Passava das 19.30 e na cozinha aberta não se via ninguém. O pão de hipermercado chegou primeiro do que o chef, que apareceu minutos depois sem grande pressa, vestiu uma jaleca cheia de sainete e pôs-se ao telemóvel.
Era uma quinta-feira à noite, no restaurante só eu e um amigo desafortunado. Provavelmente, demos conta disto porque nada de relevante nos distraía à mesa e nada de interessante parecia sair dali. Para se ter uma ideia, na carta, logo a seguir ao couvert, vinha um “estaladiço de alheira com compota de maçã e salada verde”. Quase regurgitei.
Pedi ajuda à empregada e a empregada sugeriu as “bolas de queijo de ovelha amanteigado panado com avelã, chutney de framboesas e cebola roxa” (6,5€). Apesar do fraseado parecer Proust, faltou um pormenor importante. É que as bolas não eram panadas com avelã (trocada aliás, por amêndoas laminadas) mas sim com sementes de sésamo, o que não abonou, tal como também não abonou o queijo amanteigado estar borrachoso.
Melhor a segunda dica. Os camarões (7,5€), também panados, com maionese de açafrão e lima, comiam-se bem, meia dúzia de bichos fritos com o polme grossinho. Faltou referir a saladinha que usava do truque de ser alface de pacote e muita e servir sobretudo para cobrir o prato.
Vamos aos principais. Primeiro uma criação “afamada” do chef Igor Martinho. O “bacalhau lascado com puré de grão, grelos salteados e amêndoas torradas” (14,50€) veio numa tigela grande bem cheia de puré de grão inexpressivo, no topo as lascas inexpressivas do peixe, a amêndoa por torrar, grelos nem vê-los. O prato de carne foi “lombinho de porco com crosta de ervas, ameixa salteada, legumes e puré de espinafres” (16€). Mais uma vez houve elipses: nada que se parecesse com crosta do que quer que seja, os legumes eram tiras de cenoura; boa todavia a carne adocicada pelas ameixas e o puré de espinafres, também conhecido por esparregado.
Sobremesa, que se faz tarde. “Têm de provar a mousse”, ameaçaram-nos. A mousse (3,5€) tinha as omnipresentes lâminas industriais de amêndoas por torrar e estava composta numa espiral escatológica.
Este restaurante by Igor Martinho, para os lados da Bolsa, onde antes era o Carnalentejana, é pretensioso mas não está à altura do preço a pagar, 30 euros por cabeça, só com um copo de vinho. Precisávamos de mais. Vinho.
*As críticas da Time Out dizem respeito a uma ou mais visitas feitas pelos críticos da revista, de forma anónima, à data de publicação em papel. Não nos responsabilizamos nem actualizamos informações relativas a alterações de chef, carta ou espaço. Foi assim que aconteceu.