem meia dúzia de lojas, snack-bars e ateliê de estética. Só lá vai quem sabe, só lá vai quem conhece Sandra Ruiz.

A história foi contada nesta revista. Natural da Cidade do México, Sandra chegou a Portugal por acaso e aqui casou, pouco depois de conhecer o actual marido num couchsurfing. Tiveram dois filhos, Sandra entretanto distraiu-se com outras ocupações, mas eis quando, já este ano, decidiu corresponder ao apelo de amigos e conhecidos, provadores dos seus tacos e do seu pozole. O restaurante abriu sem pompa, em Janeiro, e tem sido, essencialmente, um segredo mal guardado da comunidade da América Latina em Lisboa.

Não sei se lhe devo chamar restaurante, todavia. É um cantinho mesmo, onde cabe uma cozinha mínima, aberta e desarrumada. As mesas estão cá fora, no átrio do centro comercial, com meia dúzia de assentos. Mas se lá almoçarem dez pessoas ao mesmo tempo, desconfio que haverá problemas, de tão apertados são os meios e a logística.
Nada disto importa se Sandra estiver presente. Ao primeiro contacto, sente-se a força de alguém que teve quatro irmãos e começou a fazer comida quando ainda não chegava ao fogão. Quando lhe pedimos o menu, ela recusa e responde que já o leva. Há explicações a dar. Apesar das limitações da cozinha, estão disponíveis uma dezena de tacos – e dos bons.

Tudo começa nos molhos, os três magníficos da cozinha mexicana: belíssimo o de chiles secos, com ancho e morita, notas de fumado e de chocolate; bem fresca a salsa verde, com serrano; e aromática e quentinha a salsa de habaneros. Com isto, umas tortilhas e o guloso jalapeño relleno, de entrada, já se fazia uma festa, mas os tacos são a alma da casa. Vamos a eles.

Não me lembro de ter comido uma Lengua en salsa negra (língua de bovino, estufada) tão saborosa e apurada. Nem um Conchinita pibil, clássico de porco estufado em citrinos e pasta de achiote (condimento clássico mexicano, feito de sementes de anato moídas, que dão uma cor avermelhada e um sabor terroso e ligeiramente ácido). Apesar de prevalecer a carne, há ainda três tacos vegetarianos, entre eles Flor de Jamaica cozida (por cá conhecida como hibisco, que dá também origem à célebre bebida água de Jamaica), e os Nopalitos, feitos com flor de cacto.

Fora os tacos (cinco, à escolha, custam 11€), é obrigatório provar-se a quesadilla, espécie de calzone de farinha de milho branco nixtamalizado e recheio de carne picada, excelente para ir molhando com os picantes. E também o burrito (8€), uma refeição completa, com feijão preto, carnitas, arroz, alface e natas azedas.

Antes do desenlace, ninguém deve ir embora sem o pudim de goiaba e queijo, com assinatura de Sandra, bem como o seu très leches, este um clássico de todos os restaurantes mexicanos, mas que aqui tem um acrescento: “Eu faço, na verdade, um quatro leches”, diz Sandra. Ou seja, para além de usar os leites tradicionais do bolo (leite gordo, leite condensado e leite evaporado), Sandra junta-lhe outra modalidade de lactose, não declarada. O resultado é óptimo, com o bolo molhado e elástico, perfeito para nos despedirmos sem amargos de boca.

Em síntese. Come-se autêntica cozinha mexicana nesta lojinha de Entrecampos. O espaço, sendo fraco, tem a alma e o amor de Sandra, bem como um preço modesto. Espero lá voltar muitas vezes, para me encharcar de lengua e cerveja Negra Modelo, sobretudo em almoços de meio da tarde, que o restaurante, entre quinta e sábado, serve entre as 12.00 e as 22.00, sem interrupções. A questão é: quanto tempo ficará Sandra aqui? Ainda agora abriu e já se percebe que há talento e vontade para outros voos. Que não sejam nem demasiado altos, nem rasantes, mas na medida do seu tacho e do seu carinho.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Av. Álvaro Pais 13
Lisboa
1600-316
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