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Sangiovese

  • Restaurantes
  • São Sebastião
  • preço 2 de 4
  1. sangiovese
    Arlindo Camacho
  2. sangiovese
    Fotografia: Arlindo CamachoCarpaccio de corvina
  3. Sangiovese
    Fotografia: Arlindo CamachoSangiovese
  4. Sangiovese
    Fotografia: Arlindo CamachoTartare di tonno do Sangiovese
  5. Sangiovese
    Fotografia: Arlindo CamachoSangiovese
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A Time Out diz

Nunca mando comida para trás quando estou em missão, mesmo se os pratos
 são intragáveis. Desta vez, no entanto, vacilei. Veio um cesto de focaccias e quando peguei na primeira tira estava tão
 seca que, para parti-la, tive de 
a torcer. O segundo bocado, 
de uma variedade diferente, revelou-se igualmente duro, o que me fez pensar se não teria havido um engano, se alguém não deixara um couvert do dia anterior na zona de passe. Podia ter acontecido. Um engano. Um mau arranque.

De notar que este Sangiovese foi inaugurado com pompa 
e Ferrari à porta (é ir ver ao Facebook do restaurante), em Junho, nas Avenidas Novas. E teve direito a vasta comunicação na imprensa especializada. Os textos, quase todos laudatórios, referiam a qualidade de tudo, nomeadamente das farinhas que entram nos pães e nas pizzas, umas vindas de Torres Vedras, outras viajadas de Nápoles. O chef executivo era apresentado como alguém com experiência lá fora, incluindo uma passagem pelo Lupa Osteria Romana, em Nova Iorque, de Mario Batali.

Talvez tivesse sido só o couvert. Talvez não.

Ainda eu e o meu amigo estávamos a refazer-nos da focaccia, quando à mesa chegou um amuse bouche, simpatia da casa. Dois cubos de queijo suados e elásticos, ao lado fatias grossas de salumi, bombas de lípidos que nos deixaram sem apetite. Insistimos, e o tartare
di tonno, um dos antipasti di mare, pareceu-nos a melhor coisa para cortar com o passado. “Muito bem escolhido, é a nossa melhor entrada”, regozijou-se o empregado e regozijámo-nos nós.

No regresso, o atum vinha picado à faca, como deve ser (apesar de ter fibras pelo meio), num círculo perfeito e vetusto de aro de cozinha, gema por cima 
e lascas de trufa no topo. “Posso ajudá-los”, predispôs-se o rapaz, munindo-se de duas colheres de sopa. A ideia era envolver
a gema no atum, como se faz frequentemente nos tártaros
 e nas açordas. E era uma boa ideia. Mas a gema não estava liquefeita. Quando a colher bateu na bolinha amarela ela não se mexeu. O empregado voltou a bater-lhe e ela voltou
 a não abanar. Um zoom à sua cara proporcionou uma imagem de grande intensidade cómica e cinematográfica: o sobrolho arregalou-se de perplexidade e terror, enquanto prosseguia a inglória tarefa de picar à colher o ovo empedernido, coisa que não conseguiu.

No prato seguinte, o nível subiu, com o risoto de cogumelos e trufa (sim, gostamos de trufa). Servido numa tigela, estava bem o cereal, do tipo bojudo italiano (arborio, carnaroli), ligado num cremoso não particularmente original ou estimulante.

Por fim, o tão esperado tagliolini fresco com caranguejo. O tagliolini é uma variante do tagliatelle, usando também ovo em vez de água na mistura com 
a farinha, mas de formato mais fino, máximo três milímetros
 de largura. O prato aterrou e proporcionou um “uau” do meu amigo, não sei se irónico. Ao lado da massa estava a carapaça de uma sapateira, qual prova de que estávamos perante a verdadeira coisa e não uma mistela processada tirada do congelador. Prova desnecessária, porquanto a carne da sapateira, em fiapos, estava cheia de estilhaços da casca. Não era um, nem dois, eram muitos estilhaços, ao ponto de passarmos o tempo a cuspi-los para o rebordo do prato. A mais este engano, acresceu a pasta estar ensopada em manteiga e natas, um enjoo que acabou com o sabor do crustáceo.

A terminar, uma panacota
 de menta que não era panacota nenhuma mas um creme líquido servido num copinho (claro), a saber a After Eight. Uma palavra para a carta de vinhos, bastante acima da média, escolhida com critério e a preços muito decentes. Lamenta-
se no entanto que nos tenham querido substituir um espumante Ribeiro Santos Bruto, em falta, por um Blanc de Noirs, sem que nos alertassem para o facto de ser o dobro do preço – e estamos a falar da fasquia dos 40 euros.

De resto, o restaurante está bonito, com a cozinha aberta à entrada, balcão forrado de azulejos, lá dentro mesas de madeira e paredes de tijoleira, ambiente informal mas confortável.

O Sangiovese até parecia
 uma boa ideia. Cozinha italiana rústica, com bons produtos, massas frescas, bons vinhos. Olhando para a carta e para os press releases que as agências de comunicação divulgaram, batia tudo certo. A realidade, contudo, revelou outra coisa. Um engano.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Rua Doutor António Cândido, 14
(São Sebastião)
Lisboa
1050-180
Preço
30 a 40€
Horário
Ter-ex 12.00-15.00, 19.30-23.00, Sáb-Dom 13.00-16.00/19.30-22.00
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