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Rossio Gastrobar

  • Restaurantes
  • Grande Lisboa
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Gastrobar Rossio
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A Time Out diz

4/5 estrelas

O Altis Avenida aproveitou a expansão do hotel para criar uma nova esplanada lá no alto, com cadeirões confortáveis com vista sobre a praça do Rossio, para o Castelo, Elevador de Santa Justa e o rio lá ao fundo. Fica no sétimo piso e é um gastrobar,  um bar com uma proposta de comidas um bocadinho mais trabalhada, com produtos da estação e maioritariamente portugueses, com a assinatura dos chefs João Rodrigues e João Correia. É tudo para comer sem formalidades e tanto tem croquetes de rabo de boi (quatro unidades, 7€) como katsu sando, com presa ibérica crocante (12€).

Crítica

Tem-se falado muito 
de restaurantes que são experiências. Este Rossio Gastrobar não é uma experiência. O sétimo piso do hotel Avenida ganhou novo fulgor com a convocação do chef João Rodrigues, do estrelado Feitoria, e até tem vista sobre a Praça D. Pedro IV, o Bairro Alto e o castelo; mas o ambiente continua frio, a música é nhónhó e a decoração usa cadeirões com padrões de bolas e colunas de latão — um restaurante que parece um lobby de hotel, tudo o que não deveria parecer.

A questão é que se come muito bem. E isso ainda é o mais importante. Podem contratar arquitectos e VJs, podem pôr bailarinas a servir garrafas de champanhe com foguetório
 e podem transaccionar metanfetaminas no WC, mas quando vou a um restaurante ainda quero sobretudo mastigar, fazer a comida deslocar-se da bochecha para a língua e da língua até à glote, cerrar os olhos e gemer de prazer.

Foi para isto, essencialmente, que os parisienses criaram restaurantes no século XVIII;
 e é para isto, essencialmente, que eu quero um restaurante no século XXI.

Atente-se então para o que se passou na boca num almoço recente.

Primeiros gemidos com
o couvert de pão da padaria Gleba (esse Emplastro bom da restauração lisboeta) acompanhado de um extraordinário azeite, nem excessivamente picante nem chocho, amargos controlados, muito harmonioso.

Segundos gemidos com as falsas cerejas de foie gras e fatias de pão brioche torrado, prato trazido do Feitoria, muito bem executado pelo chef executivo do hotel, João Correia.

Seguiram-se dois gemidos curtos e intensos, um por cada dentada no croquete de boi e mostarda caseira, o melhor que já provei, a carne em bocados sem ser picada.

Urros e mais urros para o tártaro de arouquesa, que é de entre as carnes portuguesas certificadas a que tenho encontrado mais consistente e saborosa, aqui simples, o bicho a brilhar.

A lula com cogumelos
 shitake e manteiga de citrinos, por sua vez, provocou um arrebatamento adulto, um gemer lento, o molusco grelhado e tenro com apresentação bonita, espécie de respiração para o clímax. E que clímax.

O desfecho fez-se com sons guturais de luxúria, banda sonora da presa de porco alentejano com massa de pimentão e alface grelhada, a carne sem gordura enjoativa, bem cortada pelo pimentão.

Quanto às sobremesas, provaram-se duas, uma o chocolate, banana e fava tonka, e a outra o caramelo com banana. Nenhuma delas estava ao nível do resto dos pratos, apesar de virem em bonitas tigelas do ateliê Studioneves.

No final, o balanço é muito positivo. Tudo o que se provou estava entre o bom e o excelente. Algumas coisas, no entanto, reflectem o tempo em que foram inventadas. A designação “falsa”, por exemplo, de “falsa cereja de foies gras”, um dos pratos importados e já abandonados pelo restaurante Feitoria, do mesmo grupo Altis que detém o hotel Avenida, foi moda de restaurantes com pretensões há uns bons anos, mas mesmo quando foi moda era um termo falhado: uma piada não se explica.

De resto, o conceito de Gastrobar, apelido deste Rossio, é ele próprio uma relíquia de quando os restaurantes tinham falsas coisas nas cartas. O termo é reclamado por José Carlos Capel, crítico gastronómico do El País, mas na verdade trata-se de uma transposição do termo inglês gastropub, que terá sido promovido nos anos 1990 pela irmã londrina da revista que tem nas mãos, a Time Out.

Capel assumiria mais tarde que o conceito se tornaria 
lato, acabando por abarcar restaurantes de chef em versão prêt-à-porter, uma espécie de Michelin em saldos, alta cozinha acessível ao povo. Em todo o caso, a ideia original do gastropub, mais fundamentada, punha a tónica no bar, um bar com comida, e esse não é o caso aqui. Mesmo que haja DJs ao fim do dia, (de quinta-feira a sábado), mesas com bancos altos e outras com sofás e mesas baixas, o Rossio tem na cozinha a sua alma e isso não tem mal, só não é um gastrobar, seja lá o que isso for.

Mas pior é o serviço estar uns furos abaixo do exigível. Neste almoço, a carta de vinhos só apareceu depois do couvert e das primeiras entradas estarem na mesa (e de uma terceira chamada de atenção 
à empregada); e um outro empregado reagiu com espanto a uma questão sobre o que levava o tártaro de arouquesa. “Como assim?!”, atirou, como 
se lhe tivessem perguntado sobre os limites do Universo. Veio depois a subchef à sala explicar – muito bem – que não havia nada de extraordinário 
na receita a não ser um vinagrete com um bocadinho de mostarda, cornichons e carne de qualidade.

Em síntese. O Rossio Gastrobar é um sítio onde se come magnificamente, do melhor que se encontra na Baixa, com boas vistas e preços razoáveis, a que se junta uma carta de vinhos bem pensada pelo sommelier do Feitoria, André Figuinha. O almoço rondou os 35 euros por pessoa, num grupo de quatro, com uma garrafa de vinho de 30 euros. Pode-se comer por menos, se
a ideia for só ir ao fim da tarde
e picar qualquer coisa com um copo de vinho.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Hotel Altis Avenida
Rua 1.º de Dezembro, 120
Rossio
Lisboa
1200-360
Preço
25-35€
Horário
Seg-Dom 17.00-01.00
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