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Sítio de Gente Feliz

  • Restaurantes
  • Oeiras
  • preço 2 de 4
  • 5/5 estrelas
  • Recomendado
  1. Sítio de Gente Feliz
    ©Manuel MansoSítio de Gente Feliz
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A Time Out diz

5/5 estrelas

Alguma gente lamentará 
este texto. “Vai estragar o sítio”, dirão. Eu próprio, suspeito, 
vou lamentar este texto. Mas é assim a vida de um crítico. O crítico não gere agendas, nem interesses pessoais. O crítico vive para o leitor e o leitor desta crónica merece saber de todos os tesouros escondidos na Grande Lisboa.

Vamos ao lugar. Fica em
Vila Fria. Vila Fria é nome de cenário de anúncio a detergente e podia servir o propósito. Está na freguesia de Porto Salvo, sai-se da A5 e são dois minutos de carro. Em tempos, pastaram aqui vaquinhas, mas Lisboa estendeu-se e gentrificou-se
 e as vaquinhas foram sendo empurradas por pessoas à procura de habitação a custos controlados. A paisagem é agora um misto de pequenas moradias e pequenos apartamentos.

Permanecem, ainda assim, resquícios rurais, como é o caso da sede do Grupo Cultural Vila Fria, no cimo da colina, onde se aloja o Sítio de Gente Feliz. A casa faz gala de não se chamar restaurante, conceito muito pós-moderno e em voga que aqui assenta na perfeição.

Entramos pela esplanada, onde há mesas compridas e ao fundo um pequeno palco para festas populares. Recebe-nos Miguel Gonçalves de avental, dono, cozinheiro, membro 
de um staff de dois. É um avental liso, como um avental doméstico, sem o nome inscrito nem bordados. É um avental de cozinheiro domiciliário.

A porta da esplanada dá para a cozinha, separada da sala apenas por um balcão largo e aberto, onde pousam jarras de picles de chiles. “Entre, entre, é mesmo por aqui”, convida-nos Miguel, homem grisalho de meia idade, ar de bon vivant foragido de uma carreira, ex-proprietário de outro restaurante do concelho de Oeiras, o Cozinha 16.


Cá dentro só há duas mesas compridas, doze lugares,
 mais meia-dúzia ao balcão.
 Nas paredes tachos de ferro, facas, molduras e quadros pós-modernos com Anthony Bourdain — figura tutelar num espaço que mistura decoração de associação recreativa com pozinhos de trendy. Do tecto alto pendem lâmpadas dentro de garrafões, meros adornos numa sala cheia de luz.

Não se servem jantares, só almoços e só aos dias de semana. Apesar disso, a visita só vale
 a pena se não houver reunião 
no escritório às 15.00. O menu está só na cabeça de Miguel Gonçalves e dela só sai para a mesa, mas há sempre muita proteína animal, muito enchido, muito queijo.

Estamos em modo de cozinha sem balança, cozinha intuitiva de tacho e de forno e também de frigideira. As entradas repetem-se, o resto muda de dia para dia. Começa-se com um paio do lombo — de porco preto, parece-me —, mais queijo de ovelha de meia cura. Num pratinho 
ao lado, azeite e balsâmico e pedrinhas de sal para ensopar no pão, bolinhas saloias que podiam ser mais saloias.

Logo chega outra das entradas recorrentes, os pimentos de Padrón, acompanhados de uma minifrigideira de morcela de arroz. A morcela de arroz está cheia de detalhes sublimes. Cortada às rodelas, um dos lados foi caramelizado na frigideira até ficar crocante, e por cima tem aros de cebola em vinagre e folhas de coentros, boas para perfumar e trincar. O vinagre da cebola está também na base da frigideira e é genial. Foi assim para mim, mas há espaço para o improviso: na mesa ao lado trocou os coentros por hortelã.

O estado de espírito mantém-se, apesar da casa cheia. São 14.00, almoçam umas 25 pessoas, aos fogões só Miguel. O ambiente é o da cozinha de amigo, com pessoas a aparecerem-lhe pelas costas, a abraçá-lo, enquanto ele salteia os ovos com míscaros. Serão míscaros de produção, ainda não os há selvagens, ou então são congelados, mas importa é que sabem bem, servidos como um misto de revuelto e huevos rotos, a batata frita de palito ao lado.

Nisto, conseguimos ver um alguidar de carne escura. “É uma carne especial”, diz Miguel. “É carne de touro, mas vendem-na como vitela.” E ficamos
 por aqui. Vem em tiras, com o centro rosado, bem passado não é opção.

Por esta altura, já chega de comida, mas não param de nos servir. A feijoada remata o festim. Na verdade não é uma feijoada clássica, antes um híbrido sem grande refogado. Se lhe chamassem cozido no tacho também não estava mal. À parte, surge um arroz de enchidos.

Noutros dias tudo muda. 
Pode ser entrecosto ou pernil 
ou coelho assados no forno, favas com entrecosto, podem 
ser batatas bravas, polvo com batata cozida e coentros, lulas na frigideira — a comida que Miguel gosta de cozinhar em casa.

As sobremesas não serão o forte, mas o bolo fofo de chocolate não amarga um almoço extraordinário.

No final, a conta é sempre 
a mesma. Vinte euros, vinho incluído ou chá ou água, não interessa a quantidade. O preço prova que é possível fazer-se comida boa – muita –, sem se pedirem exorbitâncias. Miguel gere bem o produto, não vai aos premium mas selecciona com critério — o mesmo, aliás, que fazem outras casas com outra reputação e o dobro da factura.

Vão lá, mas vão com respeito. Como em qualquer casa, há regras. Aqui, estão à vista de todos, num placard para toda a gente ler. “Não temos palitos, não temos multibanco, não temos mesmo pressa”. Boa sorte ao Miguel. Que a popularidade não lhe faça mudar os estatutos.

*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.

Alfredo Lacerda
Escrito por
Alfredo Lacerda

Detalhes

Endereço
Grupo Cultural de Vila Fria
Rua Carlos Paião, 23
Lisboa
2740-028
Preço
20€
Horário
Seg-Sex 12.00-17.00
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