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Solar do Kadete

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  1. Solar do Kadete
    Francisco Romão Pereira
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    Francisco Romão Pereira
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A Time Out diz

3/5 estrelas

Em dia de ressaca, José Margarido atirou-se a um peixe de aquário. E concluiu que uma boa grelha faz milagres.

A forma mais fácil de topar um robalo é pela coluna central do bicho – se for escura, provavelmente é de aquário; a forma mais eficiente é pela coluna direita da ementa – se disser 10 euros, certamente não é de mar. Discuto isto com a minha amiga à mesa do Solar do Kadete, restaurante ali no Cais do Sodré, enquanto lamentamos a dificuldade de matar saudades de peixe grelhado nesta cidade. Lisboa, concordamos, mantém esta estranha relação com o mar: a água é já ali, mas são raros os sítios de peixe fresco, descomplicado e a preços honestos. E isso deixa-nos escamados.

Voltemos aos robalos. No menu há um exemplar a 30 euros e outro a um terço do preço. O primeiro serve dois e pode ser escalado, o segundo alimenta um e deve ter feito escala. O mais certo, comento, é vir da Grécia, maior produtor mundial da espécie, o que significa que o pobre animal ficaria mais perto de casa se acabasse numa grelha em Teerão. 

Pedir robalo num restaurante em Lisboa é, por princípio, uma decisão parva. Mas pela boca morre o peixe e eu hoje estou de ressaca. Um lombo branquinho, meio adocicado e sem irregularidades de sabor, da cabeça ao rabo, é receita infalível para a minha carência de açúcar (e é, já agora, a melhor forma de topar um robalo engordado a farinha). 

O peixe chega no ponto, lourinho, braseado, intocado pelo fogo. E eis aqui o maior elogio que faço ao Kadete: a grelha é de um esmero inatacável, razão bastante para fazer a casa figurar numa lista de bons sítios para comer peixe, numa cidade onde a expressão “grelhado no carvão” tende a ser levada demasiado à letra. Nas minhas últimas incursões, comprovei esta arte numas sardinhas impecáveis (12€), numas fresquíssimas ovas de pescada (15€) e nuns chocos razoáveis (12€). A regra confirma-se na bela posta fechada de peixe espada (14€) que a minha amiga pediu hoje. 

Sobram-me ainda dois ou três piropos: para os salgadinhos em miniatura de entrada (chamuças, croquetes e pastéis), para o serviço atento e tranquilo, para o vinho branco da casa, que vem de Setúbal, e para a sala desafogada. Cá dentro, num almoço de finais de Setembro, só se ouvem portugueses e sobram muitas cadeiras numa sala que acomoda uns 40. Lá fora, a esplanada para 60 está à pinha, o inglês é língua franca e a sardinha é quem mais ordena.    

De resto, direi que feijão verde é um erro de casting como actor coadjuvante de um peixe grelhado e que as sobremesas são caseiras sem deixar saudades da casa. Da restante carta, confesso, pouco sei. Há sempre oferta de carne a passar pelas brasas (lagartinhos, febrinhas, entrecosto ou coelho desossado) e um borrego assado que se apresenta como especialidade da casa e a quem prometi uma visita (tudo em doses entre os 10€ e os 15€). Continuo a vir pelo peixe, que recantos destes não abundam por aí. É que em Lisboa uma pessoa vê-se grega para comer um robalo. 

José Margarido
Escrito por
José Margarido

Detalhes

Endereço
Avenida Ribeira das Naus, 2
Lisboa
1200-130
Horário
10.00-00.00
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